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"Guerra do chocolate" opõe Ritter Sport e órgão de defesa do consumidor

Marcio Damasceno15 de janeiro de 2014

Disputa judicial em torno de um aromatizante é acompanhada com atenção na Alemanha. Em jogo está a imagem de duas instituições nacionais: a marca de chocolates Ritter Sport e a Fundação Warentest, que avalia produtos.

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Foto: picture-alliance/dpa

A disputa judicial entre uma tradicional marca de chocolates e um influente órgão de proteção dos consumidores provoca há dias polêmica na Alemanha. Em jogo está o prestígio de duas grandes marcas do país. O último capítulo do duelo foi nesta segunda-feira (13/01), quando um tribunal regional de Munique deu ganho de causa à Ritter Sport, que pode continuar sustentando só utilizar ingredientes naturais em seus produtos.

A Fundação Warentest (literalmente "teste de produtos") prometeu recorrer da sentença mas, ao menos por enquanto, está proibida de acusar a Ritter Sport de incluir aromatizante artificial em suas receitas, sob o risco de pagar multa de 250 mil euros. Essa é uma das poucas derrotas judiciais que a reconhecida entidade já sofreu em seus quase 50 anos de existência.

O início da chamada Schokoladenstreit (literalmente "briga do chocolate") foi no fim de novembro, quando a Fundação Warentest deu nota baixa à Ritter Sport Voll-Nuss, barra de chocolate ao leite com avelãs da série de chocolates Ritter Sport, numa avaliação publicada em sua revista Test. A justificativa foi que um aromatizante usado na barra é artificial, embora a empresa afirme só empregar ingredientes naturais.

LOGO Stiftung Warentest
Produtos com boas notas imprimem marca em suas embalagens

Na interpretação do tribunal de Munique, a Ritter Sport tem razão ao afirmar que um aromatizante da composição de seus chocolates é natural. A empresa argumenta que a substância, chamada heliotropina, usada para dar aroma de baunilha e amêndoas a seus produtos, é natural, já que é extraída de plantas.

Mais de cem mil produtos avaliados

A heliotropina tanto pode ser obtida quimicamente como extraída de matérias-primas naturais. A Fundação Warentest argumenta que a Ritter Sport não conseguiria obter tanta heliotropia de origem natural para abastecer sua produção. Já a Ritter rebate que seu fornecedor de heliotropina garante a origem natural do produto.

Oficialmente, a Fundação Warentest é um "instituto para análises comparativas de mercadorias e serviços" e publica mensalmente a revista Test, que traz exames detalhados de diversos produtos, divulgando notas para cada um deles, de acordo com quesitos como qualidade, durabilidade, praticidade, conforto, entre outros.

Desde sua criação, em 1964, a Fundação Warentest já analisou mais de 100 mil produtos. Uma derrota diante dos tribunais pode abalar uma das instituições com maior credibilidade na Alemanha. Por isso, a indústria alemã observa atentamente o resultado desse duelo.

Stiftung Warentest
Revista "Test" é a "bíblia" do consumidor alemãoFoto: Stiftung Warentest

Melhor reputação que a polícia

Financiada parcialmente pelo governo alemão, a Fundação Warentest tem melhor reputação entre os alemães que a polícia, a Cruz Vermelha e o Greenpeace. Uma sondagem constatou que um terço dos consumidores do país guia suas decisões de compra de acordo com os resultados apresentados pela organização.

Uma nota baixa dada pela fundação a um produto pode causar grandes prejuízos ao fabricante. Já as notas altas da Warentest são sinônimo de aumento de vendas e são exibidas com orgulho nas embalagens das mercadorias, juntamente com a logomarca da fundação.

Poucas empresas se arriscam a entrar numa batalha judicial contra a Fundação Warentest. De acordo com a própria instituição − que testa mais de dois mil produtos por ano −, apenas entre quatro e cinco empresas recorrem anualmente a um tribunal para tentar contestar a entidade. "Nunca tivemos que pagar uma indenização", enfatiza um porta-voz do órgão.