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O drama do "Aquarius" e os populistas na Itália

11 de junho de 2018

Novo governo italiano se recusa a receber barco com mais de 600 migrantes resgatados no Mediterrâneo e gera fortes críticas da UE e da ONU. Espanha resolve impasse, mas há um sinal claro do que está por vir de Roma.

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O navio Aquarius, que resgatou 629 pessoas de embarcações no Mediterrâneo, teve acesso negado aos portos italianos
O Aquarius, que resgatou 629 pessoas de embarcações no Mediterrâneo, teve acesso negado aos portos italianosFoto: Reuters/T. Gentile

Um drama envolvendo uma embarcação com 629 imigrantes em condições vulneráveis expôs a forma como o novo governo da Itália deverá tratar a questão da imigração e do grande número de refugiados que chegam ao país através das perigosas travessias do Mediterrâneo.

Ao tomar conhecimento de que um navio de resgate que recolheu migrantes de embarcações precárias em alto mar se encaminhava para a costa do país, o Ministério italiano dos Transportes ordenou nesta segunda-feira (11/06) o fechamento dos portos do país à embarcação.

A questão da imigração é controversa na Itália, país que recebeu a maior parte do fluxo migratório para a Europa através do norte da África. O tema se tornou um ponto central no debate político durante a campanha eleitoral no país no início do ano.

A insatisfação com o que muitos no país entendem como uma injustiça contra a Itália, que tem sido obrigada a lidar com o fluxo migratório com ajuda considerada insuficiente dos demais países da União Europeia (UE), impulsionou o crescimento do partido populista e eurocético Movimento Cinco Estrelas (M5S) – a legenda mais votada nas eleições no dia 4 de março – e da ultradireitista Liga (Ex-Liga do Norte).

Após meses de um impasse político gerado pelo resultado das eleições, que não conseguiram produzir um vencedor claro, a Liga e o M5S formaram uma coalizão governista, apesar de defenderem ideais opostos em diversas questões.

O jurista e professor universitário Giuseppe Conte foi escolhido como o novo primeiro-ministro após uma série de negociações entre as duas partes e o presidente italiano, Sergio Mattarella. Na última quarta-feira, o novo governo foi aprovado pela Câmara dos Deputados, após de receber a aprovação no Senado no dia anterior.

Em discurso aos deputados, Conte disse que seu governo iria "defender os imigrantes que estão regularmente" no país e acelerar a análise dos de pedidos de refúgio. Ele não mencionou a expulsões em massa que haviam sido prometidas por seus colegas da Liga.

O líder da Liga e novo Ministro do Interior, Matteo Salvini, que havia prometido durante a campanha eleitoral expulsar 600 mil migrantes ilegais do país, proibiu que o navio "Aquarius" da organização SOS Mediterranee aportasse no país. O barco levava 123 menores acompanhados, 11 crianças e sete mulheres grávidas entre os 629 passageiros.

Salvini afirmou que a embarcação deveria se dirigir a Malta, mas o governo local também se recusou a acolher os migrantes, afirmado se tratar de um problema da Itália. A Comissão Europeia e o Alto Comissariado da Onu para os Refugiados (Acnur) pediram sem sucesso que os dois países agissem para que uma tragédia fosse evitada.

O órgão executivo da UE lembrou que as leis internacionais são bastante claras sobre a questão da imigração e ressaltou que o "dever de cooperação" de todos os países envolvidos.

"Salvar vidas no mar é um dever, mas transformar a Itália em um enorme campo de refugiados não é", afirmou Salvini. "A Itália cansou de abaixar a cabeça e obedecer. Dessa vez há alguém dizendo 'não'", afirmou.

Pedido de ajuda à Otan

"Não é um ato desumano", disse o ministro dos Transportes, Danilo Toninelli, responsável pela Guarda Costeira e pelos portos do país. "Trata-se de senso comum [...] Pedimos que todos os europeus assumam a responsabilidade por um tema tão delicado e importante como a imigração."

Entretanto, prefeitos de diversas cidades no sul do país, como Palermo, Messina e Nápoles, desafiaram a ordem do governo e anunciaram que estariam dispostos a receber os migrantes do Aquarius. O prefeito de Palermo, Leoluca Orlando, acusou Salvini de "violar as leis internacionais que estabelecem que salvar vidas é prioridade".

O novo governo italiano pediu que a Otan ajude o país a lidar com a imigração ilegal do norte da África, especialmente da Líbia. "Não é possível não termos uma cooperação próxima entre a Otan e a UE no Mediterrâneo e em outras partes", disse Conte, após se reunir com o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg.

"Estamos sob ataque e pedimos à Otan uma aliança de defesa para nos proteger", afirmou Salvini. "A Itália está sendo atacada a partir do sul, e não do leste", disse, se referindo ao norte africano.

O ministro italiano do Exterior, Enzo Moavero Milanesi, reforçou o que chamou de "importância para a Itália da cúpula da Otan em Bruxelas para reafirmar a abordagem de uma política de segurança de 360 graus sem negligenciar a frente sul, de onde emergem graves desafios á aliança, a começar pelo terrorismo".

O drama dos migrantes a bordo do Aquarius parece ter chegado ao fim após a Espanha se prontificar a receber o navio e acolher os refugiados no porto de Valencia.

Porém, ainda não estava claro se a viagem até a cidade na costa espanhola seria viável, uma vez que a embarcação se encontrava a 1,4 mil quilômetros de distância. Barcelona também se colocou à disposição para receber os refugiados.

Itália e Malta se apressaram em agradecer o novo primeiro-ministro da Espanha, o socialista Pedro Sanches, por aceitar receber o navio de resgate e acolher os migrantes. Em comunicado, o governo espanhol disse que a atitude visa "evitar uma catástrofe humanitária e oferecer um porto seguro a essas pessoas".

RC/rtr/ap/afp/dpa

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