Heliópolis em tempos de coronavírus
Com estimados 220 mil habitantes, a maior favela de São Paulo é marcada por vulnerabilidade social e falta de acesso a saneamento básico, problemas que se tornam ainda mais graves em meio à pandemia do novo coronavírus.
As bases de Heliópolis
Com uma área de 1 milhão de m², o terreno de Heliópolis, zona Sudeste de São Paulo, pertencia a órgãos públicos, como o antigo Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social, a Petrobras e a Sabesp. Em 1971, os primeiros moradores foram levados provisoriamente à área pela prefeitura. Bastante precárias, as habitações eram feitas com madeiras e restos de plástico, papelão e metal.
Vulnerabilidade social
Na favela, hoje com uma população estimada em 220 mil pessoas, os barracos improvisados, aos poucos, deram lugar à alvenaria. As primeiras ações de urbanização datam de 1981, com o programa Pró-Água e Pró-Luz. Segundo a União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (Unas), fundada em 1978, muitas famílias ainda vivem em situação de vulnerabilidade social.
Acesso à saneamento básico
Acesso ao saneamento básico não é universal em São Paulo, a cidade mais rica do país. Dos 15.843 domicílios contabilizados em Heliópolis num levantamento da Secretaria de Habitação, 62% estão ligados à rede de esgotamento sanitário, e 83% têm abastecimento de água. Por outro lado, há muitas ligações ilegais. A coleta de lixo é regular na região e 94% das casas estão conectadas à rede elétrica.
Nas ruas contra a covid-19
Em Heliópolis, agentes comunitários de saúde e de meio ambiente visitam os moradores em suas casas. Durante a pandemia do novo coronavírus, o número de visitas diárias aumentou de cerca de 15 para 20. As agentes relatam que tiram muitas dúvidas sobre a covid-19 e que há muitas pessoas com sintomas da doença na comunidade, mas que a ausência de testes dificulta o diagnóstico.
Central Única das Favelas
A atual da sede da Central Única de Favelas (Cufa) em Heliópolis foi inaugurada em 2011. A ONG, presente em todos os estados do país, auxilia 250 favelas no estado de São Paulo com cestas básicas, além de encabeçar vários projetos sociais. Fundada no fim da década de 1990 no Rio de Janeiro pelo rapper MV Bill, a Cufa organiza atividades nas áreas da educação, lazer, esportes, cultura e cidadania
Solidariedade contra a fome
Para ajudar a combater o coronavírus e a fome durante a pandemia, a Cufa lançou uma campanha nacional de arrecadação de alimentos e itens de higiene. Participantes podem ainda doar 120 reais em dinheiro, que é repassado às mães das favelas. Os alimentos chegam de todas as partes do Brasil, doados por grandes empresas, supermercados e anônimos.
Socorro a comércios locais
A quarentena imposta para conter o avanço do coronavírus e a queda da renda entre os moradores impactaram o comércio local. Uma das soluções encontradas pela Cufa é estimular doadores externos a comprar alimentos nos pequenos mercados de Heliópolis. O comércio de Cícero Silva tem recebido depósitos em dinheiro, que são convertidos em cestas básicas para a comunidade.
Mulheres e homens de Heliópolis
O motoboy Tiago, 33 anos, guarda o frango que recebeu de Marcivan Barreto, coordenador da Cufa em Heliópolis. Há 12 anos na comunidade, Tiago perdeu quase todas as fontes de trabalho informal desde que a pandemia começou. Ele tem três filhos para sustentar e paga 800 reais de aluguel. "Faltam duas parcelas para eu acabar de pagar o seguro da moto. Tenho medo do que vai acontecer", diz.