Ex-rei da Espanha vai deixar país após escândalos
3 de agosto de 2020O rei emérito da Espanha Juan Carlos, que ocupou o trono entre 1975 e 2014, irá deixar seu país após ser alvo de uma investigação de promotores suíços e da Justiça espanhola por corrupção. As autoridades dos dois países investigam a origem de 100 milhões de dólares que o monarca teria recebido ilegalmente da Arábia Saudita, depositados em 2008 em uma conta na Suíça.
Em junho, o Supremo Tribunal espanhol abriu um inquérito para avaliar a responsabilidade de Juan Carlos em uma ação iniciada em 2018, quando gravações atribuídas a sua ex-amante Corinna Larsen assegurava que o então rei da Espanha teria cobrado uma comissão pela concessão de um contrato para a construção de uma rede ferroviária de alta velocidade. Larsen teria sido utilizada como "laranja" de Juan Carlos na transação.
A decisão do antigo monarca foi comunicada em carta ao seu filho, o rei Felipe 6º, tonada pública nesta segunda-feira (03/08) pela Casa Real.
"Majestade, querido Felipe, com o mesmo ímpeto de serviços à Espanha que inspirou meu reinado e diante da repercussão pública que está sendo gerada por certos acontecimentos passados de minha vida privada [...] lhe comunico minha decisão meditada de trasladar-me neste momento para fora da Espanha", escreveu Juan Carlos.
Juan Carlos, de 82 anos, assinalou em sua carta que tomou essa decisão para facilitar o exercício das funções do atual monarca e possibilitar a "tranquilidade e sossego que requer sua alta responsabilidade". "Meu legado, minha própria dignidade como pessoa assim o exigem", assegura o rei emérito.
Felipe, por sua vez, transmitiu ao pai seu "sentido respeito e agradecimento perante sua decisão", de acordo com um comunicado emitido pela Casa Real. O rei, segundo a nota, "deseja ressaltar a importância histórica representada pelo reinado de seu pai, como legado, obra política e institucional de serviços à Espanha e à democracia".
O escândalo fez com que Felipe se distanciasse de seu pai, renegando sua herança e cancelando em março deste ano a pensão fornecida pelo Estado, apesar de preservar-lhe o título de rei e mantê-lo como membro da família real. O distanciamento levou ao fim das aparições públicas, com os encontros entre pai e filho se resumindo a apenas algumas reuniões familiares.
Desde sua abdicação em 2014, Juan Carlos evitou manter uma vida pública intensa, com algumas aparições em partidas de futebol das equipes de Madri ou em grandes prêmios de Fórmula 1. Com problemas cada vez maiores de mobilidade, O rei emérito se submeteu a uma cirurgia cardíaca em agosto de 2019.
Ele foi visto em público pela última vez no dia 16 de junho, quando compareceu a uma clínica médica em Madri para fazer exames de rotina usando uma máscara de proteção.
A decisão do rei emérito de morar fora do país, no entanto, não mudará a situação de sua esposa, a rainha Sofia, que manterá residência no Palácio de la Zarzuela, em Madri, e as atividades institucionais.
A mãe do atual rei foi deixada de fora das controvérsias envolvendo o marido porque não tem nenhuma relação com os supostos negócios dos quais Juan Carlos teria participado, informaram nesta segunda-feira fontes da Casa Real espanhola.
Juan Carlos e Sofia estão afastados há vários anos, embora tenham continuado a viver em Zarzuela como membros da família real após a abdicação dele em favor do filho.
RC/efe/afp
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube
| App | Instagram | Newsletter