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FilmeItália

Festival de Veneza começa em meio à pandemia

Matthias Beckonert
2 de setembro de 2020

Evento será o primeiro do gênero a ser realizado presencialmente após cancelamentos e adiamentos causados pela covid-19. Mudanças são feitas para evitar infecções e uso de máscara é obrigatório durante as sessões.

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Leão de Ouro, o disputado troféu do Festival Internacional de Cinema de Veneza
Leão de Ouro, o disputado troféu do Festival Internacional de Cinema de VenezaFoto: La Biennale di Venezia /ASAC

O Festival Internacional de Cinema de Veneza sempre foi um destaque da temporada anual de filmes. Para a 77ª edição deste ano, no entanto, a atenção se volta ainda mais para o grande evento na ilha de Lido: a "Biennale di Venezia", afinal, é o primeiro grande festival a ocorrer presencialmente desde o início da pandemia de covid-19. O evento começa nesta quarta-feira (02/09) e vai até 12 de setembro.

Para o diretor do festival, Alberto Barbera, a decisão de não ter se rendido ao formato virtual ou não ter cancelado o evento por completo – como foi o caso do festival de Cannes – representa um "sinal de confiança e de apoio concreto" para a indústria cinematográfica.

Em coordenação com as autoridades sanitárias, foram, porém, introduzidas algumas mudanças. Os ingressos, por exemplo, só podem ser comprados com antecedência e online. O número de projeções também foi ampliado, na esperança de distribuir melhor os visitantes. Dois novos cinemas ao ar livre foram construídos para acomodar o aumento na quantidade de sessões. Além disso, cada visitante terá sua temperatura medida antes de entrar, e dentro da sala de cinema, o uso de máscara é obrigatório – isso sempre mantendo um assento livre entre duas pessoas.

A programação também foi reduzida. A mostra Clássicos de Veneza, dedicada a filmes clássicos restaurados, será transferida para o festival Il Cinema Ri-trovato, de Bolonha, enquanto a mostra Sconfini, de obras mais experimentais, foi suspensa. Por fim, o concurso Venice VR Expanded, lançado em 2017 para homenagear as melhores contribuições em realidade virtual, será realizado online. Apesar das alterações, para Barbera, "o coração do festival" foi salvo.

 A atriz Frances McDormand em cena do filme "Nomadland"
Em "Nomadland", Frances McDormand interpreta a protagonista Fern Foto: picture-alliance/Everett Collection/Searchlight Pictures

Coração do festival, neste caso, são os filmes que concorrem ao Leão de Ouro de melhor filme. Em 2020, eles são 18 – apenas um pouco menos do que o normal, mas com uma seleção mais variada do que de costume. Há ainda visivelmente menos produções americanas na lista, já que muitos dos principais lançamentos de Hollywood tiveram suas estreias adiadas devido à pandemia.

Sendo assim, o drama Nomadland, de Chloe Zhao, é o único filme com um elenco realmente de peso. Nele, Frances McDormand, já duas vezes vencedora do Oscar (Fargo e Três Anúncios Para Um Crime), interpreta uma mulher de 60 anos que perdeu tudo na crise econômica global e decide viajar pelo oeste dos Estados Unidos como uma nômade moderna.

Quem domina o festival nesta edição é o cinema italiano, com quatro dos 18 candidatos a Leão de Ouro, além de abrir o evento com Lacci, do diretor Daniele Luchetti, exibido fora da competição.

Há ainda significativamente mais filmes de cineastas mulheres na lista. Embora tenha havido duras críticas à falta de paridade de gênero nos últimos anos, nesta edição, elas assinam a direção de oito das 18 produções. Barbera, contudo, destacou que a seleção foi feita "apenas com base na qualidade e não por uma cota de gênero".

Uma produção alemã também passou neste controle de qualidade. O drama político Und morgendie ganze Welt, da diretora Julia von Heinz (Então, Vou Nessa!) é um dos candidatos ao cobiçado Leão de Ouro de melhor filme. No longa, a talentosa Mala Emde interpreta uma estudante de direito que cada vez mais se radicaliza em seu círculo de esquerda ante uma guinada à direita na Alemanha.

Também concorre ao prêmio de melhor filme a coprodução teuto-polonesa Never Gonna Snow Again, que já consta como candidata polonesa na categoria internacional do Oscar. Dirigido por Michał Englert e Malgorzata Szumowska, o filme traz Alec Utloff no papel do migrante ucraniano Zhenia, um massagista da classe alta de Varsóvia que acaba virando uma espécie de guru.

A atriz australiana Cate Blanchett
A atriz australiana Cate Blanchett preside o júri deste ano.Foto: Reuters/B. Tessier

Representando o Brasil está o documentário Narciso em Férias, que trata sobre a prisão do cantor Caetano Veloso em 1968. No longa, o músico faz revelações inéditas sobre os 54 dias que passou encarcerado durante a ditadura militar.  

Dirigido por Renato Terra (Uma noite em 67) e Ricardo Calil (Cine Marrocos), Narciso em férias será exibido em uma mostra à parte, fora, portanto, da competição pelo Leão de Ouro deste ano. 

Mas Veneza não quer e nem pode abrir mão do glamour de Hollywood por completo. A vencedora do Oscar Cate Blanchett, homenageada em 2007 como melhor atriz em Veneza, irá presidir o júri de sete membros deste ano. Nele, também estará presente o diretor alemão Christian Petzold (de Barbara e Undine), além dos atores Matt Dillon e Ludivine Sagnier, sas diretoras e roteiristas Veronika Franz e Joanna Hogg e sa autora Nicola Lagioia.

Enquanto o vencedor do Leão de Ouro é aguardado ansiosamente, um prêmio já está decidido: a diretora chinesa Ann Hui e a atriz britânica Tilda Swinton receberão uma distinção honorária por sua carreira.

Barbera elogiou a cineasta Hui, de 73 anos, pela sofisticação e sensibilidade com que consegue entrelaçar histórias individuais com grandes questões sociais. Sobre Swinton, de 59 anos, o diretor do festival disse se tratar de "uma das atrizes mais originais e poderosas" do último século, com "uma personalidade incomparável e uma versatilidade rara".

Adaptação: Isadora Pamplona