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Longa história dedicada ao curta

Soraia Vilela30 de abril de 2004

O Festival de Curta-Metragens de Oberhausen comemora 50 anos, após servir de palco para experimentos estéticos, porta de entrada para filmes do Leste Europeu e até como janela discreta da cinematografia latino-americana.

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'Curto e pequeno': cinco décadas de festival

Na bagagem, Oberhausen carrega rolos e rolos de mais de 5300 filmes. Um dos primeiros festivais a se estabelecer no mercado cinematográfico internacional, o nome Oberhausen está mais associado ao Manifesto publicado em 1962 por jovens cineastas alemães do que pela diversidade de sua programação no decorrer das últimas cinco décadas. O que não quer dizer que Oberhausen não tenha, em todo esse período, servido a vários senhores.

Espaço para Maker, Sokurov, Rybczynski

Plakat zum 50. Kurzfilmfestival in Oberhausen
Cartaz do Festival de Curta-Metragens de Oberhausen

Em seus primórdios, o festival viu surgirem vários nomes que se tornariam cânones da sétima arte. Se a primeira edição trouxe Alain Resnais e Jean Mitry, os anos posteriores desfilaram curtas dos alemães Wim Wenders e Alexander Kluge (um dos autores do famoso Manifesto), passando pelo experimental Chris Maker, por Roman Polansky, pelos deleites estéticos do russo Alexander Sokurov até às aventuras visuais do polonês Zbigniew Rybczynski.

Criado em 1954 para dar voz a curtas de cineastas iniciantes, Oberhausen tem o mérito de ter resistido, por tantas décadas, como um fórum dedicado a um gênero que tão pouca atenção recebe da mídia. Após a ressaca do Manifesto na década de 60, o festival serviu até os anos 80 para desvendar as produções dos então obscuros vizinhos do Leste Europeu, escondidos atrás da Cortina de Ferro.

Dessa forma, por exemplo, alemães ocidentais (e toda a imprensa, também ocidental, que registrava a existência do festival) tomavam conhecimento de filões dignos de registro como o dos filmes de animação tchecos, por muito tempo anos-luz à frente dos estúdios norte-americanos.

Olhar volta-se para América Latina

A partir de meados da década de 80 e principalmente nos 90, após a queda do Muro de Berlim, o olhar até então relativamente eurocêntrico de Oberhausen virou-se para a cinematografia latino-americana. Período em que alguns brasileiros por ali passaram, como Queremos as ondas do ar, de Eliane Caffé, que recebeu o grande prêmio do júri no festival em 1988.

Dois anos mais tarde, em 1990, o gaúcho Jorge Furtado – que acabara de receber o Urso de Prata em Berlim por seu Ilha das Flores – sentava-se no banco dos jurados do festival. Em 1997, poemas de João Cabral de Melo chegavam a Oberhausen através do curta Recife de dentro para fora, da pernambucana Katia Mesel.

Brasília entre Calvino e Beckett

Nationalkongress
Congresso Nacional, BrasíliaFoto: Marcel Gautherot/Insituto Moreira Salles

Ainda seguindo o trilho do olhar voltado para paragens tupiniquins, o alemão Matthias Müller recebia em 1999 o principal prêmio do festival com seu Vacancy (Vazio), um documentário experimental de 14 minutos sobre o surgimento de Brasília e o isolamento a que foram condenados seus moradores em meio à megalomania arquitetônica. De fio-condutor para o curta de Müller serviram citações tanto das cidades invisíveis de Italo Calvino quanto da solidão dos personagens de Samuel Beckett.

Também a partir da década de 80, Oberhausen dava espaço para produções em vídeo, tendo aberto os braços até mesmo para o filme publicitário. A partir de 1998, é incluída na programação do festival uma seleção de videoclips. “Performático, somático, abstrato, conceitual! Além do mainstream”, anunciam os programadores desta seção em 2004.

Entre os temas da última década estiveram o Confronto entre as culturas (1993), Hipermídia (1997), Cidades, territórios (1999), Pop ilimitado? (2000) até a Relocalização, de 2003. Para comemorar os 50 anos de existência, na edição de 2004, o festival destaca a perspectiva ao invés da retrospectiva, procurando, em três ciclos diferentes, apontar os rumos do curta de um panorama cinematográfico internacional.

Brasileiros presentes

Kurzfilmtage in Oberhausen Filmvorführer
Projecionista Turgay Gerbaga, no festival de OberhausenFoto: AP

Em 2003, o brasileiro Evaldo Mocarzel participou da competição oficial de Oberhausen, saindo do festival com uma menção especial do júri internacional e com um prêmio do júri ecumênico por seu À margem da imagem, um documentário sobre moradores de rua de São Paulo.

Na versão de 2004, que começa nesta quinta-feira (29/04) e vai até o próximo 4 de maio, estão presentes os brasileiros Noite Aberta, de Ricardo Mehedff (mostra competitiva) e Ratos de Rua, de Rafael Rodrigues (seção de filmes infantis e infanto-juvenis).

Do ciclo dedicado às produções infanto-juvenis ao sul do planeta, participa Palace II, de Fernando Meirelles e Kátia Lund (Cidade de Deus). Como parte da série retrospectiva Uma Outra História, o público presente à 50 ª edição do festival de Oberhausen poderá rever ainda En français, da videoartista carioca Sandra Kogut, produzido no Centre de Recherches Pierre Schaeffer, França.