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Mundo dos negócios começa a romper com Trump

Kristie Pladson
13 de janeiro de 2021

Lista de empresas que se distanciaram do presidente americano após ataque ao Capitólio cresce a cada dia. A última foi o Deutsche Bank. Um desembarque repentino que expõe o papel corporativo na máquina política dos EUA.

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Trump Hotel | Las Vegas
Foto: Getty Images/E. Miller

O banco alemão Deutsche Bank decidiu abandonar Donald Trump, um cliente de longa data. A instituição não fará mais negócios com o magnata, numa espécie de sanção à sua reação ao ataque de 6 de janeiro ao Capitólio nos Estados Unidos.

O fato de um credor de longo prazo do magnata o deixar agora não é exatamente uma surpresa. Antes das eleições de novembro, altos funcionários do Deutsche Bank haviam dito que a empresa estava procurando uma saída para seu relacionamento de longo prazo com Trump. Ele deve ao banco centenas de milhões em empréstimos e, como cliente, tem arranhado a imagem da instituição.

Nesta semana, o Deutsche Bank viu uma oportunidade e aproveitou. O banco juntou-se a uma lista crescente de corporações que retiraram apoio ao presidente e aos membros do Partido Republicano que tiveram papel nos eventos no Capitólio.

Nos últimos dias, as instituições financeiras Goldman Sachs, Citigroup, Morgan Stanley, JPMorgan Chase & Co., entre outras, anunciaram que cortariam os laços comerciais ou interromperiam doações políticas diante dos recentes eventos.

Algumas instituições chegaram a dizer que congelarão as doações para os legisladores republicanos que votaram contra a certificação dos resultados das eleições presidenciais de 2020. Outros afirmam que suspenderão temporariamente as contribuições políticas tanto para os republicanos quanto para os democratas.

Este desembarque repentino expôs o papel corporativo na máquina política dos EUA.

Centenas de milhões de dólares em doações

A lei americana de financiamento de campanhas proíbe as corporações e os sindicatos de gastar para influenciar as eleições federais. Entretanto, eles são livres para financiar indiretamente candidatos ou partidos através de doações aos chamados PACs ou SuperPACS, uma prática usada por muitas das empresas que agora se distanciam dos eventos no Capitólio.

Os PACs, ou Comitês de Ação Política, são organizados para levantar e gastar fundos com o objetivo de eleger ou derrotar candidatos políticos. Os PACs permitem que sindicatos e corporações forneçam apoio financeiro em corridas políticas federais sem violar a lei americana.

Os PACs, estabelecidos pela primeira vez em 1944, estão sujeitos a limites de ação em um determinado ciclo eleitoral. O estabelecimento dos SuperPACs em 2010 forneceu aos doadores uma forma de contornar este teto de gastos.

Em vez de serem doados diretamente a uma campanha ou partido político, os fundos agregados pelos SuperPACs são usados para financiar independentemente outros aspectos das campanhas federais, como propagandas que apoiam ou se opõem a um candidato específico ou uma pauta ligada a ele. Não há limites para a quantidade de dinheiro a que os SuperPACs podem ter acesso.

No mais recente ciclo eleitoral americano, os SuperPACs alinhados a pautas liberais gastaram um total de US$ 916 milhões, e os alinhados a pautas conservadoras gastaram US$ 1,2 bilhão, de acordo com dados da CRP, uma ONG que monitora o dinheiro na política americana.

A resposta corporativa a Trump

Um dia antes da invasão do Capitólio, o professor Jeffrey Sonnenfeld , da Faculdade de Administração de Yale, convocou uma reunião de CEOs de algumas das maiores empresas do país. O objetivo: discutir uma resposta corporativa ao desafio eleitoral de Trump, segundo o canal CNBC.

O grupo tem se reunido regularmente ao longo dos anos. De acordo com a CRP, o grupo se encontrou em novembro após as eleições presidenciais americanas, pois ficou claro que Trump preferia contestar o pleito, em vez de admitir a derrota. Eles também se reuniram em maio de 2020 após a morte de George Floyd, que levou a protestos globais contra o racismo e a brutalidade policial.

De acordo com o Barômetro Edelmann Trust 2020 - uma pesquisa global e anual sobre confiança e credibilidade - o público confia nos CEOs mais do que em jornalistas, líderes religiosos e chefes de Estado.

Segundo Sonnenfeld, os participantes concordaram que as doações deveriam ser negadas às iniciativas de apoio aos membros do Congresso que votaram contra os resultados da eleição presidencial, Sonnenfeld à CNBC

Ainda não se sabe se as empresas se manterão fiéis a esta promessa informal. Também seria justo questionar o significado de tais promessas no contexto das últimas eleições. Os eleitores foram às urnas há apenas dois meses, e o próximo pleito ainda está distante.

Para os CEOs, Trump é ruim para os negócios

A questão é que as corporações sabem que, a qualquer momento, grupos ativistas podem responsabilizá-las publicamente. Anúncios já acusaram os legisladores republicanos - e seus apoiadores corporativos - por tentarem deslegitimar o processo eleitoral. Em um post no Twitter após a invasão do Capitólio, o correspondente do Washington Post  na Casa Branca Jeff Stein disse que os lobistas estavam especulando se os consumidores iriam responsabilizar as empresas pelo ocorrido.

Distanciar-se do presidente permite que as empresas sinalizem seus valores e tentem influenciar a opinião pública para longe do negacionismo eleitoral. Embora as empresas tendem a inclinar-se para políticas republicanos favoráveis aos negócios, a instabilidade política também não é do seu melhor interesse.

De acordo com Sonnenfeld, os CEOs disseram que "comunidades divididas, trabalhadores indignados e ambientes de trabalho hostis não são do interesse das empresas americanas".