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"Número de mortos cresce a cada dia", diz prefeito de Bucha

Lilia Rzheutska
7 de abril de 2022

Palco de matanças, cidade ucraniana tenta restabelecer infraestrutura básica após retirada russa. Em entrevista à DW, prefeito afirma que mais de 300 corpos de civis já foram encontrados na cidade.

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A imagem mostra duas valas com cruzes improvisadas de madeira, com uma mão apontando onde provavelmente civis foram mortos na cidade de Bucha, Ucrânia.
Valas com civis enterrados continuam sendo descobertas em Bucha, principalmente em propriedades privadas e parques.Foto: Felipe Dana/AP/dpa/picture alliance

Na cidade de Bucha, a noroeste de Kiev, corpos de moradores baleados foram deixados na rua após a retirada do exército russo.

Além disso, também foram encontradas valas comuns com corpos que exibiam sinais de tortura. Diante das atrocidades, a Ucrânia acusou a Rússia de crimes de guerra.

A infraestrutura foi destruída, e muito vagarosamente a vida começa a voltar ao normal.

A Deutsche Welle conversou com o prefeito de Bucha, Anatoliy Fedoruk, sobre o que aconteceu na cidade.

DW: Prefeito Fedoruk, como está a situação em sua cidade?

Anatoliy Fedoruk: Pelo quarto dia consecutivo, os especialistas estão ocupados em rastrear os atos de sabotagem e remover as minas. Os serviços públicos estão restabelecendo a infraestrutura, especialmente o fornecimento de eletricidade, gás e água. Há também questões humanitárias que estamos cuidando.

Organizamos entregas de alimentos, remédios, produtos de higiene e ração animal. Como não há gás ou eletricidade, adquirimos mil botijões e mil fogões e montamos locais onde as pessoas podem preparar alimentos. Distribuímos os fogões e os botijões em áreas onde muitas pessoas vivem próximas umas das outras. Também nomeamos pessoas encarregadas de cozinhar.

Quantas pessoas viviam no município antes da guerra, especialmente em Bucha, e quantas vivem agora?

Bucha tinha 50 mil habitantes. Incluindo os vilarejos vizinhos, havia um total de 67 mil pessoas. Atualmente, há 3.700 moradores em Bucha, mas o número está aumentando lentamente, à medida que os trabalhadores dos serviços de emergência atuam para restaurar a infraestrutura. Nos outros vilarejos do município, a população diminuiu 30%.

Ontem, estive em Sdwyschywka. Lá, de 1.780 moradores, 760 permaneceram. Infelizmente, seis civis foram baleados por invasores russos. Os vilarejos ao norte de Kiev foram ocupados logo no primeiro ou segundo dia de guerra, então as pessoas não conseguiram fugir. Mas a população se apoiou mutuamente, distribuiu alimentos, remédios e, assim, sobreviveu à ocupação.

O número exato de mortos já é conhecido?

Até o momento, 320 civis [morreram]. Especialistas, criminologistas e investigadores estão agora examinando as vítimas. Mas o número de mortos cresce a cada dia. Corpos têm sido encontrados em propriedades privadas, parques. Lugares onde os corpos podiam ser enterrados durante pausas de bombardeios. As pessoas queriam enterrá-los para que não fossem comidos por cachorros. A cada dia vemos mais enterros improvisados nos vilarejos da nossa comunidade.

O prefeito de Bucha, Anatoliy Fedoruk, conversa com um civil em meio a uma sala com outros civis e com caixas, provavelmente de doações.
Segundo o prefeito de Bucha, Anatoliy Fedoruk, número de mortos aumenta a cada dia na cidade.Foto: Pressestelle der Stadtverwaltung der Stadt Bucha

As pessoas foram mortas por tiros ou por artilharia?

Quase 90% têm ferimentos de bala, portanto, não há ferimentos feitos por fragmentos [o que seria característico de artilharia].

As imagens das valas comuns são horríveis e chocaram o mundo. Quantos túmulos como esses foram encontrados em Bucha?

Três foram descobertos em Bucha: nas instalações de uma empresa de abastecimento agrícola, onde os invasores russos empilharam os corpos como lenha, de pessoas que estavam com as mãos atadas. E também nas ruas Woksalna e Jablunska, perto de uma casa de repouso para crianças, onde também foram encontradas pessoas feridas de bala e com as mãos atadas.

O senhor estava na cidade na época da invasão? E viu civis sendo baleados?

Tanto antes quanto durante a ocupação eu estava na cidade, como deveria ter estado. Pessoalmente, vi três casos em um único lugar.

Eu estava em uma propriedade privada onde ocorria um tiroteio nas proximidades. Isso foi na rua Lech Kaczynski. Neste local, havia um posto de controle da ocupação russa, e eles simplesmente atiraram em três carros.

Em um deles, havia um homem, sua esposa grávida e dois filhos. Somente o homem sobreviveu. Ele enterrou a esposa grávida em uma trincheira que os russos haviam cavado para proteger a si mesmos. Em vez de uma cruz, o homem colocou a placa do seu carro no local. Os corpos das crianças foram levados para a igreja e lá enterrados. Não sei se o homem ainda está vivo e qual é a sua situação agora.

Os crimes devem ser documentados, mostrando quem são as vítimas e como elas morreram? Há representantes do Tribunal Penal Internacional envolvidos?

Todas as agências internacionais e ucranianas relevantes estão envolvidas em descobrir os nomes de todas as pessoas que foram baleadas, especialmente para poder usar as evidências e levar os criminosos à Justiça.

Estão ocorrendo saques na cidade?

A polícia nacional patrulha todas as ruas, e não há saques. Devido ao que viveram, nossos cidadãos não podem sequer imaginar tal coisa.

A foto mostra uma estrada que leva à cidade de Bucha, na Ucrânia. O asfalto tem um enorme buraco no meio da via, provavelmente causado por um bombardeio.
Destruição pode ser observada tanto dentro da cidade quanto nas vias de acesso que levam ao município.Foto: Maxym Marusen/ZUMA Press/IMAGO

Há estimativas preliminares de quantas casas foram destruídas?

Ao menos 112 residências foram completamente destruídas e não poderão ser reconstruídas. Outras 100 foram danificadas. Além disso, 18 prédios de apartamentos foram bastante danificados pela artilharia e também queimados. Dois deles, pré-fabricados, não poderão ser reparados. Posteriormente, especialistas vão dar mais detalhes sobre o que poderá ser restaurado e o que deverá ser demolido.

Qual é a gravidade da destruição da infraestrutura de Bucha?

A infraestrutura principal nos acessos à cidade e também dentro da própria cidade está quase que completamente destruída. No terceiro dia da guerra, os russos destruíram a subestação de energia que abastecia tanto a cidade quanto a ferrovia ucraniana. A subestação não poderá ser reconstruída, uma nova terá de ser erguida. Quanto ao abastecimento de água, a cidade tem uma certa peculiaridade porque os três distritos tinham três sistemas. A central não está funcionando, e os soldadores estão agora fechando buracos nos tubos causados por bombardeios.

Quanto tempo será necessário para restaurar a infraestrutura da cidade?

Estamos fazendo tudo o que podemos para que seja o mais rápido possível. Estávamos contando os dias até a libertação pelo exército ucraniano. É o mesmo agora, mal podemos esperar para que a cidade volte à vida. Estamos fazendo todos os esforços possíveis.

Muitas pessoas querem ir para casa. Quando elas poderão voltar para Bucha?

Atualmente, há um toque de recolher que vai vigorar até 7 de abril. O que será decidido depois, ainda não está claro. Mas aconselho os civis que não estão envolvidos nos trabalhos comunitários, médicos ou sociais a não retornarem até que uma decisão seja tomada. Isso vale especialmente para mulheres e crianças, já que ainda não há eletricidade, água ou gás na cidade.