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Há 25 anos no poder, Lukashenko é refém do sistema que criou

Roman Goncharenko ca
10 de julho de 2019

Tendo conseguido se livrar do rótulo de "último ditador europeu" apesar do estilo autoritário, político celebra um quarto de século na presidência de Belarus. Mas seu maior desafio ainda está por vir: sua partida.

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Alexander Lukaschenko
Alexander Lukashenko cultiva estilo paternalista de liderança em BelarusFoto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen

Agora Alexander Lukashenko é o número um: desde a renúncia do presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, em março último, o bielorrusso conta como o chefe de Estado mais antigo no espaço pós-soviético. Nesta quarta-feira (10/07), o autocrata de 64 anos, de bigode marcante, celebra seu 25º aniversário no poder.

Em 10 de julho de 1994, quando o chefe de uma sovkhoz, uma grande empresa agrícola estatal, foi eleito o primeiro presidente de Belarus, fazia apenas três anos que a antiga república soviética na fronteira leste da União Europeia conquistara sua independência.

Na época, Lukashenko era popularmente chamado de Batjka (pai), e até hoje continua fiel a um estilo de liderança como pai da nação. Cuidar para que as vacas não estejam muito sujas e recebam alimento suficiente é típico do chefe de Estado Lukashenko: em março último, durante visita a uma empresa agrícola, demitiu vários funcionários, incluindo o ministro da Agricultura, devido ao miserável tratamento dado aos animais.

Costuma-se dizer que Lukashenko manteve uma espécie de "mini-União Soviética" em sua república de cerca de 10 milhões de habitantes. Isso pode ser entendido como uma referência ao setor industrial e agrícola relativamente bem-sucedido, que se beneficia do apoio estatal e, acima de tudo, da aliança política com a Rússia.

Mas isso também levou a uma dependência que a Rússia gosta de usar como instrumento de pressão, introduzindo, por exemplo, restrições de importação aos laticínios bielorrussos.

Entre os aspectos negativos de seu governo está o regime autoritário altamente personalizado. Lukashenko se apoia no serviço de inteligência, que ainda hoje é chamado em Belarus "KGB", como na União Soviética. Ele usou referendos para mudar leis e a Constituição, com o fim de deter mais poderes e poder ser reeleito infinitamente. O Parlamento foi privado de poderes, a oposição liberal foi marginalizada e a mídia, censurada. Alguns políticos da oposição desapareceram sem deixar vestígios, protestos foram reprimidos.

Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e de Belarus, Alexander Lukashenko
Vladimir Putin (esq.) tem feito pressão por mais aproximação com BelarusFoto: picture-alliance/AP Photo/D. Lovetsky

O cientista político Valery Karbalevich, autor de uma biografia do presidente, cita duas razões para o surgimento do regime autoritário em Belarus: "Primeiro, Lukashenko tinha fome de poder e não queria restrições. Em segundo lugar, havia um anseio na sociedade por uma ordem no sentido soviético."

No Ocidente, Lukashenko era considerado o "último ditador da Europa". A União Europeia impôs sanções contra ele e seu entorno no poder. Mas esses tempos acabaram desde a ingerência russa na Ucrânia, em 2014. Lukashenko se posicionou de forma neutra nessa crise e ganhou renome internacional graças às negociações sobre o leste da Ucrânia, na capital bielorrussa Minsk. O presidente também liberou alguns ativistas da oposição, abrindo caminho para a suspensão das sanções da UE, o que aconteceu em 2016.

No entanto o país não se tornou uma democracia. Segundo o representante especial da ONU para a situação dos direitos humanos em Belarus, estes continuam a ser regularmente violados naquele país do Leste Europeu.

A reaproximação com o Ocidente estava próxima de seu auge em fevereiro, para quando estava marcada a primeira participação de Lukashenko na Conferência de Segurança de Munique. Mas a viagem foi cancelada na última hora. A notícia veio depois do encontro de Lukashenko com o presidente russo, Vladimir Putin. Isso deu origem a especulações sobre uma possível correlação entre os fatos.

Desde o início, Lukashenko cultivou uma relação próxima com a Rússia. Com o antecessor de Putin, Boris Yeltsin, fundou em 1997 um Estado russo-bielorrusso, uma união que existe até agora, embora apenas no papel. Belarus foi também membro fundador da União Econômica da Eurasiática (UEE), um dos projetos favoritos de Putin, com o objetivo de reintegrar as antigas repúblicas soviéticas.

Mas nos últimos meses Lukashenko vem sentindo pressão crescente de Moscou por uma maior aproximação. Assim, a política econômica da Rússia levou Belarus a beneficiar-se menos do petróleo russo, do seu processamento e revenda ao Ocidente.

Também houve especulações de que o Kremlin quisesse ressuscitar o projeto do Estado russo-bielorrusso para possibilitar a reeleição de Putin. O chefe do Kremlin não pode mais se candidatar ao cargo depois de dois mandatos em 2024. Lukashenko temia por seu poder e rejeitou tais planos, se eles existissem. Apesar de criticar a Rússia com dureza excepcional, evitou ataques diretos a Putin.

O maior desafio para Lukashenko ainda está por vir: sua partida. Ele anunciou recentemente que a próxima eleição presidencial deve ocorrer como planejado em 2020, e que ele concorrerá novamente.

O presidente bielorrusso é um "refém" do sistema que ele mesmo criou, escreve Valery Karbalevich em sua biografia: "Lukashenko não tem escolha, senão tentar permanecer no poder por toda a vida", sentencia o autor, explicando que uma partida acarretaria mudança de regime, e um sucessor é praticamente inconcebível.

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