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EUA acusam Alemanha de minar política nuclear da Otan

14 de maio de 2020

Alemães não possuem armas atômicas, mas, através da Aliança Atlântica, se comprometeram a ajudar os americanos com as suas. Em carta aberta, emissário de Trump diz que parceria está ameaçada pelo governo Merkel.

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Richard Grenell
"A Alemanha deve deixar claro que está cumprindo suas promessas", escreveu Richard GrenellFoto: picture-alliance/AA/M. Miskov

A diplomacia americana acusou nesta quinta-feira (14/05) a Alemanha de não fazer sua parte na política de dissuasão nuclear da Otan. A crítica foi tornada pública após um relatório ter mostrado que, só em 2019, o governo Donald Trump gastou 35,4 bilhões de dólares no financiamento e desenvolvimento de armas atômicas.

A acusação foi publicada em carta aberta no jorna alemão Die Welt. No texto, Richard Grenell, que acumula os cargos de embaixador em Berlim e chefe da espionagem americana, diz que não é porque a Guerra Fria acabou que a segurança europeia não está ameaçada. 

Alvo principal de sua crítica no texto foi o Partido Social-Democrata (SPD), parceiro de coalização dos conservadores no governo Angela Merkel, por seu apoio ao desarmamento nuclear.

Segundo Grenell, os EUA, incluindo Trump, apoiam o desarmamento nuclear, mas veem a posse de armas atômicas como um elemento de dissuasão necessário para as ameaças vindas da Rússia e da Coreia do Norte. 

"A invasão russa da Ucrânia, a instalação russa de novos mísseis nucleares na periferia da Europa e as novas capacidades da China, da Coreia do Norte e de outros países tornam claro que a ameaça está demasiadamente presente", escreveu Grenell.

No texto, o embaixador afirma que, se o ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, membro do SPD, pretende que a Alemanha seja "uma potência de paz", como alega, "em vez de minar a solidariedade que constitui a base da dissuasão nuclear da Otan", deveria "cumprir os seus compromissos com os aliados e investir continuamente na participação nuclear da Otan".

"A liderança política na Alemanha, especialmente a do SPD, deve deixar claro que o governo está cumprindo essas promessas", diz o texto.

Há duas semanas, o deputado Rolf Mützenich, chefe da bancada do SPD no Parlamento, apelou ao governo para que obrigue os militares americanos a retirarem as armas nucleares do território alemão. 

Os EUA estão autorizados a estacionar armas atômicas na Alemanha como parte de um acordo em que Washington presta o apoio necessário aos militares alemães. Na Alemanha, devido à história do país no século passado, as despesas com Defesa são tradicionalmente impopulares do ponto de vista político.

O comentário foi feito por Mützenich após a ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, ter dito que aprovaria um acordo com os EUA para novos caças em substituição aos aviões de guerra obsoletos da Alemanha.

Grenell é nome frequente no noticiário alemão e não raro gera irritação entre as autoridades em Berlim por aquilo que é visto como ingerência na política alemã e por se afastar do papel tradicional de embaixador. Ele foi recentemente elevado a diretor interino do serviço secreto nacional, o que o aproximou ainda mais do círculo de Trump.

O conceito de "partilha nuclear" da Otan prevê que a Alemanha e outros países da Aliança Atlântica transportem armas atômicas dos EUA em caso de emergência – as Forças Armadas alemãs não possuem armas nucleares próprias. Os EUA armazenam várias armas atômicas numa base aérea perto de Büchel, no oeste do país. 

"Um dissuasor nuclear credível, inclusive com aeronaves capazes de transportar armas nucleares" é uma capacidade-chave da Otan, escreveu Grenell. "Esta capacidade é necessária no mundo de hoje, e a Alemanha se comprometeu a contribuir com ela."

RPR/dw/ots

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