Michel: figura nacional e "persona non grata"
26 de março de 2013O Michel alemão é uma estranha figura nacional. Não se pode dizer que ela tenha nada de nobre. "Basicamente, o Michel é uma personagem sonolenta, inofensiva e careta", diz o historiador Ulrich Op de Hipt. Num dos maiores museus de história da Alemanha, a Casa da História em Bonn, esse especialista em caricaturas ocupou-se intensivamente das representações visuais do Michel.
"Para realizar uma exposição de caricaturas sobre a imagem da Alemanha no exterior, pesquisamos no mundo inteiro, não só na Europa, mas também na América do Norte e na Ásia. Concluímos que o Michel alemão é praticamente desconhecido no exterior."
Uma constatação que não surpreendeu o historiador. Segundo ele, "ao contrário de outras personagens como a Marianne, na França, ou o Tio Sam, nos Estados Unidos, a figura nacional dos alemães representa, em primeira linha, a imagem que o alemão tem de si mesmo".
"Homem comum"
Até hoje, nem os alemães sabem ao certo como surgiu a figura do Michel. Ao longo dos séculos, desenvolveram-se inúmeras teorias sobre sua origem, mas até hoje nenhuma delas convenceu. Certo é que a primeira menção a ele aparece num livro de provérbios alemães do século 16.
Já naquela época, a imagem da personagem era pouco lisonjeira. Se os registros estiverem corretos, o Michel na Idade Média era uma figura bem desajeitada, que simbolizava essencialmente o camponês simples e sem formação.
Ao longo dos séculos, seu caráter se modificou muitas vezes. No fim, entretanto, solidificou-se a imagem do "homem comum", presente desde o princípio. O Michel passou a representar aquele que não tinha poder algum e, portanto, era inofensivo. Provavelmente por isso, seu principal atributo é o característico gorro, cruzamento entre um chapéu de anão e uma touca de dormir.
Autorretrato de touca
Esta figura preguiçosa, de gorro na cabeça, é uma representação que não condiz absolutamente com a forma como o mundo vivenciou os alemães. Pois durante as guerras do século 20, incluindo o Holocausto, os alemães mostraram uma face completamente diversa.
O historiador Ulrich Op de Hipt comenta: "É possível que o Michel nunca tenha se tornado popular internacionalmente, como o Tio Sam e Marianne, por ser uma figura que definitivamente não combina com aquela Alemanha agressiva que o mundo foi forçado a conhecer."
A personagem do Michel desagradou sobretudo os nacional-socialistas. "Pois no contexto da teoria racial e da superioridade alemã propagada por Hitler, a figura nacional do Michel, exatamente por sua fraqueza, era uma persona non grata e desprezível", diz Op de Hipt. Somente após a queda da Alemanha nazista, o Michel teve um breve renascimento. Hoje, essa personagem ingênua e sonolenta voltou a ser um favorito dos caricaturistas do país.
Autor: Arne Lichtenberg (smc)
Revisão: Roselaine Wandscheer