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Triângulo amoroso entre Schiller e duas irmãs

Jochen Kürten (av)2 de agosto de 2014

"As queridas irmãs" é melodrama histórico em que as palavras são o verdadeiro protagonista. Intenção do diretor era mostrar "como se fala e escreve sobre sentimentos".

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Foto: picture-alliance/dpa

Quatro anos atrás, Goethe! atraiu multidões de espectadores aos cinemas alemães. Antes do lançamento, muitos estavam céticos de que um filme histórico alemão sobre o "Príncipe dos Poetas" do classicismo tivesse alguma chance.

Mas a obra de Philipp Stölzl, com o jovem ator Alexander Fehling no papel-título, tornou-se um surpreendente sucesso de bilheteria. Também pelo fato de o diretor ter optado por uma encenação leve, colocando em primeiro plano as peripécias amorosas do autor, e não suas grandes façanhas literárias.

Seu colega Dominik Graf igualmente apostou no amor, em lugar da literatura clássica, no sentimento, em vez de arroubos intelectuais. Mas seu Die geliebten Schwestern (literalmente: As queridas irmãs) não é nenhum dramalhão sobre a vida privada de um poeta famoso, e sim um sutil melodrama sobre Friedrich Schiller e o seu mundo afetivo, encenado com sensibilidade.

Palavras no papel principal

Graf não hesitou em dedicar bastante espaço aos diálogos e pensamentos – à fala, em seu sentido original. "No filme, o papel principal é das palavras", observou por ocasião da estreia mundial da película, em fevereiro último, no festival internacional de cinema Berlinale.

Agora, Die geliebten Schwestern chega às salas de exibição da Alemanha. Comparado aos 170 minutos apresentados no festival, ele está meia hora mais curto, o que certamente é uma concessão ao público.

Dreharbeiten Die geliebten Schwestern
"As queridas irmãs" também será exibido como minissérieFoto: picture-alliance/dpa

Após a estreia em Berlim, as críticas foram predominantemente positivas, mas muitos também apontaram que o seria filme um tanto longo demais. E, embora há anos Dominik Graf se mostre um dos mais experientes diretores de cinema e televisão do país, quase três horas de um clássico literário na tela deve ter parecido um tanto arriscado demais à distribuidora.

Um consolo para os fãs do cineasta, porém, é que está prevista a exibição na TV da versão completa, dividida em episódios. O intenso interesse despertado no exterior pela estreia na Berlinale deve ter igualmente inspirado aos produtores otimismo para o lançamento nas salas de exibição comerciais: a película já foi vendida para diversos países, inclusive os Estados Unidos.

Linguagem como "disfarce" para atores

A trama das "queridas irmãs" começa em 1788, na cidade de Rudolstadt, na Turíngia. Caroline von Beulwitz e Charlotte von Lengefeld, nobres, porém pouco abastadas, passam um verão feliz com Schiller, que ainda está no início de sua carreira como autor.

É um amor a três, a utopia da convivência livre, a tentativa de superar barreiras e convenções burguesas. Os três conversam, discutem, passeiam pelos bosques, falam sobre o espírito e o coração. O cineasta diz que sua intenção foi mostrar "como se fala e escreve sobre sentimentos".

Graf não se ateve apenas a encenar com arte os diálogos entre os três protagonistas: ele próprio também fala em off. "Porque eu tenho uma imagem tão precisa de como devia soar, que não queria incomodar nenhum locutor. Posso ser leigo em locução, mas tive a impressão que precisava me intrometer."

Berlinale 2014 Pressekonferenz PK Die Geliebten Schwestern
Dominik Graf (d) com os protagonistas (da esq. para a dir.) Florian Stetter, Henriette Confurius e Hannah HerzsprungFoto: Reuters

E assim o espectador mergulha fundo no mundo do poeta, escuta suas anotações no diário e nas cartas às duas irmãs amadas. Dominik Graf concebeu um filme histórico realista, porém sem colocar figurinos e cenários em primeiro plano.

"Quando os atores penetram num mundo passado como este, eles levam a linguagem dos diálogos como sua forma mais forte de disfarce. É quase mais forte do que uma peruca ou um figurino." E como os atores adaptaram a linguagem, sua consciência dos papéis e das personagens fica mais afiada, afirma o cineasta.

Exatidão dos fatos em segundo plano

Friedrich Schiller hoje é célebre por peças teatrais como Os bandoleiros e Maria Stuart, e é o grande poeta do classicismo alemão, ao lado de Johann Wolfgang von Goethe. Juntos, os dois são a acepção da "terra dos poetas e pensadores". Porém o diretor Graf não se preocupou com a reprodução historicamente acurada dos fatos.

"Existe uma corrente de eventos em torno das três personagens que se pode acompanhar, nos 13 anos narrados. Mas, por vezes, eu os misturei, por achar dramaturgicamente mais emocionante, assim. Nesse sentido, é possível que o fã-clube de Schiller vá cair em cima de mim."

Kinofilm "Die geliebten Schwestern"
Mundo interior de Schiller é revelado em seus escritosFoto: picture-alliance/dpa

Tal postura combina com a imagem de Dominik Graf de cineasta que gosta de riscos, expressada em seu constante vai-e-vem entre a grande e a pequena tela. Ele rodou tanto policiais para a TV quanto filmes de gênero com profundidade, para o cinema. E agora aventurou-se, justamente, pelo filme histórico.

"Eu pensei: vou fazer assim, agora. Uma outra desculpa, não tenho." E nem precisa: Die geliebten Schwestern é uma bem sucedida produção alemã sobre uma época há muito esquecida, uma obra de arte que não esquece de também entreter.