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Líder indígena vai processar Bolsonaro por racismo

24 de janeiro de 2020

Em live, presidente afirma que "índio" está se tornado "um ser humano". Para coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, discurso do presidente fere a Constituição.

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Sonia Guajajara
Sonia Guajajara faz parte de grupo indígena que se reuniu para cobrar cumprimento da lei por BolsonaroFoto: DW/S. Guajajara

A líder indígena Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), anunciou nesta quinta-feira (23/01) que a organização entrará na Justiça contra o presidente Jair Bolsonaro por crime de racismo. Horas antes, o presidente havia dito em uma live no Facebook "que cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós". 

"A @apiboficial entrará na justiça contra Jair Bolsonaro por crime de racismo. Nós, povos indígenas, originários desta terra, exigimos respeito! Bolsonaro mais uma vez rasga a Constituição ao negar nossa existência enquanto seres humanos. É preciso dar um basta à esse perverso!", escreveu Sonia em sua conta no Twitter.

No vídeo, ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, Bolsonaro falou brevemente sobre a criação do Conselho da Amazônia, que, segundo ele, não terá "qualquer custo", pois aproveitará o gabinete do vice-presidente, que será o responsável pelo novo órgão, cujas funções abrangem a proteção e desenvolvimento sustentável da floresta, além da defesa das reservas indígenas.

Durante a transmissão, Bolsonaro perguntou se Tarcísio havia servido como militar em algum estado da região Norte. O ministro respondeu que sim, na Amazônia, de 2002 e 2007. O presidente, então, fez um comparativo sobre a situação dos indígenas.  

"Então, se passaram praticamente 13, 14 anos. Mudou. O índio mudou. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós. Então, fazer com que o índio cada vez mais se integre à sociedade e seja realmente dono da sua terra indígena: isso que nós queremos aqui. E o Mourão vai coordenar isso. E, no meu entender, vai ser excelente", declarou Bolsonaro. 

Em seguida, sem dar mais detalhes, o presidente mencionou que conversou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e anunciou a criação de uma Força Nacional Ambiental.   

Sônia participou na semana passada de um encontro com mais de 600 lideranças indígenas do país, na aldeia Piaraçu, no Mato Grosso. Idealizado pelo cacique caiapó Raoni Metuktire, o encontro resultou num um documento com reivindicações para ser entregue a Bolsonaro. Batizado de "Manifesto do Piaraçu", o texto denuncia o projeto em curso do governo brasileiro de "genocídio, etnocídio e ecocídio". 

As políticas de meio ambiente, de posse de terra e de direitos indígenas do governo Bolsonaro preocupam ambientalistas e indígenas, que intensificaram a busca por apoio para frear as ações do governo.

No ano passado, Raoni esteve na Europa, reunido com diversas lideranças, entre elas o Papa Francisco. Na semana passada, o cacique, juntamente com Ângela Mendes, filha do líder seringueiro Chico Mendes, lançaram uma aliança para se contrapor ao que consideram retrocessos impostos pelo governo. No final do ano passado, em menos de dois meses, quatro indígenas Guajajara foram assassinados no Maranhão.

Em dezembro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, autorizou o envio de membros da Força Nacional para a terra indígena Vale do Javari, no Amazonas, a fim de prestar apoio à Fundação Nacional do Índio (Funai) e garantir a segurança de servidores e indígenas. Em setembro, o indigenista Maxciel Pereira dos Santos, servidor da Funai, foi assassinado a tiros na cidade de Tabatinga, no Amazonas, perto da fronteira com a Colômbia e o Peru.

LE/ots

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