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EducaçãoBrasil

Futuros professores precisam ser valorizados

Isadora Aragão Carvalho
Isadora Aragão Carvalho
12 de maio de 2022

Nós, estudantes de licenciatura, lutamos para elevar a educação no Brasil. Fazemos um trabalho formidável, e, com mais valorização e atenção das instituições, sequer o céu seria o limite, escreve estudante do Piauí.

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Isadora Aragão Carvalho
"Eu aprendi a gostar de lecionar dentro do curso que, mesmo com as dificuldades, mostrou-se como uma atividade realizadora para mim", diz IsadoraFoto: privat

Venho de uma família de professoras. Minha mãe é professora, minha tia é professora, e minhas primas são professoras. Se minha avó tivesse tido acesso aos estudos, tenho certeza de que seria professora também. Não sei se entrei para o curso de Letras – Português e Francês na Universidade Federal do Piauí – por destino familiar ou vontade própria, mas, independentemente das causas, sou apaixonada por Letras e não teria escolhido outra área.

No Piauí, o incentivo à educação é fortíssimo (já foi maior, mas ainda se mantém). Considera-se que as vias de sucesso para quem não é herdeiro são passar em algum concurso público ou conseguir uma estabilidade maior tendo um diploma de ensino superior. Inclusive, é repassada uma lenda urbana de que, anos atrás, havia um outdoor em algum estado do Sudeste onde estava escrito: "Se quiser passar em um concurso, mate um piauiense." Não sei qual a veracidade do fato, mas, mesmo sendo falso, ilustra o que quero dizer.

Porém, o ensino superior do Piauí é jovem. A Universidade Federal do Piauí foi fundada em 1972, e a Universidade Estadual do Piauí, em 1986. Portanto, minha geração dentro da família foi a mais jovem a ter acesso ao ensino superior (eu tinha 20 anos quando ingressei), enquanto a geração de minha mãe já veio formar-se depois dos 30 ou 40 anos.

Dentro da instituição, quando fui observar a lista de cursos ofertados no campus da capital, Teresina, percebi várias opções de matérias de licenciatura, sendo provavelmente as mais presentes na instituição, com diversas matérias dentro da grade curricular voltadas a auxiliar novos alunos a se tornarem bons profissionais da educação.

Os desafios do estágio obrigatório

Já no meu primeiro dia na instituição, tive uma matéria chamada "Seminário de Introdução ao Curso", na qual vários professores e formados na área foram convidados para palestras e debates sobre as diversas áreas de Letras da Federal: Inglês, Libras, Português e Português com Francês. Além de falarem de áreas mais técnicas da pesquisa dentro das áreas de linguística e literatura, várias horas foram dedicadas ao papel do professor e seus desafios em sala de aula. Posteriormente, diversas disciplinas voltadas para a área da educação foram apresentadas ao longo do curso, ressaltando os problemas e desafios que nós, professores, encontramos no dia a dia.

Tais desafios presenciei quando comecei a cursar minhas primeiras disciplinas de estágio na universidade, obrigatório e não remunerado. Enfrentamos diversas situações complicadas por falta de escolas próximas e uma ausência da relação das escolas que permitem alunos estagiários, ficando a cargo dos próprios alunos rodar a cidade inteira em busca de alguma instituição que nos aceite. E, mesmo antes da pandemia, a rede de transporte público já era sucateada e extremamente insatisfatória, sendo necessário tirar do próprio bolso o dinheiro de dois a três ônibus.

Falta de vagas remuneradas

Bolsas para residência pedagógica e outros incentivos à pesquisa e docência eram poucos, disponibilizando pouquíssimas vagas remuneradas para os estudantes de licenciatura, havendo pouca atenção para a permanência e incentivo desses futuros professores dentro do curso, do qual a maioria esmagadora é integral. Eu mesma já cheguei a ter aulas pela manhã, tarde e noite em diversos períodos, o que impede alunos de estudar e trabalhar ao mesmo tempo.

Sendo a educação um ponto importante do nosso estado, um dos mais elogiados no país no quesito, é essencial uma valorização de nossas licenciaturas e professores recém-formados, com incentivos de permanência na universidade, reformulação das grades voltadas para as disciplinas de educação e mais eventos orientados para a área, promovendo a união e a troca de conhecimento entre os estudantes de licenciatura.

Eu aprendi a gostar de lecionar dentro do curso que, mesmo com as dificuldades, mostrou-se como uma atividade realizadora para mim. Apesar do pouco incentivo, tive apoio de colegas, da família e dos professores que me fizeram entender que é possível e que eu posso. Letras é, com certeza, um curso para o qual incentivo o ingresso, pelo conteúdo enriquecedor e a paixão que ele desperta.

Nós, estudantes de licenciatura, nos esforçamos e lutamos para elevar a educação no Piauí e no Brasil. Fazemos um trabalho formidável, e, com mais valorização e atenção das instituições, sequer o céu seria o limite.

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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1

A autora deste texto é a estudante de Letras Isadora Aragão Carvalho, de 26 anos e natural de Teresina, no Piauí.

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.