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Fake news assombram campanha eleitoral na Alemanha

Janosch Delcker
7 de setembro de 2021

Notícias falsas sobre os possíveis sucessores de Merkel circulam na internet e podem influenciar a opinião pública antes da votação, alertam especialistas. Relatório aponta candidata de esquerda como principal alvo.

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Annalena Baerbock, do Partido Verde alemão.
Das narrativas falsas sobre candidatos a chanceler analisadas, 71% foram contra Annalena Baerbock, do Partido VerdeFoto: Philipp Böll/DW

Entre os principais candidatos a chanceler federal da Alemanha nas eleições de 26 de setembro, Annalena Baerbock, do Partido Verde, é de longe o maior alvo de notícias falsas, afirma um novo relatório da organização de liberdades civis Avaaz.

A ONG analisou dezenas de casos de desinformação contra políticos alemães entre 1º de janeiro e 31 de agosto de 2021 e descobriu que, das narrativas que atingem os candidatos a chanceler federal, 71% foram contra Baerbock. Enquanto isso, seu adversário conservador, Armin Laschet (CDU), foi alvo de 29% dos casos. Em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, o social-democrata Olaf Scholz (SPD), por sua vez, não foi mencionado em nenhuma narrativa de fake news analisada.

"Embora [Baerbock] tenha chegado bem tarde na corrida eleitoral, imediatamente vimos um aumento na desinformação a respeito dela", afirma o diretor de campanhas da Avaaz, Christoph Schott.

"Pode ser porque ela é mulher, ou porque tem algumas ideias e mensagens fortes, o que a torna, de alguma forma, um alvo mais fácil – mas é muito difícil encontrar evidências disso."

Essas notícias falsas atingem amplas camadas da população: mais da metade dos eleitores na Alemanha se deparou com pelo menos uma mentira sobre Baerbock, de acordo com uma pesquisa divulgada no relatório. "A desinformação virou rotina na Alemanha", diz Schott.

Como funcionam as eleições na Alemanha?

Em 26 de setembro, o país vai eleger um novo Parlamento e, com isso, o sucessor da atual chanceler federal, Angela Merkel. Especialistas alertam que a desinformação, espalhada deliberadamente para levantar dúvidas sobre os candidatos, tem o poder de influenciar a opinião pública antes da votação.

As conclusões da Avaaz sugerem que tal ameaça é real. "Isso já está acontecendo", afirma o diretor de campanhas da organização. Os verdes de Baerbock chegaram a figurar em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto na Alemanha, mas acabaram perdendo popularidade e hoje aparecem em terceiro, depois do SPD e da CDU de Merkel.

Desinformação 3.0

Durante décadas, diferentes agentes – desde empresas de marketing a países inteiros – desenvolveram a desinformação como estratégia para influenciar as eleições.

Mas nos últimos anos, a ascensão da internet, das mídias sociais e de aplicativos de mensagens turbinaram o fenômeno, permitindo então que qualquer um que disponha, por exemplo, de um mínimo de conhecimento de edição de fotos e um perfil nas redes produza desinformação online.

Além do mais, especialistas concordam que, mesmo após as notícias falsas serem publicamente desmascaradas, traços de dúvida muitas vezes persistem.

Como não cair em "fake news"?

Isso é algo que o Partido Verde, de Baerbock, aprendeu em primeira mão: logo depois de anunciar a candidatura da política de 40 anos no início do ano, tais postagens apareceram online. Falsamente, elas alegavam que Baerbock queria proibir crianças de terem animais de estimação em casa.

O partido foi rápido em denunciá-las como falsas. Mesmo assim, meses depois, membros da sigla continuavam sendo questionados sobre as alegações, conta o secretário-geral dos verdes, Michael Kellner, que supervisiona a campanha do partido, no documentário da DW How to hack an election (Como hackear uma eleição).

"É um absurdo inacreditável", afirma Kellner.

O papel da mídia tradicional

Embora a desinformação tenda a se originar nas redes sociais ou em aplicativos de mensagens criptografadas, como o Whatsapp, a mídia tradicional muitas vezes desempenha, de forma não intencional, um papel fundamental na disseminação, avalia a Avaaz.

Quase um terço de todos os entrevistados disse aos pesquisadores que seu primeiro contato com casos de desinformação foi na TV ou na mídia impressa ou online.

Referindo-se a manchetes ambíguas da mídia sobre os pretensos planos de Baerbock de proibir animais de estimação, Christoph Schott faz analogias com os Estados Unidos, onde jornalistas escreveram durante anos sobre tuítes do ex-presidente Donald Trump, independentemente de eles serem verdadeiros ou não.

Jornalistas devem sim cobrir a desinformação, diz Schott, "mas deveriam fazê-lo de forma responsável, colocá-la num contexto mais amplo e explicar como ela funciona".

As empresas de mídias sociais também precisam canalizar seus esforços para minar a desinformação em suas plataformas, acrescenta o diretor da Avaaz. "Elas deveriam enviar correções a todas as pessoas que leram desinformação [nas redes] – porque eles sabem exatamente quem leu", diz Schott.