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Ex-número dois das Farc anuncia retomada da luta armada

29 de agosto de 2019

Em vídeo ao lado de outros combatentes, ex-líder do antigo grupo promete começar uma "nova etapa". Atual líder do partido formado a partir da guerrilha reage, reiterando compromisso com a paz.

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Iván Márquez, ex-guerrilheiro das Farc
Iván Márquez chegou a se eleger senador, mas desapareceu antes de ser empossadoFoto: Getty Images/AFP/R. Arboledo

O ex-número dois da antiga guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciou nesta quinta-feira (29/08) "uma nova etapa da luta" armada, reaparecendo num vídeo com outros ex-líderes do grupo, depois de mais de um ano de paradeiro desconhecido.

"Anunciamos ao mundo que começou a segunda Marquetalia (local na Colômbia onde há mais de 50 anos nasceram as Farc), sob o amparo do direito universal qde todos os povos do mundo de pegar em armas contra a opressão", afirmou o líder das Farc conhecido como Iván Márquez, no vídeo divulgado pela internet, no qual aparece ao lado de 20 homens e mulheres armados com fuzis.

Entre eles, é possível ver Seuxis Paucias Hernández, outro antigo líder das Farc, conhecido como "Jesús Santrich", e Hernán Darío Velásquez, conhecido como "El Paisa", que há meses deixaram de cumprir os compromissos com a Justiça Especial para a Paz (JEP), mecanismo de justiça transicional pelo qual são investigados e julgados os integrantes das Farc.

Márquez foi chefe da equipe negociadora das Farc nos diálogos de paz de Havana e nomeado senador pelo partido da antiga guerrilha, cargo que não chegou a assumir, porque em meados de abril de 2018 – logo depois de seu sobrinho ser preso e enviado para os EUA para cooperar com investigações sobre tráfico de drogas – ele se transferiu para um espaço de reunião de ex-combatentes em Miravalle, no departamento de Caquetá, no sul do país. Foi ali que ele foi visto pela última vez, na companhia de El Paisa.

Considerada a guerrilha mais poderosa do continente sul-americano, as Farc surgiram em 1964 e tornaram-se um partido político, sob o nome Força Alternativa Revolucionária do Comum , após a assinatura do acordo de paz com o governo colombiano, em setembro de 2016.

O pacto – considerado um sucesso do governo do então presidente, Juan Manuel Santos, e que rendeu ao político o prêmio Nobel da Paz de 2016 – permitiu o desarmamento de cerca de sete mil guerrilheiros.

No entanto, centenas de outros se colocaram à margem do processo, que visava pôr fim a um conflito armado de mais de 50 anos, que envolveu mais de 30 guerrilhas, paramilitares de extrema direita e a polícia, e deixou mais de 260 mil mortos, quase 83 mil desaparecidos e 7,4 milhões de deslocados.

O anúncio do grupo dissidente de voltar às armas vem num momento de severos desafios para o acordo de paz, incluindo o assassinato de centenas de antigos guerrilheiros e de ativistas dos direitos humanos, atrasos na assistência econômica a ex-combatentes e uma profunda polarização política.

A dissidência armada das Farc tem cerca de 1.800 integrantes, divididos em 24 grupos que, segundo a JEP, se podem juntar sob o comando dos ex-líderes rebeldes Márquez e Santrich a outros.

Segundo o Exército, esta nova guerrilha tem 2.300 combatentes, dedicados principalmente ao tráfico de droga e à exploração mineira clandestina.

Ariel Avila, vice-diretor da JEP, afirmou que Iván Marquéz está "muito próximo" de "dissidentes armados" e confessou ter "medo que haja uma nova guerrilha". 

O ex-comandante Márquez, procurado pela JEP para ser julgado pelos crimes do conflito armado, está à margem do processo de paz há mais de um ano e desapareceu denunciando deficiências por parte do governo. 

Jesus Santrich, por sua vez, em fuga e sob um mandato de captura internacional, é procurado por suposto tráfico de drogas, acusado pelos Estados Unidos de conspiração para enviar cocaína para o território americano, já depois da assinatura do acordo de paz. 

O governo do presidente de direita Iván Duque afirma que os dois estão escondidos na Venezuela, onde, segundo fontes oficiais, também há líderes do Exército de Libertação Nacional (ELN), considerado a última força de guerrilha ativa na Colômbia.

Duque foi eleito prometendo mudar partes do pacto, mas fracassou em conseguir apoio para isso do Congresso e do Judiciário. Ele repetidamente disse que antigos guerrilheiros com verdadeiro desejo de mudança receberão apoio.

"A grande maioria permanece comprometida com o acordo, apesar das dificuldades e dos perigos", escreveu no Twitter o antigo comandante das Farc Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko e hoje líder no partido Farc. "Estamos com a paz", assegurou.

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