Fusão de cervejarias
14 de julho de 2008A companhia belgo-brasileira InBev, dona das marcas Brahma, Antarctica e Beck's, entre outras, e a cervejaria americana Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser americana, anunciaram a fusão das duas companhias nesta segunda-feira (14/07) em Bruxelas.
O anúncio pôs fim à resistência da companhia americana de ser incorporada pela gigante belgo-brasileira. As companhias mencionaram um preço de compra em torno dos 52 bilhões de dólares. Acredita-se que as autoridades reguladoras americanas darão sinal verde à maior fusão do ramo de cervejarias da história.
A InBev se torna assim líder mundial do mercado de cerveja, mas se torna também herdeira da disputa histórica entre a cervejaria americana Anheuser-Busch e a companhia tcheca Budweiser Budvar pela marca Budweiser, que em países como Alemanha, Áustria, Portugal e China só pode ser vendida pela concorrente tcheca.
Famosa pelos sete minutos
Considerada pelos autores do livro The International Book of Beer (livro internacional da cerveja) uma das dez melhores cervejas do mundo e famosa pelos sete minutos que deve repousar quando servida como chope, a cerveja da cidade tcheca de Budweis é tão velha quanto a própria cidade. Ao fundá-la, em 1265, o rei boêmio Premysi Otakar 2° também lhe deu o direito de fabricar cerveja. Até o final do século 19, a cidade foi colonizada predominantemente por alemães.
A população tcheca aumentou devido à industrialização e, após a Segunda Guerra Mundial, os alemães foram forçados a abandonar a cidade de Budweis, que em tcheco se chama České Budějovice, mas que em alemão continuou com o nome que deu origem à famosa marca.
A cervejaria estatal Budweiser Budvar, responsável pela produção da Budweiser "original", foi fundada em 1895, tem cerca de 700 empregados e não é necessariamente uma concorrente do peso da InBev. No entanto, por se tratar da denominação de origem, os tchecos argumentam que somente eles podem vender a marca Budweiser.
Briga centenária
A concorrente americana Anheuser-Busch, que a partir da fusão com a companhia belgo-brasileira passará a se chamar Anheuser-Busch InBev, foi fundada pelos emigrantes alemães Eberhard Anheuser e Adolf Busch no século 19. A fama de boa qualidade da cerveja de Budweis fez com que, já em 1876, a companhia americana produzisse sua cerveja com o nome de Budweiser. Com o argumento de ser mais antiga que sua concorrente, os americanos defendem seu direito à marca.
A briga perdura desde 1911. Apesar de exportar para mais de 50 países, os tchecos foram proibidos de exportar sua cerveja para os Estados Unidos por 62 anos. Somente após o acordo entre as concorrentes, em 2001, a Budweiser tcheca pôde ser vendida nos EUA com o nome de Czechvar.
Por outro lado, em países como a Alemanha, Áustria, Portugal e China, que deram ganho de causa aos tchecos na queixa contra os americanos pela denominação de origem da cerveja, a Budweiser americana é vendida com o nome de Bud ou Anheuser-Busch Bud.
O problema do nome da marca
Sempre que um dos concorrentes tentava conquistar algum mercado internacional, iniciava-se o problema do nome da marca, o que deu origem a dezenas de processos que duram até hoje.
Até o ano passado, cerca de 40 processos judiciais, que em média duram de cinco a dez anos, e pelo menos 70 processos administrativos em diferentes escritórios nacionais de patentes estavam em andamento pela posse do nome da marca.
No Brasil, como nos Estados Unidos, a Budweiser tcheca é vendida com o nome Czechvar. Em alguns países, como no Reino Unido, ambas as rivais têm direito ao uso da marca Budweiser.
Mundialmente, a cerveja tcheca é vendida como Budweiser, Budvar ou Budweiser Budvar para se diferenciar da concorrente americana que agora passa a ser belgo-brasileira, sob a chefia do carioca Carlos Brito.