Governo lança plano de vacinação, mas não define datas
16 de dezembro de 2020O governo federal lançou oficialmente o programa nacional de vacinação contra a covid-19 em uma cerimônia no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (16/12).
O plano já havia sido revelado pelo Ministério da Saúde no último sábado, após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), e na ocasião provocou críticas pela falta de datas e protocolos de segurança. Cientistas que foram apontados como "colaboradores" também afirmaram que nunca haviam visto o documento.
Desta vez, a estratégia do governo foi apresentada diretamente pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, e pelo presidente Jair Bolsonaro. O novo documento ainda não contém nenhuma data, mas tem algumas novidades, como a informação de que o governo firmou um memorando de entendimento para a compra da Coronavac, a vacina desenvolvida pela chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista.
Na apresentação do plano, Pazuello, afirmou que a vacinação em massa pode começar em fevereiro, mas não deu uma data específica. Não é a primeira previsão do tipo. Ele já afirmou em ocasiões anteriores que a vacinação poderia começar em dezembro deste ano, em janeiro ou em março.
O documento ainda elevou de 300 milhões para 350 milhões o total de doses apontadas como "em negociação". No entanto, o governo não informou se há um acordo fechado com o Butantan, que está no centro de uma disputa política entre Bolsonaro e o governador João Doria.
Numa cerimônia que reuniu mais de cem pessoas em Brasília, e na qual poucos usaram máscara, Bolsonaro, que desde o surgimento do coronavírus no país já fez várias declarações minimizando a doença, afirmou que a covid-19 sempre foi motivo de preocupação. "Realmente, nos afligiu desde o início. Não sabíamos o que era esse vírus, como ainda não sabemos em grande parte. E nós todos, irmanados, estamos na iminência de apresentar uma alternativa concreta para nos livrarmos desse mal", afirmou.
Ele disse que, se houve exageros entre membros do governo durante o avanço da pandemia no país, foi "no afã de encontrar uma solução". Não ficou claro se o presidente se referia às várias ocasiões em que ele e pessoas de seu círculo mais próximo defenderam o uso da hidroxicloroquina no tratamento da doença, apesar de alertas de várias entidades de saúde, que não recomendam o uso do medicamento e não atestam sua eficácia.
Nesta semana, Bolsonaro chegou a afirmar que não vai se vacinar. "Se alguém achar que minha vida está em risco, o problema é meu e ponto final", disse em entrevista à TV Bandeirantes. "Esse vírus é igual a uma chuva, vai pegar em todo mundo."
Pazuello, por sua vez, disse que não há motivo para "ansiedade" para o início da vacinação. "Nós somos os maiores fabricantes de vacinas da América Latina. Pra que essa ansiedade, essa angústia?", questionou Pazuello. No momento, o Brasil acumula mais de 182 mil mortes por covid-19.
Coronavac na lista
O governo pretende vacinar já na primeira fase da campanha 51 milhões de pessoas, que receberão 108,3 milhões de doses uma vez que a vacina requer duas aplicações. Calcula-se que em torno de 5% das doses sejam perdidas durante o transporte ou a aplicação.
Segundo o plano, a campanha de vacinação deve durar 16 meses – quatro para a imunização dos grupos prioritários e mais 12 para a população em geral.
Segundo a estratégia do governo federal, a vacinação será disponibilizada primeiramente aos grupos considerados vulneráveis, como os idosos e profissionais de saúde.
A Coronavac, que não estava incluída no plano original do governo e se tornou o centro de uma disputa política no país, foi incluída pelo Ministério da Saúde na lista chamada de "adesão do Brasil às vacinas", que inclui os imunizantes da Universidade de Oxford e AstraZeneca, Pfizer-Biontech, Moderna e Janssen.
Também consta na lista a iniciativa Covax Facilitx, o consórcio internacional liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que visa garantir a distribuição global da vacina.
Sem data para vacinação
O ministro da Saúde explicou que as vacinas serão enviadas com a supervisão das Forças Armadas aos governos estaduais, que irão redistribuí-las aos municípios.
Ele, porém, se recusou a dar uma data provável para o início da vacinação, mas disse que poderá ser em meados de fevereiro. O ministro observou a necessidade de registro das vacinas, antes que estas possam ser distribuídas, e pregou a obediência aos prazos, sem determinar um período para que isso venha a ocorrer.
Sobre o termo de responsabilidade para as pessoas que queiram ser vacinadas, sugerido pelo presidente Bolsonaro, Pazuello disse que, se isso for aplicado, será para vacinas aprovadas em caráter emergencial. No entanto, nenhum país do mundo, nem aqueles que já vem aplicando vacinas aprovadas em caráter emergencial, como EUA e Reino Unido, vem exigindo esse tipo de termo dos pacientes. A medida foi criticada por especialistas, que apontam que o governo está querendo assustar e desestimular a população a se vacinar.
A atitude do presidente, que já afirmou várias vezes que não pretende tomar vacina, em contraste com outros líderes mundiais, que pretendem dar o exemplo, parece estar tendo um efeito da população. Segundo o Datafolha, cresceu a parcela de brasileiros que não querem tomar vacina contra a covid-19. Eram 9% em agosto. Agora são 22%. O percentual é ainda mais alto entre aqueles que se identificam como apoiadores de Bolsonaro.
Licitação para seringas
Paralelamente à cerimônia de lançamento do plano, o Ministério da Saúde abriu nesta quarta-feira uma licitação para "possível e futura aquisição" de 331 milhões de seringas e agulhas a serem usadas na campanha nacional de imunização. A previsão é que a abertura de propostas ocorra no fim do mês. A demora do governo em adquirir o material para a aplicação de vacinas têm sido motivo de críticas.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) aponta que a indústria brasileira precisaria de sete meses para fabricar tantas seringas.
"Em agosto, o governo organizou uma reunião com os três fabricantes, mas, daí para frente, nada mais aconteceu de concreto. E já estamos em dezembro; isso deveria estar decidido no máximo em setembro", disse ao jornal o presidente da Abimo, Paulo Henrique Fraccaro.
RC/JPS/ots