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Há cem anos nascia Kopelev, autor entre Rússia e Alemanha

15 de abril de 2012

Expulso da pátria russa após uma emboscada do regime soviético, escritor dissidente optou em viver na Alemanha, onde morreu aos 85 anos. Adotou a reconciliação teuto-russa como missão de vida.

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Foto: picture-alliance

Em entrevista à Deutsche Welle em novembro de 1992, Lev Kopelev afirmou: "Não existe outro exemplo de tamanha conexão entre dois povos como é a história do conhecimento mútuo entre alemães e russos". Esse era o foco de seus estudos em Wuppertal, no oeste da Alemanha. Durante dez anos, o escritor nascido em 9 de abril de 1912 em Kiev pesquisou as relações teuto-russas na universidade local.

Por mais que se sentisse ligado à terra de Goethe, Schiller e Thomas Mann, não foi por livre e espontânea vontade que ele passou os últimos anos de sua existência no país. Em fevereiro de 1981, o então chefe do Partido Comunista Russo, Leonid Brejnev, assinara sua expatriação. Na ocasião, Kopelev estava na Alemanha, pela primeira vez na vida.

Antes, ele fora repetidamente convidado para visitar o país, primeiramente pelo prêmio Nobel da Literatura Heinrich Böll, durante uma visita a Moscou em 1962. Na época, Kopelev queria ir à Alemanha, mas não podia. Os pedidos seus e de sua esposa Raissa Orlova – também escritora – eram sistematicamente negados. Em certo ponto, ambos desistiram da intenção.

O casal só voltou a apresentar um novo requerimento no início dos anos 80, a partir da promessa do regime soviético ao então chanceler federal alemão, Willy Brandt, de que os Kopelev poderiam retornar ao país de origem após a viagem. Esse era um ponto importante para o autor: a União Soviética era sua pátria. Uma pátria que ele amava. Apesar de tudo.

Esperança de reformar o regime

Lev Sinovievitch Kopelev nasceu na Ucrânia, na época parte da URSS. Filho de um agrônomo, estudou Germanística, Filosofia, Literatura e História e era considerado um paradigma moral. Em 1941, alistou-se no Exército Vermelho e tentou impedir os atos de crueldade durante a invasão da Prússia Oriental. Condenado por "propaganda burguês-humanista de compaixão com o inimigo", teve que passar quase dez anos na prisão.

Lew Kopelew als Sowjetmajor
Major soviético: Kopelev em 1945Foto: picture-alliance/dpa

Reabilitado em 1956, após a morte de Josef Stalin, tornou-se docente em Moscou. Porém, devido a seu empenho em prol dos críticos do regime a partir de 1966, as chicanas do Estado soviético voltaram a se intensificar. Após a experiência terrível nos campos de concentração do Gulag e a marcha das tropas do Pacto de Varsóvia sobre Praga e outras cidades, Kopelev renegou o comunismo, no qual depositara esperanças por tanto tempo.

Mais tarde comentaria assim esse processo: "Quando nos manifestamos contra a perseguição injusta de gente que pensava diferente, não se tratava de uma luta contra o regime. Queríamos tornar o regime justo. Queríamos aprimorá-lo, Queríamos reformá-lo. Não éramos revolucionários". Durante muito tempo, Kopelev e seus correligionários acreditaram ser possível reformar o regime soviético.

Porém em 1981 o Kremlin não mais os queria. "Pensávamos que as intenções deles eram honestas, que era um acordo entre cavalheiros", comentariam Kopelev e a esposa mais tarde, em relação à permissão de viajar. Na verdade, fora uma armadilha e, para o casal, um choque. "Ficamos amargurados e desolados." Por outro lado, a expatriação foi também "uma libertação de todas as obrigações em relação ao Estado soviético":

De novo em Moscou

A cidade alemã de Colônia tornou-se a nova casa do casal. Era a partir dali que Kopelev lutava pela reconciliação entre russos e alemães. Em seu projeto de pesquisa em Wuppertal, ele estudou sobre a imagem que os russos faziam da Alemanha e a que a Rússia fazia dos alemães. E novamente encontrou Heinrich Böll, com quem mantivera uma amizade por correspondência durante duas décadas, desde a viagem do alemão a Moscou. Mais tarde, o dissidente russo declararia: "Ele foi uma das pessoas mais importantes de minha vida". Quando Böll faleceu, em 1985, Kopelev foi um dos que carregaram seu caixão.

Lew Kopelew und Heinrich Böll
Kopelev (dir.) e o amigo e escritor alemão Heinrich Böll, em 1980Foto: picture-alliance/dpa

O caminho do russo terminou em 18 de junho de 1997, em Colônia. Sua urna foi trasladada para Moscou, e suas cinzas sepultadas no Cemitério Donskoi, ao lado da esposa Raissa. Graças às mudanças políticas no Kremlin, o escritor ainda pudera visitar várias vezes a pátria russa, mas não quisera mais permanecer.

Em Colônia, às margens do Rio Reno, desde 2009 o Lew Kopelew Weg – um caminho de terra no Parque Beethoven – relembra o grande conciliador. Desde 2001, o fórum que leva seu nome concede, a intervalos irregulares, o Prêmio Lev Kopelev a pessoas, projetos ou organizações que atuam segundo o espírito do autor – entre duas pátrias.

Autoria: Michael Borgers (av)
Revisão: Luisa Frey