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O Brasil na imprensa alemã (05/10)

5 de outubro de 2022

Avanço do bolsonarismo, alta abstenção no primeiro turno e violência política no Brasil são tema em jornais da Alemanha.

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Jair Bolsonaro
"O espanto sobre o forte resultado de Bolsonaro está relacionado com uma falta de compreensão sobre o bolsonarismo", escreveu jornal alemãoFoto: EVARISTO SA/AFP/Getty Images

die tageszeitung: [Opinião] Perigosamente subestimado (04/10)

Quais hinos à decadência não foram entoados para o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro? Sua política de dar de ombros à covid, a exploração desenfreada da Amazônia, o tom grosseiro – esse homem vai perder de lavada! Depois da eleição, o Brasil sabe agora principalmente uma coisa: o bolsonarismo é forte e vivo. Apesar de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter recebido 6 milhões de votos a mais do que o presidente de extrema direita, Bolsonaro se saiu bem melhor do que as pesquisas previam – de modo semelhante do que aconteceu com Donald Trump antes de sua eleição.

O espanto sobre o forte resultado de Bolsonaro está relacionado com uma falta de compreensão sobre o bolsonarismo. É uma nova forma de radicalismo de direita. O presidente realmente conseguiu agrupar à sua volta um movimento de massa – e não somente nas redes sociais. A veneração por ele tem quase ares religiosos e sua ida ao segundo turno é, principalmente, o sucesso de sua base radicalizada. As manifestações de bolsonaristas foram frequentemente minimizadas como comícios de alguns poucos lunáticos, e até ridicularizadas. Um erro perigoso. A esquerda não conseguiu levar às ruas nem de longe um movimento tão contínuo.

[...] Para a direita brasileira nunca se tratou somente de eleger um presidente. O objetivo é provocar uma mudança duradora na sociedade. Às vezes, ela foi assustadoramente bem-sucedida. E é um erro olhar apenas para o nível federal. Na eleição de domingo, candidatos próximos a Bolsonaro tiveram grande sucesso em nível local. Eles pensam e agem exatamente como o presidente. Evangélicos fiéis à Bíblia, militares anticomunistas e ex-policiais que ostentam armas vão continuar a influenciar a política brasileira de acordo com seus princípios reacionários.

Para a democracia – e até para um possível presidente Lula – isso não é uma notícia boa. E mesmo que muitos não queiram admitir, o bolsonarismo veio para ficar.

Süddeutsche Zeitung: Mais quatro semanas de tremedeira (04/10)

É um sucesso com um gosto amargo: Luiz Inácio Lula da Silva obteve cerca de 48% dos votos nas eleições de domingo no Brasil. Surpreendentemente, o candidato do PT ficou apenas um pouco à frente de seu rival de direita, o atual presidente Jair Bolsonaro.

[...] O resultado de domingo significa mais semanas de temor para a maior democracia da América do Sul. As eleições são consideradas as mais importantes da história recente do país.

[...] Nas últimas semanas e meses antes da eleição, houve vários confrontos violentos. Em meados de julho, um bolsonarista matou em Foz do Iguaçu um filiado ao partido de Lula. Em setembro, um homem morreu após uma discussão entre dois colegas de trabalho sobre política.

[...] O Brasil é o quinto maior país do mundo. Um total de 156 milhões de eleitores estavam aptos a votar, não somente para presidente, mas também senador, governador e deputados federal e estadual. Apesar da obrigatoriedade do voto e da dimensão histórica da votação, cerca de 32 milhões deixaram de ir às urnas, ou seja, um quinto dos eleitores. É a mais alta taxa de abstenção eleitoral desde 1998.

[...] Principalmente Bolsonaro ganhou um tempo valioso: graças aos amplos benefícios pagos pelo seu governo, a situação econômica no Brasil melhorou nas últimas semanas. Essa tendência deve ser manter e pode ajudar Bolsonaro a conquistar eleitores.

Nas próximas semanas, ambos os candidatos vão tentar convencer os eleitores dos demais candidatos derrotados. Uma coisa é certa, quem quer que ganhe no final: o Brasil está diante de tempos difíceis.

Frankfurter Allgemeine Zeitung: A vitória de Bolsonaro na derrota (04/10)

Houve apenas um breve momento de júbilo. Pouco depois das 20h na noite de domingo, com 70% das urnas apuradas. O candidato de esquerda e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ultrapassou o presidente de direita Jair Bolsonaro. [...] Para muitos ficou claro nesse momento que Lula não ganharia no primeiro turno. E que o resultado era tudo menos um sucesso.

[...] A perplexidade se espalhou na noite de domingo, não só entre apoiadores de Lula, mas também entre muitos jornalistas e observadores. Como as confiáveis pesquisas erraram tanto? Analistas atribuem o erro ao grande número de eleitores "envergonhados" de Bolsonaro, que não revelaram sua preferência nas pesquisas ou evitaram participar delas.

[...] Nunca um segundo colocado no primeiro turno conseguiu reverter esse resultado no segundo. Lula deve herdar a maioria dos mais de 8 milhões de votos dos terceiro e quarto colocados. Mais importante, porém, dever ser mobilizar os não votantes. Apesar da obrigatoriedade do voto, cerca de 30 milhões de eleitores, mais de 20%, não compareceram às urnas – a menor taxa de participação eleitoral em 24 anos.

[...] As eleições para governador e parlamentares nos vários estados mostram que, apesar da colocação no pleito presidencial, Bolsonaro fortaleceu seu entorno político. Praticamente todos os ex-ministros de Bolsonaro que concorreram foram eleitos.

[...] A eleição confirma também o que se tornou visível nos últimos anos: os brasileiros são conservadores na hora de votar. Bolsonaro construiu uma base leal ao defender valores como a família tradicional e ao se apresentar como um defensor da nação contra uma extrema esquerda, que, na sua opinião, ameaçaria a liberdade e a economia.

[...] Bolsonaro, no entanto, ainda é confrontado com uma forte rejeição – maior do que a de Lula, e que poderia significar sua ruína no segundo turno. A falta de empatia de Bolsonaro durante a pandemia e seu caráter agressivo assustam muitos eleitores, principalmente mulheres. Ele colhe também críticas pelos ataques contra instituições democráticas.

[...] Pode-se presumir que, tendo em vista o segundo turno, tanto Bolsonaro como Lula devem se orientar mais ao centro. [...] No entanto, a campanha eleitoral nas próximas quatro semanas deve ser mais obstinada e agressiva do que até agora e dividir o país ainda mais. As últimas semanas já mostraram o quão os nervos dos eleitores estão à flor da pele, com confrontos violentos entre eleitores se tornando mais frequentes.

cn/lf (ots)