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Mulheres em todos os fronts

ef28 de dezembro de 2003

A ação de mulheres em tropas de combate das Forças Armadas da Alemanha tornou-se há tempos parte do cotidiano trivial, seja como granadeiras, pilotas ou comandantes de submarinos.

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Kathrin Dahlitz, a primeira mulher a pilotar helicópteros da BundeswhrFoto: AP

A possibilidade de aprender uma das 50 profissões nas Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) atrai muitas jovens. Dos 5 mil aprendizes no momento, 35% são mulheres. E não faltam elogios masculinos às militares. No site da Bundeswehr lê-se, por exemplo, que "elas são altamente motivadas, resolutas e confiantes". E não somente nos serviços médicos ou nos escritórios, mas também no front.

Desde que as Forças Armadas se viram obrigadas a abrir as portas de todos os setores para mulheres, elas participam de ações no exterior, como no Camboja, Somália, Timor Leste e Bósnia-Herzegóvina.

Quem deu o primeiro impulso para essa abertura foi a eletricista Tanja Kreil, de 22 anos de idade. Ela recorreu à Corte Européia de Justiça em Luxemburgo contra a exclusão de mulheres no serviço militar em armas na Alemanha. No dia 11 de janeiro de 2000, o tribunal europeu deu ganho de causa à jovem da Baixa Saxônia, com a justificativa de que a proibição do serviço militar em armas para mulheres não estava em conformidade com a legislação da União Européia.

Fim da discriminação

constitucional – O Ministério da Defesa em Berlim abriu, então, as portas das Forças Armadas para as mulheres fazerem carreira onde quisessem. O artigo 12 da Constituição que vedava esta possibilidade ao sexo feminino foi revogado. O novo texto constitucional permite soldadas em ações de combate, mas somente em bases voluntárias. Segundo uma pesquisa de opinião pública, feita a seguir pelo Instituto Forsa, 60% dos alemães aprovaram a sentença da Corte Européia de Justiça.

Até então, a ação de mulheres na Bundeswehr sempre foi restritiva. Só a partir de 1975 elas puderam ser militares, mas apenas nos serviços médicos ou nas bandas de música. Como as Forças Armadas e a administração militar são constitucionalmente separadas, o sexo feminino pôde exercer funções civis na Bundeswehr desde 1956.

Hoje, do total de 47 mil mulheres nas Forças Armadas alemãs, mais de um terço são civis que trabalham na administração. E das 7200 que fazem carreira, 5 mil trabalham nos serviços médicos e mais de 2200 estão distribuídas no Exército, Marinha e Aeronáutica. Kathrin Dahlitz, de 22 anos, foi a primeira mulher que realizou o sonho de pilotar helicópteros da Bundeswehr. Ela recebeu tal licença em outubro passado.

Direitos iguais

– Com a exceção da regra especial para proteção da maternidade, os direitos e deveres são iguais entre homens e mulheres na Bundeswehr. As discrepâncias entre teoria e prática confirmam a regra. As recrutas não fazem diferença de capacidade de produção entre homens e mulheres. Porém, a maioria dos instrutores garante ser fora de questão que o ponto fraco do sexo feminino é a condição física. Tanto é que nos exercícios mais penosos os soldados costumam carregar a bagagem pesada de algumas camaradas.

Quando a solicitude masculina se torna uma regra, os superiores e instrutores são acusados de desestimular, voluntariamente, as moças na tropa. Parte delas dá grande valor à igualdade de sexos e reage com muita sensibilidade contra privilégios. Muitos homens, por sua vez, reclamam que um decreto os obriga a cortar os cabelos, aparar a barba e o bigode, enquanto as soldadas podem ter cabelos longos e usar jóias.

Assédio sexual

– Em setembro de 1994 entrou em vigor a chamada segunda lei de igualdade de sexos, mas não para as militares, e sim para a suas colegas em funções civis. Em 1995, a Bundeswehr criou um serviço especial para cuidar de problemas específicos das mulheres, cujos funcionários devem esclarecer tanto conflitos delas com seus iguais e superiores, como casos de assédio moral e sexual ou ataques físicos.

O último caso de conhecimento público deu manchete na imprensa em março de 2001: o primeiro sargento Ronny P. estuprou de várias formas Juliane S., de 17 anos, numa academia militar de Munique. Seis meses depois, ele foi condenado a cinco anos e meio de prisão.

A médica Jutta Gohr, uma espécie de encarregada de questões femininas nas Forças Armadas e conselheira do Ministério da Defesa, conhece o problema. Ela sabe que não se pode evitar problemas de assédio ou violação sexual, a despeito de todos os decretos e medidas preventivas por parte das Forças Armadas. "Afinal, a Bundeswehr é um espelho da sociedade."