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Konrad Zuse, 100 anos

22 de junho de 2010

O criador do primeiro computador do mundo nasceu em Berlim há 100 anos, em 22 de junho de 1910. Durante a Segunda Guerra, a máquina e todas as fotos dela foram destruídas durante um bombardeio aéreo.

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Konrad Zuse aos 80 anos em sua casa em Hünfeld
Konrad Zuse aos 80 anos em sua casa em HünfeldFoto: AP

No dia 22 de junho de 2010, o alemão Konrad Zuse completaria 100 anos de vida. O engenheiro berlinense é tido como o criador do primeiro computador do mundo e também da primeira linguagem de programação baseada em algoritmos.

Entre as contribuições mais conhecidas de Konrad Zuse para o mundo da informática estão as máquinas Z1, Z3 e Z4, construídas respectivamente em 1938, 1941 e 1945. A primeira era uma calculadora com tecnologia mecânica que, segundo a Universidade Técnica (TU) de Berlim, pesava cerca de 500 quilos e era capaz de fazer operações aritméticas de adição, subtração, multiplicação e divisão, além de calcular raiz quadrada e converter decimais em binários e vice-versa.

Réplica do Z1
Réplica do Z1Foto: ComputerGeek

O desenvolvimento da máquina Z2 em 1939 possibilitou a Konrad Zuse acumular experiência para finalizar, dois anos mais tarde, a construção da Z3. Considerada a primeira calculadora completamente automática e programável em sistema binário do mundo, a invenção tinha todos os componentes encontrados em um computador moderno, exceto memória para armazenar dados ou um programa.

O Z3 foi concebido antes mesmo do computador britânico Colossus, projetado durante a Segunda Guerra Mundial por Alan Turing, e do estadunidense ENIAC, criado em 1946 por John Eckert e John Mauchly. No entanto, o pesquisador Friedrich Naumann lembra em seu livro Do ábaco à internet: a história da informática (tradução livre) que a invenção de Konrad Zuse não foi levada a sério nem pelo governo nem pela indústria alemães na época.

Apenas hobby?

Formado em 1935 em Engenharia Civil, depois de passar pelos cursos de Arquitetura e Engenharia Mecânica na TU Berlim, Zuse utilizou a sala da casa dos pais durante anos para conceber os primeiros computadores. O engenheiro também já havia se dedicado à pintura e não tinha conhecimentos específicos de eletricidade ou eletrônica. Isso explica por que, segundo Naumann, a máquina Z3 foi vista durante muito tempo como um brinquedo de Zuse. Segundo o autor, o trabalho do engenheiro era visto apenas como um "hobby".

Réplica do Z3
Réplica do Z3Foto: Venusianer/sa

No mesmo livro, Naumann relata que nem mesmo Andreas Grohmann, assistente de Zuse, tinha noção do significado de sua contribuição para a construção do Z1. Ele menciona que o assistente teria dito que trabalhava às cegas, "sem saber ao certo como aquele monstro que ali estava deveria funcionar". Entretanto, depois de pronta, a máquina "trabalhava sem grandes problemas e dava soluções exatas para problemas complicados".

O computador Z4

Em 1945, Konrad Zuse criou o Z4, uma máquina muito mais potente que as anteriores. Enquanto a Z3 e a Z1 levavam entre três e cinco segundos para realizar uma operação de multiplicação, a Z4 era capaz de fazer 11 multiplicações em apenas um segundo. Esses e outros detalhes são divulgados pela TU Berlim em uma exposição realizada em junho de 2010 na Biblioteca Volkswagen, ao lado do campus principal, em homenagem ao ex-aluno da instituição.

A mostra lembra também que, em 1945, Zuse deixou a capital alemã e organizou o transporte do Z4. O Z3 e todas as fotos dele haviam sido destruídos durante um bombardeio aéreo. Durante muitos meses, o Z4 ficou guardado em um galpão na cidade de Hinterstein, próxima à fronteira austríaca.

Disputa entre potências

A máquina despertou o interesse do matemático Eduard Stiefel. Em setembro de 1945, ele e Zuse assinaram um contrato, formalizando o empréstimo do Z4 ao Instituto de Matemática da Universidade Técnica de Zurique (ETH) por cinco anos.

De acordo com um relatório publicado por aquela universidade em 1981, os suíços pretendiam utilizar o equipamento não só para efetuar cálculos numéricos abrangentes, mas também para enriquecer suas pesquisas e produzir seus próprios computadores em um futuro próximo. Para eles, o empréstimo do Z4 por 30 mil francos suíços era visto como uma boa chance de não ficar de fora na primeira fase da informática.

O computador Z4 no Museu Alemão de Munique (Deutsches Museum)
O computador Z4 no Museu Alemão de Munique (Deutsches Museum)Foto: Clemes Pfeiffer

Além dos Estados Unidos, outras potências europeias vinham apresentando significativos avanços na área, como a Reino Unido e a França. Segundo Naumann, porém, o Z4 foi o único computador da Europa em condições perfeitas de funcionamento até 1951.

No livro Der Computer – Mein Lebenswerk ("O computador – a obra da minha vida"), o próprio Konrad Zuse lamenta a falta de reconhecimento da importância de seus primeiros computadores pela própria Alemanha. Para ele, a indústria eletrônica do país agiu com lentidão, ao contrário das indústrias dos EUA e da Suíça.

De acordo com o engenheiro, a produção de computadores na Alemanha se deu de forma tardia, acarretando consequências lamentáveis à economia, "pois a indústria de informática é hoje uma das mais importantes do mundo – se não a mais importante delas".

Depois do empréstimo do Z4 à ETH, o próprio Konrad chegou a produzir e comercializar computadores em uma empresa com sede em Bad Hersfeld, no estado de Hessen. Em meados da década de 1960, porém, a firma foi comprada pela Siemens.

Memórias de um filho

Um de seus cinco filhos é Horst Zuse, de 63 anos, professor aposentado de Informática da TU Berlim. Apesar de também ter dedicado grande parte de sua vida à informática, Horst diz que aprendeu também com os erros do pai. "Lido melhor com dinheiro do que ele", exemplifica.

O filho conta que o pai obteve sucesso durante alguns anos em sua firma, "mas depois a concorrência pesada de empresas como Siemens, IBM e AEG lhe tornou a vida difícil".

O filho de Zuse prefere usar a palavra "respeito" em vez de "orgulho" quando discorre sobre a carreira do pai. Independente dos termos que emprega, o professor demonstra notável admiração ao frisar: "O especial do meu pai é que ele não só criou, mas também montou o primeiro computador. Por isso, sempre digo: Konrad Zuse foi não só o criador, mas também o construtor do primeiro computador no mundo".

Konrad Zuse faleceu em 18 de dezembro de 1995 em Hünfeld, no estado alemão de Hessen.

Autor: Elton Hubner
Revisão: Rodrigo Rimon