1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Governo anuncia novos comandantes das Forças Armadas

31 de março de 2021

Em troca simultânea inédita, antigos comandantes deixaram os cargos na terça-feira por rejeitarem uso político de Exército, Marinha e Aeronáutica.

https://p.dw.com/p/3rSNq
Garnier, Braga Netto, Paulo Sérgio e Baptista Junior posam para foto. Eles usam máscaras. Os comandantes estão com os trajes da Marinha, Exército e Aeronáutica. Brga Netto está de terno escuro e gravata.
Almirante Almir Garnier Santos, general Braga Netto, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e tenente-brigadeiro Carlos Almeida Baptista JuniorFoto: Alexandre Manfrim/Centro de Comunicação Social da Defes

O Ministério da Defesa anunciou nesta quarta-feira (31/03) os nomes dos três novos comandantes das Forças Armadas. É a primeira vez na história que os três comandantes são substituídos ao mesmo tempo, sem que isso ocorra em meio a uma troca de governo.

Para o Exército, foi escolhido o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, atual chefe do Departamento-Geral de Pessoal (DGP) da corporação. Ele substitui o general Edson Pujol, que deixou o cargo na terça-feira, juntamente com os comandantes da Marinha e da Aeronáutica, por divergências com o governo.

Na Marinha, assume o almirante de esquadra Almir Garnier Santos, no lugar de Ilques Barbosa. Garnier deixará o comando da secretaria-geral do Ministério da Defesa. 

Já o escolhido para comandar a Força Aérea Brasileira (FAB) é o tenente-brigadeiro Carlos Alberto Baptista Júnior, atual comandante-geral de logística da corporação. Ele substitui Antônio Carlos Moretti Bermudez. 

Recentemente, em entrevista ao jornal Correio Brasiliense, Paulo Sérgio apontou uma possível terceira onda de covid-19 no Brasil e a necessidade de um lockdown, em oposição às ideias do presidente Jair Bolsonaro, que é contra o isolamento social. Segundo interlocutores, a escolha dele seria uma forma de o governo diminuir a tensão, após tentativas do governo de interferir nas Forças Armadas. Por outro lado, tanto Garnier quanto Baptista Junior têm perfis mais alinhados ao de Bolsonaro. 

Logo após o anúncio oficial, Bolsonaro publicou uma foto no Twitter com os novos comandantes.

Ao anunciar os nomes, o novo ministro da Defesa, general Braga Netto, defendeu a democracia.

"A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira se mantêm fiéis a suas missões constitucionais de defender a pátria, garantir os poderes constitucionais e as liberdades democráticas. Nesse dia histórico, reforço que o maior patrimônio de uma nação é a garantia da democracia e a liberdade do seu povo", disse.

Apesar da fala em prol da democracia, na terça-feira, Braga Netto, havia divulgado uma ordem do dia na qual defendia que se compreenda e se celebre o golpe militar de 1964, que instaurou uma ditadura de 21 anos no país. A publicação do texto foi a primeira manifestação pública do general, que assumiu a pasta após Fernando Azevedo e Silva deixar o governo, no dia anterior.

No breve anúncio desta quarta-feira, Braga Netto destacou, também, a participação das Forças Armadas no combate à pandemia de covid-19.

"Todo o governo federal e os Poderes da República têm mobilizado seus esforços e energias para o enfrentamento dos impactos dessa pandemia. As Força Armadas são fatores de integração nacional e têm contribuindo diuturnamente nessa tarefa, com a operação covid-19, com inúmeras atividades, entre elas a de logística de transporte de EPIs e oxigênio, a evacuação de paciente de Manaus para todo o país e a vacinação de povos indígenas em áreas remotas. Os militares não faltaram no passado e não faltarão sempre que o país precisar", afirmou o ministro.

Divergências entre ex-comandantes e governo

Na terça-feira, Braga Nettohavia anunciado que substituiria os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. A decisão foi tomada na esteira da saída do ministro Fernando Azevedo e Silva da pasta da Defesa.

Na segunda-feira, os comandantes do Exército, Edson Pujol, da Marinha, Ilques Barbosa, e da Aeronáutica, Antônio Bermudez, já haviam se reunido e discutido a possibilidade de colocarem seus cargos à disposição, como um sinal de que não compactuariam com tentativas do presidente de usar as Forças Armadas em seu benefício. 

A saída de Azevedo e Silva ocorreu em meio a uma minirreforma ministerial que envolveu trocas em seis pastas, mas foi a alteração mais rumorosa devido a movimentos frequentes de Bolsonaro para aprofundar a instrumentalização das Forças Armadas em benefício de seu projeto político. A saída do ministro provocou a maior crise na cúpula militar em décadas.

Azevedo e Silva vinha resistindo a algumas dessas investidas do presidente, como pedidos para mobilizar o Exército para se contrapor aos governadores que declararam lockdown para reduzir a disseminação da covid-19. O ex-ministro também havia se recusado a demitir Pujol, que não agradava a Bolsonaro e em novembro de 2020 havia dito que "a política não pode entrar nos quartéis”.

Antes de ser nomeado para a Defesa, Braga Neto era ministro da Casa Civil e tem a confiança de Bolsonaro. 

Desde o início da sua gestão, Bolsonaro tem se apoiado nos militares para preencher diversos cargos no governo. O presidente também faz elogios frequentes à atuação das Forças Armadas durante o regime militar e determinou a comemoração do golpe de 1964, que nesta quarta-feira faz 57 anos.

le (Agência Brasil, ots)