Militares revelam identidade de soldado acusado de matar civis afegãos
17 de março de 2012Os assassinatos ao sul da província de Kandahar foram os últimos de uma série de incidentes que têm enfurecido os afegãos e intensificado a indignação com relação às tropas lideradas pelos Estados Unidos no país.
Um soldado norte-americado deixou sua base no domingo da semana passada pouco antes do entardecer, foi a um vilarejo vizinho e abriu fogo, matando 16 pessoas entre homens, mulheres e crianças. Até sexta-feira (16/03) as autoridades militares haviam mantido a identidade de Robert Bales em sigilo. Mas com a revelação de seu nome, o ainda incompleto, mas já controverso, perfil do soldado veio à tona.
Parte dele mostra um pai de família admirado pelos vizinhos e orgulhoso de seus 11 anos de serviço junto ao exército norte-americano, incluindo três missões no Iraque. Mas também mostra que Bales já se meteu em problemas. Em 2002, segundo registros, ele foi preso em Tacoma, no estado de Washington, por ter atacado uma namorada. Ele alegou inocência e foi submetido a 20 horas de aconselhamento para controle da raiva, depois o caso foi arquivado.
Julgamento
Muitos afegãos exigem que Bales seja julgado no Afeganistão, mas, de acordo com relatos, ele foi removido do país e levado para o Kuwait antes de ser transferido para a prisão militar de Fort Leavenworth, no estado do Kansas. Autoridades disseram que ele ficará em "confinamento pré-julgamento".
O advogado de Bales disse que seu cliente estava perturbado por causa de uma grave lesão sofrida por um companheiro no dia anterior, mas que ele não mantinha nenhuma animosidade contra muçulmanos. Há ainda especulações de que o soldado estaria sob efeito de álcool no dia das mortes.
O presidente afegão, Hamid Karzai, acusou os Estados Unidos na sexta-feira de não cooperarem plenamente com as investigações sobre o massacre. Ele também questionou se Bales teria realmente agido sozinho. "Isso foi longe demais. Vocês me ouviram antes. Nós chegamos ao fim da linha", disse Karzai a repórteres.
Discussão sobre retirada das tropas
Na sexta-feira, Karzai falou por telefone com o presidente norte-americano, Barack Obama, para reiterar promessas anteriores de que as tropas dos EUA deixarão o Afeganistão até o fim de 2014.
Os dois líderes reafirmaram que estão comprometidos com o cronograma segundo o qual "as forças afegãs irão completar o processo de transição e assumir inteira responsabilidade pela segurança do país até o final de 2014", disseram em comunicado.
Enquanto isso, em entrevista ao jornal alemão Mitteldeutsche Zeitung, o ex-comandante militar alemão Harald Kujat disse acreditar que a missão no Afeganistão tornou-se inútil. "Nós já fizemos sacrifícios demais", disse Kujat. "Quando você não é mais bem-vindo, precisa partir. Eu não tenho nada contra uma retirada antecipada", completou.
FF/afp/ap/dpa
Revisão: Mariana Santos