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Merkel sabia de problemas em agência para refugiados

3 de junho de 2018

Ex-chefe do departamento alega ter alertado chanceler federal sobre demandas excessivas impostas aos funcionários. Agência está no centro de tempestade política que envolve acusações de incompetência e corrupção.

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Portugal Lissabon Angela Merkel Besuch bei Antonio Costa, Premierminister
Ex-chefe do Departamento Federal para Migração e Refugiados (Bamf) afirmou que avisou a chanceler federal em duas ocasiões sobre problemas na agência.Foto: Reuters/R. Marchante

Um ex-chefe do Departamento Federal para Migração e Refugiados (Bamf, na sigla em alemão) alegou neste domingo (03/06) ter alertado duas vezes a chanceler Angela Merkel sobre a carga excessiva de trabalho e exigências impostas aos funcionários da agência.

A declaração foi feita por Frank-Jürgen Weise ao jornal alemão Bild am Sonntag. Ele chefiou o departamento entre 2015 e 2016. Em entrevista à publicação, ele contou que expressou suas queixas durante conversas cara a cara com Merkel em que foram discutidos como os pedidos de asilo eram administrados pelo Bamf.

A agência é responsável por processar, analisar e autorizar ou não os pedidos de asilo de solicitantes de refúgio que chegam à Alemanha. Nos últimos três anos, concedeu centenas de milhares de pedidos de asilo no país europeu.

As declarações de Weise adicionam mais elementos para tempestade política envolvendo o Bamf, que está sendo questionado por causa de acusações de ineficiência e despreparo. O caos no departamento teria propiciado até mesmo um ambiente que facilitou as atividades de funcionários corruptos. 

Recentemente, surgiram suspeitas de que uma ex-funcionária do escritório da agência em Bremen recebeu subornos de solicitantes para conceder autorizações. Ela teria vendido pelo menos 1.200 autorizações sem qualquer base legal para estrangeiros – muitos deles membros da etnia yazidi ou sírios – entre 2013 e 2016. O caso levantou questionamentos sobre os procedimentos internos do BAMF e a própria política de concessão de refúgio.  

Depois de dirigir a agência federal entre outubro de 2015 e dezembro de 2016, no auge da crise dos refugiados, Weise escreveu dois relatórios para o governo federal sobre suas experiências no comando do Bamf. De acordo com o Bild am Sonntag, que afirma ter visto os relatórios, Weise alegou que ao assumir o comando do Bamf "nunca testemunhou uma agência do governo em um estado tão ruim".

Ele também acusou o Ministério do Interior da Alemanha pelo estado das coisas dentro do Bamf.

"A questão que surge é como ninguém poderia ter percebido o estado dos sistemas de TI e operações processuais da agência", disse Weise. "É inexplicável como, dada a situação, poderia se supor que o Bamf seria capaz de lidar com o influxo considerável de refugiados."

Weise acrescentou que enviou suas descobertas para autoridades do Ministério do Interior. Um porta-voz do ministério confirmou a existência do relatório de Weise e disse que muitas das suas sugestões "foram levadas em consideração nos trabalhos atuais que visam melhorar a situação".

À época do início da onda de migratória de 2015, o Bamf contava com apenas 3.000 funcionários. Hoje o número passa de 7.000.

Subornos

O caso envolvendo suspeitas de corrupção no escritório do Bamf em Bremen ainda está sendo investigado. A funcionária acusada, identificada sob as leis de privacidade alemãs apenas como Ulrike B., descreveu as alegações como "absurdas". Outros quatro funcionários do escritório em Bremen também estão sendo investigados por suspeita de corrupção.

Segundo as investigações preliminares, os integrantes do esquema atraiam solicitantes que haviam entrado com pedidos em outros estados da Alemanha e não tinham perspectivas de que o asilo seria concedido. Em troca de suborno, eles podiam transferir seus pedidos para Bremen onde tudo seria concedido ignorando os pré-requisitos legais. Apenas 98 dos 1.200 pedidos sob suspeita tinham como origem Bremen. O restante era de pessoas que se transferiram posteriormente para a cidade.

Segundo a revista Der Spiegel, altos funcionários do Bamf foram alertados no início de 2017 sobre possíveis irregularidade em Bremen. Eles, no entanto, segundo e-mails obtidos pela revista, parecem ter demonstrado mais preocupação com reputação do departamento diante de um potencial escândalo. O caso foi sendo levado de maneira discreta e a ex-funcionária suspeita teve apenas que pagar uma multa. Apenas em abril, quando o Ministério Público, anunciou que estava investigando o caso, é que ela foi demitida.

O tema vem sendo explorado pela oposição parlamentar. O partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Partido Liberal Democrático (FDP) no momento estão exigindo uma CPI para investigar o caso.

A agência é regularmente questionada sobre sua eficiência. Recentemente, um relatório ministerial apontou que em 2017 e 2018 um total de 2.100 tradutores-intérpretes foram excluídos de novas tarefas junto ao Bamf, sobretudo, devido à falta de qualificação. Em pelo menos 30 casos, o motivo teriam sido problemas com a confiabilidade e neutralidade dos colaboradores. Em diversos casos, "várias transgressões acumuladas" teriam levado ao fim do contrato.

JPS/dpa/ots

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