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Judeus formam grupo em partido populista de direita alemão

10 de outubro de 2018

Associações judaicas condenam iniciativa, apontando para caráter antidemocrático e xenófobo da AfD e sua relativização do Holocausto. Mas medo dos muçulmanos parece ser maior entre os integrantes da nova plataforma.

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Jüdische Bundesvereinigung in der AfD
Foto: picture-alliance/dpa/F.Rumpenhorst

A criação de uma plataforma judaica dentro do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) – a exemplo da Cristãos na AfD – tem despertado grande atenção muita crítica das associações judaicas no país.

Em sua apresentação pública, neste domingo (07/10), ficou claro que os membros da Judeus na AfD (JAfD) ainda não pensaram numa eventual bênção por um rabino, mas seu vice-presidente, Wolfgang Fuhl, nada teria contra esse tipo de aval.

Fuhl foi presidente do conselho superior da Comunidade Religiosa Israelita de Baden. Com visível satisfação, ele anunciou em Erbenheim, um distrito de Wiesbaden, capital do estado de Hessen, a formação do novo grupo, contando 19 integrantes, a maioria descendentes de Russlanddeutsche (russos de origem alemã).

"Queremos dar um sinal", pontificou um dos cofundadores, que prefere se manter anônimo e se recusa a falar à "imprensa das mentiras". "Eu, como judeu estrangeiro, sou membro da supostamente xenófoba AfD. Alguma coisa aqui não fecha. Ou somos nós os malucos, ou a Merkel!"

O debate sobre quem está maluco ou não vai continuar existindo depois da fundação do JAfD, assim como o estranhamento entre os judeus de fora e os de dentro da legenda de extrema direita. Antes mesmo do evento em Erbenheim, 17 organizações e associações judaicas criticaram severamente a iniciativa, em declaração conjunta.

"A AfD é um partido em que o ódio aos judeus e a relativização da Shoah, até mesmo sua negação, estão em casa. A AfD é antidemocrática, desumana e, em grande parte, radical de direita. O partido é um caso para o serviço de vigilância da Constituição, mas não para os judeus na Alemanha", consta da declaração assinada pelo Conselho Central dos Judeus da Alemanha, a Associação dos Judeus Tradicionais e a Conferência Geral dos Rabinos, entre outros.

Fuhl rebate as críticas com acusações de "dependência": "O Conselho Central dos Judeus está em oposição diametral a nós. As comunidades judaicas precisam de subsídios estatais na Alemanha, e nós rejeitamos isso." Segundo a maioria dos cofundadores da JAfD, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, além de tantos outros males, é responsável também por dividir os judeus do país.

O vice-presidente da facção judaica da AfD passa até mesmo por cima de um ponto polêmico no programa do partido, que exige, por razões supostamente humanitárias, o banimento do abate ritual de animais de corte segundo os preceitos semitas. "A proibição do abate ritual é um problema. Mas, na Suíça, as comunidades judaicas sobreviveram apesar dele. Na Alemanha, foram exterminadas", argumentou.

União dos Estudantes Judeus da Alemanha protesta em Frankfurt contra fundação de JAfD
União dos Estudantes Judeus da Alemanha protesta em Frankfurt contra fundação de JAfDFoto: picture-alliance/dpa/F.Rumpenhorst

O estilo marcial da cerimônia de fundação se fez sentir tanto dentro como fora da prefeitura de Erbenheim: enquanto na rua 18 vans da polícia mantinham vigilância, o salão fervilhava de seguranças e agentes à paisana, de fones no ouvido e óculos escuros.

De resto, o medo, sobretudo de migrantes muçulmanos, desempenhou papel importante no evento de fundação da facção JAfD. O cofundador Artur Abramovych rejeitou a visão de que as experiências dos judeus na diáspora pudessem levantar a uma maior compreensão com os refugiados ou apoio à migração.

"Essa imagem é equivocada, e esse é justamente o motivo por que estava mais do que na hora de se fundar a plataforma Judeus na AfD", declarou o judeu cujos pais imigraram da Ucrânia para a Alemanha quando ele tinha 2 anos.

O ativista judeu Sacha Stawski, criador do portal de internet Honestly Concerned, confirma serem sobretudo os judeus imigrados de idioma russo a simpatizar com a AfD. Isso se observa entre parte dos Russlanddeutsche, convencidos de que os refugiados islâmicos recebem muito mais ajuda para a integração do que os imigrantes judeus de dez ou 20 anos atrás.

Judeus contra judeus, cristãos contra cristãos: as facções religiosas dentro da Alternativa para a Alemanha são vistas com ceticismo pelos observadores externos ao partido. Recentemente, a Convenção Evangélica Alemã anunciou que não mais convidará representantes dos Cristãos na AfD para palestrar.

O deputado da AfD Volker Münz, porta-voz da facção cristã, diz não entender essa decisão. Ele defende que o programa do partido é compatível não só com o cristianismo, mas que o mesmo vale para a fé judaica: "A AfD é a força política de proteção aos judeus da Alemanha", afirma Münz.

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