1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Operação degelo

sv25 de setembro de 2002

Passada a eleição, a Alemanha procura quebrar o gelo de suas relações com os EUA. A distância entre Rumsfeld e Struck em Varsóvia provou que a tarefa de reatar os laços entre os dois países ainda pode levar tempo.

https://p.dw.com/p/2hTi
Struck (esq.) em Varsóvia: a Alemanha não está sozinhaFoto: DPA

"Ninguém deveria nutrir ilusões ou cometer o erro de achar que agora, passadas as eleições, tudo iria voltar a ser como antes", declarou um ofendido Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca na última terça-feira (24). Está mais que claro que o governo norte-americano ainda não desculpou os "escorregões" dados por Berlim, nas palavras de Fleischer.

O encontro dos ministros da Defesa da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em Varsóvia, chegou ao fim com um balanço de relações não muito amistosas entre os antigos aliados. O secretário de Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, deixou um jantar de ministros reunidos na capital polonesa, na noite da última terça-feira, antes que seu colega alemão de pasta, Peter Struck, começasse a falar.

Muita pólvora -

Questionado por jornalistas se tinha feito isso propositalmene, Rumsfeld reagiu com ironia: "Há um provérbio americano: quem está sentado no buraco, tem que parar de cavar." A Struck não sobrou outra alternativa a não ser "a compreensão": "Posso entender que, no momento, ele não tenha visto a possibilidade de uma conversa com a Alemanha. Para isso, a poeira ainda tem que baixar", afirmou o ministro.

Enquanto isso, Berlim tenta por vários caminhos reatar seus laços com Washington. Inclui-se aí a visita de Schröder ao premiê britânico Tony Blair – que assumiu o posto de mediador entre Washington e Berlim – e as recentes declarações de Joschka Fischer ao New York Times, reafirmando a gratidão da Alemanha pelo papel desempenhado pelos EUA durante e após a Segunda Guerra Mundial. Sem contar a disposição da Alemanha em liderar, ao lado da Holanda, as tropas da OTAN no Afeganistão. De uma forma ou de outra, um agrado aqui e outro ali a Washington.

Sem rodeios -

Elogio vai, elogio vem, a questão crucial continua, no entanto, sendo a postura alemã frente a um provável ataque norte-americano ao Iraque. "Decisiva é uma aproximação de opiniões na questão envolvendo o Iraque. Outros assuntos são de menor importância", analisa Bernhard May, especialista em política norte-americana da Sociedade Alemã para Política Externa.

"Seria provar desconhecimento de causa acreditar que seria possível acalmar Bush através de concessões em questões paralelas. A solução seria uma posição européia comum, a ser debatida com os EUA e com a ONU", completa May.

Logo, não se vê até agora nenhum sinal definitivo de Berlim, capaz de reverter o quadro frente a Washington. Ao contrário, Struck saiu de Varsóvia computando pontos a seu favor. Segundo ele, muitos aliados da OTAN pensam como a Alemanha, embora mantenham uma posição discreta.

"Nós salientamos que trata-se principalmente de forçar Saddam Hussein a permitir a entrada dos inspetores da ONU sem quaisquer exigências, para que se possa verificar se ele dispõe de condições para a produção de armas capazes de destruir em massa", repetiu mais uma vez o ministro alemão após o encontro de Varsóvia.

Aliança dividida -

Apoio concreto para seus planos em relação ao Iraque, os EUA não conseguiram na capital polonesa. "A OTAN não é uma aliança anti-Iraque" esclareceu abertamente George Robertson, secretário-geral da organização. O encontro, no entanto, não trouxe qualquer espécie de consenso. Acima de tudo, o Reino Unido continua insistindo no apoio aos EUA, como provou o dossiê apresentado por Tony Blair.

A Polônia não descartou a possibilidade de uma intervenção militar e o ministro da Defesa espanhol mostrou-se impressionado com as declarações norte-americanas. A aliança, como se vê, continua dividida.

Acredita-se que uma solução, qualquer que seja ela, deva ser encontrada no mais tardar até a conferência da OTAN em Praga, que acontece em dois meses. Até lá, Schröder e Fischer terão a árdua tarefa pela frente de reatar as boas relações com o governo norte-americano, que, diga-se de passagem, nem enviou cumprimentos diplomáticos a Schröder pela vitória nas eleições.

Para degelar o trâmite transatlântico, Fischer deve seguir em breve para os EUA. Segundo seu porta-voz, Walter Lindner, dados concretos da viagem ainda não foram definidos. A necessidade da visita, no entanto, está mais que evidente.