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Morte de iraniana gera paralelos com caso de Mahsa Amini

28 de outubro de 2023

Armita Geravand, uma adolescente de 16 anos, morreu após um mês em coma. Ativistas afirmam que ela foi agredida pela polícia da moralidade do regime fundamentalista por não usar véu.

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Armita Geravand, estudante de artes de 16 anos, ficou internada quase um mês antes de morrer

Armita Geravand, uma adolescente iraniana de 16 anos que vista sendo carregada inconsciente para fora de um vagão de metrô de Teerã pouco depois de entrar com o cabelo descoberto, morreu neste sábado (28/10), segundo a imprensa do país.

Nesta semana, médicos já haviam declarado a morte cerebral de Geravand, que passou 28 dias internada.

Não se sabe exatamente ainda o que aconteceu com a jovem Geravand em 1° de outubro, data do incidente, mas o episódio evocou semelhanças com o de Mahsa Amini, uma mulher curdo-iranianaque morreu em setembro de 2022 sob custódia da infame polícia da moralidade do regime fundamentalista islâmico após ser acusada de violar o código de vestimenta do Irã, que obriga as mulheres a cobrirem o cabelo.

A morte de Amini gerou uma onda de protestos sem precedentes contra o regime e uma severa repressão, que resultou na prisão de 22 mil pessoas e o assassinato de cerca de 500 pessoas pela ditadura fundamentalista. O regime também condenou à morte e executou sete participantes. 

Acusações

Já o caso de Geravand, uma estudante de artes, vem sendo palco de uma disputa de versões. O regime iraniano nega qualquer papel no caso da morte, mas grupos de ativistas, vários deles envolvidos nos protestos contra a morte de Amini, afirmaram que se trata de um novo episódio de violência da polícia da moralidade.

O grupo de direitos humanos Hengaw, com sede na Noruega, disse ter recebido relatos de que Armita "se tornou a última vítima da política do hijab forçado”. O grupo pediu que a formação de uma equipe independente com membros da ONG Médicos Sem Fronteiras e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para investigar a morte.

"A República Islâmica do Irã tenta distorcer a narrativa em torno do envolvimento do governo na morte”, disse o grupo.

Outros relatos, recebidos por Farzad Seifikaran, jornalista da rádio independente Zamaneh, apontam que Geravand foi empurrada por um policial por não usar o véu. Ao cair, Geravand teria batido a cabeça e sofrido hemorragia cerebral. Imagens de câmeras de segurança divulgadas pelo regime não mostram a suposta agressão dentro do vagão, apenas os momentos em que Geravand entrou com duas amigas e quando foi posteriormente retirada, já inconsciente.

Armita Geravand
Geravand foi carregada inconsciente para fora de vagão do metrô de TeerãFoto: Iranian state TV/AP/picture alliance

Regime nega envolvimento

A imprensa oficial do regime fundamentalista, por sua vez, sustenta que a jovem sofreu "lesões cerebrais, seguidas de convulsões contínuas, diminuição da oxigenação cerebral e um edema cerebral, após uma queda repentina da pressão arterial”.

A versão do regime foi ecoada por familiares de Geravand. Em entrevista à imprensa do regime, familiares apontaram que um problema de pressão arterial, uma queda ou talvez ambos, contribuíram para os ferimentos da filha. Não se sabe se os parentes da jovem foram coagidos a divulgarem essa versão.

"Apartheid de gênero”

As mulheres iranianas são legalmente obrigadas a cobrir os cabelos e a usar roupas largas e compridas no Irã desde 1979, quando fundamentalistas islâmicos tomaram o poder no país.

No ano passado, a luta das mulheres iranianas por mais igualdade e contra o rígido código de vestimenta da ditadura fundamentalista foi marcada pela morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, que morreu sob custódia da polícia da moralidade após se recusar a cobrir os cabelos. O episódio foi o estopim para uma onda nacional de protestos.

Especialistas em direitos humanos da ONU já classificaram as politicas do regime contra mulheres como um "apartheid de gênero”, em referência à antiga política racista de exclusão de pessoas negras que perdurou na África do Sul até os 1990.

Em outubro, a luta das mulheres iranianas também recebeu destaque com a atribuição do Prêmio Nobel da Paz para a ativista iraniana Narges Mohammadi. Em comunicado, o Comitê Norueguês do Nobel disse que decidiu conceder o prêmio a Mohammadi por "sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e para promover os direitos humanos e a liberdade para todos".

Narges Mohammadi foi presa 13 vezes pelo regime fundamentalista iraniano e condenada cinco vezes a um total de 31 anos de prisão e a 154 chicotadas. Atualmente, ela cumpre pena na prisão Evin, em Teerã.

O regime fundamentalista, no entanto, não dá sinais de reversão na sua política de opressão às mulheres. Em setembro, o Parlamento iraniano, controlado pela ditadura, aprovou nesta quarta-feira um projeto de lei que endurece ainda mais as penas para meninas e mulheres que não usarem o véu em locais públicos. A nova legislação estabelece que aquelas que forem denunciadas ou apanhadas desafiando o código poderão ser condenadas a entre cinco a dez anos de prisão.

jps (ots)