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PolíticaArgentina

"Macri é meu grande inimigo", diz presidente da Argentina

Julio Canto Ortiz | Jenny Pérez
12 de maio de 2022

Em entrevista à DW, Alberto Fernández condena sanções ocidentais contra a Rússia, minimiza desavenças em sua coalizão de governo, aborda planos de reeleição e dirige críticas a seu antecessor, Mauricio Macri.

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Alberto Fernández e o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz
Alberto Fernández se reuniu com o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, em BerlimFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

"Tenho apenas um problema, um objetivo a alcançar: que o neoliberalismo nunca mais governe na Argentina", disse o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em entrevista à DW, durante viagem à Alemanha.

O mandatário argentino cumpre nesta semana um giro europeu, que inclui uma escala de dois dias na Alemanha.

Fernández se encontrou com o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, em Berlim, na quarta-feira (11/05). Ambos concordaram sobre as consequências negativas da guerra de agressão da Rússia na Ucrânia, mas expressaram opiniões divergentes sobre as sanções impostas pelo Ocidente contra o Kremlin. Em Berlim, Fernández descartou que seu país possa impor barreiras ou punições à Rússia.

Oficialmente, o presidente argentino está na Europa para tentar obter investimentos e fechar acordos na área energética e de produção de alimentos.

Fernández também visitou os estúdios da Deutsche Welle em Berlim, onde concedeu uma entrevista à jornalista Jenny Pérez. Ele falou de seus planos de se candidatar à reeleição, das relações entre Argentina e China e de problemas imediatos em seu país. Confira os principais pontos:

Relações com Europa e China

Questionado diretamente sobre as relações da Argentina com a Europa e a China, Fernández disse: "A China é uma grande potência, mas não tem fortes laços culturais com a América Latina, não tem história com a América Latina".

Em fevereiro, Fernández selou em Pequim o ingresso oficial da Argentina na Nova Rota da Seda, uma iniciativa chinesa para a construção de vastas obras de infraestrutura com o objetivo de interligar o mercado chinês com outras nações e aumentar a influência global chinesa.

Guerra na Ucrânia

Fernández realizou uma visita a Moscou em fevereiro, pouco antes da invasão da Ucrânia, quando a Rússia já concentrava milhares de tropas na fronteira com o país vizinho. Na ocasião, o timing da viagem foi alvo de críticas, assim como uma fala do presidente argentino, que declarou desejar que a Argentina se tornasse "a porta de entrada para a América Latina".

Questionado pela DW sobre as críticas, Fernández afirmou: "Visitei Putin em uma época em que a guerra não existia. (...) Vou ser claro: o presente é diferente e, obviamente, depois da pandemia que vivemos, depois que 6 milhões de pessoas morreram, moral e eticamente não podemos endossar nenhum ato de violência, muito menos uma guerra com essas características".

Sanções contra a Rússia

Em Berlim, durante uma coletiva de imprensa, Fernández descartou que seu país venha a se juntar às dezenas de nações que impuseram sanções à Rússia. Ele também refutou planos de enviar armas para a Ucrânia. À DW, ele também se mostrou crítico às medidas da comunidade internacional para isolar a Rússia.

"Quando a Rússia é alvo de sanções, uma grande quantidade de petróleo, gás e trigo não chega mais ao resto do mundo", advertiu. "A verdade é que estamos colocando em risco a segurança alimentar de muitas pessoas no continente e estamos colocando em risco a segurança, a segurança energética, de muitos países do continente."

Reeleição e críticas a Macri

Alberto Fernández vem sofrendo duras críticas na Argentina por parte de aliados, evidenciando rachaduras em sua coalizão de governo, a Frente de Todos. As relações estão especialmente estremecidas com sua vice, Cristina Kirchner, que defende publicamente uma abordagem deferente da de Fernández para lidar com a inflação galopante no país e os persistentes problemas econômicos da Argentina.

À DW, Fernández minimizou as rachaduras em sua coalizão e disse que seu principal objetivo é impedir uma nova vitória do ex-presidente Mauricio Macri, de perfil liberal. "A verdade é que o meu problema não é a minha reeleição", disse. "Tenho apenas um problema, um objetivo a alcançar: que o neoliberalismo nunca mais governe na Argentina, porque assim foi com Macri. Meu grande adversário, meu grande inimigo é Macri."

Cúpula das Américas

O presidente garantiu ainda que pretende ir à Cúpula das Américas, marcada para junho em Los Angeles e que deve reunir chefes de Estado e de governo do continente americano. Fernández, porém, defendeu que todos os países do continente sejam convidados, expressando opinião similar à do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que nesta semana anunciou que não iria ao encontro se os organizadores (os Estados Unidos, no caso) não convidarem Cuba, Nicarágua e Venezuela – países com os quais Washington tem relações tensas. "Peço aos organizadores a mesma coisa que López Obrador pediu a eles, que convidem todos os países da América Latina."

Seca na Argentina

No início do ano, uma seca severa atingiu as lavouras argentinas, levantando temores de que o país não possa aproveitar efetivamente o boom de preços no mercado agrícola internacional causado pela guerra na Ucrânia. À DW, Fernández minimizou esses temores. "A seca afetou algumas lavouras como o milho, mas não afetou a soja ou o trigo, que é nossa maior produção."