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OMS interrompe testes com hidroxicloroquina contra covid-19

17 de junho de 2020

Entidade anuncia fim dos experimentos com a droga após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes. EUA também revogaram autorização para uso, enquanto Brasil vem ampliando orientação.

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Cartela de remédio em uma mão
Estudo Solidarity é patrocinado pela OMS e realizado em mais de 400 hospitais em dezenas de países do mundoFoto: AFP/G. Julien

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta quarta-feira (17/06) que decidiu interromper os experimentos com hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.

A decisão da OMS diz respeito aos ensaios clínicos do estudo Solidarity, patrocinado pela entidade internacional e realizado em mais de 400 hospitais em dezenas de países do mundo em busca de possíveis tratamentos.

Em coletiva de imprensa, a médica Ana Maria Henao Restrepo, do programa de emergência em saúde da OMS, disse que a decisão se baseou em evidências encontradas nos próprios experimentos Solidarity e também no ensaio clínico Recovery, realizado no Reino Unido.

"As evidências desses grandes estudos sugerem que a hidroxicloroquina, quando comparada com o padrão de tratamento em pacientes hospitalizados, não resulta na redução da mortalidade desses pacientes", afirmou. "Com base nessa análise e na revisão das evidências publicadas, foi decidido que o braço da hidroxicloroquina será interrompido no estudo Solidarity."

A conclusão é do Comitê Executivo da OMS, do Comitê de Segurança e Monitoramento de Dados do Solidarity e dos principais pesquisadores do programa.

Em maio, a OMS já tinha suspendido os testes com hidroxicloroquina a fim de avaliar a segurança da droga, após um estudo publicado na prestigiada revista científica The Lancet alertar sobre um aumento na mortalidade de pacientes tratados com o fármaco.

Os testes acabaram sendo retomados em 3 de junho, após os autores do artigo pedirem a retratação do material. À época, a OMS fez questão de destacar que não havia qualquer evidência sobre a eficácia da droga em pacientes com a doença.

Coincidindo com a retomada dos experimentos, os estudos Recovery, realizados pela Universidade de Oxford, concluíram que o tratamento com hidroxicloroquina não havia reportado benefícios aos pacientes estudados, o que aumentou a confusão a respeito do assunto.

O fim definitivo dos testes clínicos anunciado agora pela OMS ocorre dois dias depois de uma medida semelhante ter sido tomada pelos Estados Unidos, um dos países que mais tinha apostado no medicamento, ao lado do Brasil.

Na segunda-feira, a Food and Drug Administration (FDA), agência do governo americano que regulamenta o uso de medicamentos no país, revogou sua autorização para o uso emergencial da cloroquina e de seu derivado hidroxicloroquina no tratamento da covid-19.

Com base em novas evidências, a FDA afirmou não ser mais "razoável" acreditar que os medicamentos podem ser eficazes contra a doença causada pelo novo coronavírus. "Também não é razoável acreditar que os benefícios conhecidos e potenciais desses produtos superem seu risco conhecido e potencial", afirmou Denise Hinton, cientista-chefe da agência.

Em março, o presidente Donald Trump afirmou, sem apresentar evidências, que a hidroxicloroquina, quando usada em combinação com o antibiótico azitromicina, tinha "uma chance real de ser um dos maiores divisores de água da história da medicina".

Posteriormente, Trump disse que estava tomando o medicamento preventivamente após dois funcionários da Casa Branca serem diagnosticados com covid-19.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também vem defendendo insistentemente o uso da droga contra a covid-19. Discórdias sobre o uso do medicamento teriam levado à demissão dos ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich em menos de um mês.

Após a saída de Teich, o governo mudou o protocolo sobre a droga e ampliou a possibilidade de seu uso em pacientes diagnosticados com o novo coronavírus. Na última segunda-feira, o Ministério da Saúde passou a orientar também a aplicação precoce do fármaco em crianças e grávidas infectadas.

Os EUA forneceram 2 milhões de doses do medicamento ao Brasil no mês passado, e nesta semana disseram que, apesar de a FDA ter vetado o uso emergencial da droga em seu território, continuarão enviando hidroxicloroquina ao país sul-americano.

As diretrizes atuais do governo americano não recomendam o uso de medicamentos antimaláricos contra a covid-19 fora do âmbito de ensaios clínicos. Em maio, a França, a Itália e a Bélgica proibiram o uso da hidroxicloroquina em pacientes com covid-19.

A cloroquina e a hidroxicloroquina são substâncias usadas no tratamento de malária e das doenças autoimunes lúpus e artrite reumatoide.

EK/afp/efe/rtr/ots

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