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Navalny encerra greve de fome depois de três semanas

23 de abril de 2021

Crítico do Kremlin, que está preso desde janeiro, tomou a decisão após ter atendida sua reivindicação de ser examinado por um médico particular.

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Russland Oppositionsführer Alexej Nawalny
Navalny vem reclamando de fortes dores nas costas e dormência nas pernas e que não pode ser examinado adequadamenteFoto: Babuskinsky District Court/AP/dpa/picture alliance

O líder oposicionista russo Alexei Navalny, preso desde janeiro, anunciou nesta sexta-feira (23/04) que vai encerrar gradualmente a greve de fome que havia iniciado em 31 de março, para protestar contra a recusa das autoridades em permitir que ele fosse examinado por um médico particular. Ele vem reclamando de fortes dores nas costas e dormência nas mãos e nas pernas. 

Na segunda-feira, Navalny, um dos principais críticos ao presidente Vladimir Putin, havia sido transferido da penitenciária em que estava para um hospital prisional, em meio a preocupações internacionais sobre a deterioração de sua saúde.

Em um post em sua conta no Instagram, Navalny afirmou que tomou a decisão depois de receber atendimento médico independente e ser avisado de que continuar com a greve de fome "poderia ser fatal". Além disso, alguns de seus apoiadores também iniciaram greves de fome em solidariedade a ele.

"Amigos, meu coração está cheio de amor e gratidão por vocês, mas não quero que ninguém sofra por minha causa", disse ele.

Navalny esclareceu que, embora esteja encerrando a greve de fome, ainda exige que possa ser atendido por médicos independentes para tratar a dormência nos braços e pernas. O serviço penitenciário russo alega que ele está recebendo cuidados adequados.

"Graças ao enorme apoio de boas pessoas em todo o país e em todo o mundo, fizemos um grande progresso", escreveu Navalny.

"Dois meses atrás, meus pedidos de ajuda médica geravam sorrisos maliciosos. Não recebi nenhum medicamento. Graças a você, agora fui examinado por um painel de médicos civis duas vezes", acrescentou.

Em uma carta publicada pela mídia na quinta-feira, os médicos de Navalny apelaram para que ele encerrasse a greve de fome imediatamente, sob o risco de prejudicar ainda mais a saúde e, na pior das hipóteses, morrer.

Os médicos disseram que avaliaram resultados de vários exames de Navalny. Entre os perigos apontados por eles, estavam, especialmente, "sintomas de insuficiência renal, sintomas neurológicos e hipotermia grave", que podem evoluir para problemas irreparáveis.

Na quarta-feira, quatro peritos dos direitos humanos enviados pela Organização das Nações Unidas (ONU) indicaram que Navalny estava em "grave perigo" e consideraram que ele devia ser mandado ao Exterior.

Na quarta-feira, protestos tomaram as ruas do país em apoio a Navalny. Atrás das grades, ele disse que sente "orgulho e esperança" depois de saber, pelo seu advogado, sobre as manifestações exigindo sua libertação imediata. 

Pressão internacional

O tratamento dado a Navalny despertou críticas de vários governos ocidentais à Rússia ao longo dessa semana. O chefe de política externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse que o bloco considera a Rússia "responsável" pela saúde de Navalny.

Os ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, da França, Jean-Yves Le Drian, e do Reino Unido, Dominic Raab, também responsabilizaram a Rússia e exigiram cuidados adequados ao líder opositor.

O governo dos Estados Unidos disse, no domingo passado, que informou a Rússia de que "haverá consequências" se Navalny morrer na prisão.

No sábado passado, mais de 70 celebridades de todo o mundo exigiram, em carta aberta, cuidados adequados para o oposicionista Alexei Navalny.

O Kremlin vem desconsiderando as preocupações dos países ocidentais.

"A saúde dos condenados na Federação Russa não pode e não deve ser um assunto relacionado a eles", disse o porta-voz Dmitry Peskov.

Por que Navalny está na prisão?

Navalny foi preso em janeiro em Moscou ao retornar da Alemanha, onde passou cinco meses se recuperando de um envenenamento por um agente nervoso desenvolvido na época da União Soviética. Ele acusa o Kremlin de tentar matá-lo. O governo russo nega.

No começo de fevereiro, um tribunal da Rússia sentenciou Navalny a dois anos e meio de prisão. A Justiça alegou que o ativista, em sua estadia na Alemanha, violou as condições de sua liberdade condicional relacionada a uma sentença proferida em 2014, ao não se apresentar regularmente para as autoridades.

A sentença original envolve um suposto caso de fraude, num processo que foi considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

A nova prisão de Navalny foi o estopim para protestos contra o Kremlin. Milhares de pessoas saíram às ruas em dezenas de cidades para exigir a libertação do ativista e demonstrar insatisfação com o governo autoritário do presidente Putin. A reação das autoridades foi dura, e mais de 10 mil pessoas foram detidas.

le (Lusa, AFP, reuters)