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Governo Bolsonaro chega ao G20 em atrito com europeus

27 de junho de 2019

Merkel e Macron manifestam preocupação com política ambiental brasileira, e presidente rebate afirmando que não foi ao Japão para ser advertido. General Heleno diz para Alemanha e França "procurarem sua turma".

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O presidente Jair Bolsonaro no Japão
Bolsonaro disse que não foi ao G20 "para ser advertido por outros países"Foto: Agência Brasil/A. Santos

Pouco depois de chegarem ao Japão para a cúpula do G20, o presidente Jair Bolsonaro e sua comitiva reagiram duramente às declarações de líderes europeus que manifestaram preocupação com a política ambiental do Brasil. O principal alvo dos brasileiros foi a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, que disse desejar ter uma discussão com Bolsonaro sobre o desmatamento.

O presidente não reagiu bem à fala da alemã e disse que o "presidente do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores que vieram para serem advertidos por outros países".

Ele ainda afirmou que os alemães têm "a aprender" com os brasileiros. "Nós temos exemplo para dar para a Alemanha sobre meio ambiente, a indústria deles continua sendo fóssil, em grande parte de carvão, e a nossa não. Então eles têm a aprender muito conosco", comentou o brasileiro.

Mais tarde, foi a vez de o general Augusto Heleno, titular do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), reagir – de maneira mais exaltada – não só à fala de Merkel, mas também a uma declaração do presidente francês, Emmanuel Macron, de que a França não assinará qualquer acordo comercial com o Mercosul caso o Brasil se retire do Acordo de Paris sobre o clima, como já ameaçou Bolsonaro.

Heleno disse que os europeus não têm moral para criticar a política ambiental do Brasil. "A política de meio ambiente é totalmente injusta ao Brasil. O Brasil é um dos países que mais preserva meio ambiente no mundo. Quem tem moral para falar da preservação de meio ambiente do Brasil?", disse o ministro. "Estes países que criticam? Vão procurar a sua turma."

Merkel sobre situação no Brasil: "Dramática"

Ele ainda acusou os europeus de derrubarem suas próprias florestas e insinuou que países da Europa cobiçam as riquezas naturais brasileiras.

"O que não pode é país dar palpite no Brasil. A gente não dá palpite em ninguém. Por que a gente não dá palpite no meio ambiente da Alemanha? Quais são as florestas que o europeu preservou? Vejam o que a Europa tinha de floresta no início do século e o que tem hoje", disse Heleno, cometendo um equívoco, já que a Europa tem hoje uma cobertura florestal maior do que no início do século 20 – na Alemanha, um terço do território é coberto por florestas.

"Nunca lembraram disso, agora vêm para cima do Brasil? É muita coincidência, né, um país rico como o Brasil é, e eles vêm cobrar a preservação do meio ambiente da gente", completou.

O ministro também disse a jornalistas acreditar que os europeus só manifestam preocupação com as florestas brasileiras porque supostamente pretendem explorá-las no futuro.

"Eu não tenho nenhuma dúvida, eu nunca tive nenhuma dúvida. Estratégia de preservar o meio ambiente do Brasil para mais tarde eles explorarem. Está cheio de ONG por trás deles, ONG sabidamente a serviço de governos estrangeiros. Vocês têm que ler mais um pouco sobre isso, viu? Vocês estão muito mal informados."

Na quarta-feira, em sessão no Bundestag (Parlamento alemão), Merkel disse ver com "grande preocupação" a situação no Brasil, que descreveu como "dramática" sob o governo de Bolsonaro nas questões ambientais e de direitos humanos.

A chanceler respondia a uma pergunta da deputada do Partido Verde Anja Hajduk, que questionou se a Alemanha deveria seguir investindo nas negociações de livre-comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul, no momento em que ambientalistas, cientistas e defensores dos direitos humanos denunciam uma deterioração nessas frentes no Brasil.

Para a parlamentar, a UE deveria usar seu peso econômico como instrumento de pressão para que direitos humanos e a defesa do meio ambiente sejam observados em outras partes do mundo, como na América do Sul. Em resposta, Merkel reiterou seu apoio a um desfecho rápido para as negociações de livre-comércio e disse que, em sua visão, a resposta para a situação no Brasil hoje não está em abrir mão de um acordo com o Mercosul.

"Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E a oportunidade será utilizada, durante a cúpula do G20, para falar diretamente sobre o tema, porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil", afirmou Merkel na ocasião.

"Eu não acho que não levar adiante um acordo com o Mercosul vá fazer com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. Pelo contrário", completou a alemã. "Eu vou fazer o que for possível, dentro das minhas forças, para que o que acontece no Brasil não aconteça mais, sem superestimar as possibilidades que tenho. Mas não buscar o acordo de livre-comércio, certamente, não é a resposta para essa questão."

Já Macron foi mais direto sobre o que espera dos brasileiros. "Se o Brasil deixar o acordo de Paris, até onde nos diz respeito, não poderemos assinar o acordo comercial com eles", disse o presidente da França a jornalistas no Japão, antes do encontro do G20.

Um desfecho das negociações entre UE e Mercosul, que se arrastam há mais de duas décadas, é dado como próximo por ambas as partes.

No último dia 13 de junho, a comissária da UE para o Comércio, Cecilia Malmström, afirmou que a conclusão das negociações é sua "prioridade número um" e que pretende fechar o pacto antes do término do atual mandato da Comissão Europeia, em 31 de dezembro.

JPS/ots

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