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O Paquistão está secando

Shah Meer Baloch av
8 de junho de 2018

Até 2025 país sul-asiático pode enfrentar falta total de recursos hídricos. Os motivos são múltiplos: da mudança climática e má gestão a armazenamento deficiente, desperdício pela população e falta de vontade política.

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Em vez de encanamentos, água escassa é transportada em sacos tradicionais
Em vez de encanamentos, água escassa é transportada em sacos tradicionaisFoto: DW/R. Saeed

De acordo com uma análise recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Paquistão ocupa o terceiro lugar entre os países que mais sofrem escassez aguda de água. Relatórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Conselho Paquistanês de Pesquisa de Recursos Hídricos (PCRWR) também advertem as autoridades que o país alcançará carência total em 2025.

"Nenhuma pessoa do Paquistão, seja do Norte com suas mais de 5 mil geleiras, ou do sul com seus 'superdesertos', estará imune a isso", alerta Neil Buhne, coordenador humanitário da ONU para a nação sul-asiática.

Cientistas predizem que até 2040 ela será a mais carente região em termos de recursos hídricos. Não é a primeira vez que organizações de desenvolvimento e pesquisa alertam as autoridades nacionais sobre uma crise iminente, a qual, segundo certos analistas, representaria para o país um perigo maior do que o terrorismo.

Em 2016, o PCRWR informou que em 1990 o Paquistão tocara a "linha de estresse hídrico", e que 15 anos depois cruzara a "linha de escassez". Caso esse estado persista, é provável que no futuro próximo os paquistaneses enfrentem falta d'água aguda, ou uma situação de quase seca, advertiu o conselho filiado ao Ministério paquistanês de Ciência e Tecnologia.

O Paquistão tem o quarto nível mais alto de consumo d'água do mundo. Sua taxa de intensidade hídrica – o volume d'água, em metros cúbicos, usado por cada unidade do Produto Interno Bruto – é a mais elevada. Isso indica que nenhuma outra economia do planeta emprega o recurso de forma tão intensiva.

Ondas de calor se tornam cada vez mais frequentes e fatais
Ondas de calor se tornam cada vez mais frequentes e fataisFoto: Reuters/A. Soomro

A maior parte da terra cultivada do país é irrigada por um sistema de canais, cuja água, segundo o FMI, tem preço demasiadamente baixo: repõe apenas um quarto dos custos anuais de operação e manutenção. Ao mesmo tempo, a agricultura, que consome quase toda a água superficial disponível, é basicamente livre de tributação.

Especialistas apontam que o crescimento demográfico e a urbanização são os principais fatores por trás da crise. O problema foi exacerbado pela mudança climática global, má gestão hídrica e falta de vontade política para lidar com a crise. E o pior: os suprimentos de água subterrânea, a última reserva a que se recorre, estão sendo rapidamente esgotados.

Qazi Talhat, secretário do Ministério de Recursos Hídricos, diz que a situação é "assustadora" para o país. A escassez, segundo ele, está desencadeando também conflitos de segurança. O impacto da crise é imenso, com o povo lutando pelas reservas.

O estado de carência tem sido também acompanhado por temperaturas crescentes. Em maio, pelo menos 65 cidadãos morreram de insolação na cidade de Karachi, no sul paquistanês; em 2015, cerca de 1.200 sucumbiram a uma onda de calor extremo.

Mian Ahmed Naeem Salik, ambientalista e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos da capital, Islamabad, atribui as temperaturas excessivas e as secas à mudança climática.

"A estação das monções ficou errática, nos últimos anos. O inverno diminuiu de quatro para dois meses, em muitas partes do país. Além disso, o Paquistão não tem como armazenar a água das inundações, devido a uma falta de represas" explica Salik. "Na fundação do Paquistão, em 1947, as florestas perfaziam cerca de 5% da área nacional, agora caíram para apenas 2%. O país precisa investir na construção de reservatórios e plantar mais árvores."

Carência d'água já começa a causar problemas de segurança no Paquistão
Carência d'água já começa a causar problemas de segurança no PaquistãoFoto: picture-alliance/Anadolu Agency/M. Asad

As barragens Tarbela e Mangla alcançaram o nível "morto" no início de junho, segundo a mídia paquistanesa. A notícia desencadeou nas redes sociais um debate sobre a inação das atividades diante da crise.

"Só temos dois grandes reservatórios, e só podemos armazenar água para 30 dias. A Índia tem como guardar para 190 dias, enquanto os Estados Unidos têm capacidade para 900", explicou o porta-voz da Autoridade do Sistema do Rio Indus (IRSA).

Além da questão do armazenamento, especialistas apontam o desperdício de água como outro grande problema no país, com a má gestão ocorrendo em diversos níveis. À medida que a crise piora no Paquistão, diplomatas estrangeiros e ativistas recorrem à mídia social, urgindo a população a poupar água.

Martin Kobler, embaixador da Alemanha no Paquistão, escreveu no Twitter: "Usando um balde para economizar água enquanto lavo meu carro! Paquistão é o terceiro entre os países enfrentando falta d'água. Uma razão importante é o uso excessivo. Cem litros desperdiçados lavando o carro com água corrente. Muitas maneiras de poupar água em nossa vida diária! #SaveWaterforPak."

Em abril, o ex-primeiro-ministro Shahid Khaqan Abbasi anunciou a primeira Política Nacional para Água do Paquistão, prometendo esforços coordenados para debelar a crise. Entretanto os especialistas estão céticos sobre como as autoridades lidarão com a situação: o país realiza eleições gerais em 25 de junho, e a crise da água não é prioridade, nem para o atual governo interino, nem para os partidos políticos concorrentes.

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