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"Estamos um pouco abandonados em Brumadinho", diz prefeito

Nádia Pontes de Brumadinho
25 de fevereiro de 2019

Redução no número de bombeiros, aumentos nos gastos com a saúde e falta de repasses de verbas do governo estadual preocupam a administração do município.

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Foto: Getty Images/AFP/M. Pimentel

Um mês depois da tragédia causada pelo rompimento da barragem da Vale, o prefeito de Brumadinho (MG), Avimar de Melo Barcelos, reclama da diminuição do número de bombeiros que fazem buscas – mais de cem corpos ainda estão desaparecidos. Ele também critica a falta de repasse de verba do governo estadual. Dependência da mineração preocupa: "a Vale é um mal necessário", disse, em entrevista à DW.

DW: Um mês depois da tragédia provocada pelo rompimento da barragem I da Vale na mina Córrego do Feijão, como o senhor avalia a situação em Brumadinho?

Avimar de Melo Barcelos: Por enquanto, a gente está um pouco abandonado pelos governos estadual e federal. O efetivo dos bombeiros já foi bem maior, eles já foram embora em grande parte. Isso está prejudicando muito os familiares das vítimas. Tem muitas vítimas embaixo da lama, os bombeiros estão indo embora e as pessoas podem não ser encontradas. O que as famílias querem agora é um enterro digno.

O senhor acredita que a cidade não está recebendo apoio suficiente?

Não, não estamos. O governo do estado de Minas Gerais, inclusive, está devendo o pagamento de impostos para o município. Depois da tragédia, ele prometeu pagar a gente, repassar R$ 23 milhões. Fui até lá nessa semana e eles falaram que não poderão pagar, que estão apertados. A situação no município, que já está difícil, tem a tendência de piorar. A arrecadação vai cair, não tem ninguém trabalhando na cidade. Depois do que aconteceu na mina da Vale, a Justiça interditou mais três mineradoras. Então a situação ficou pior ainda.

A gente está muito preocupado com as famílias das vítimas. A gente não pode nem imaginar o quanto todos estão sofrendo. Então a gente não pode deixar os bombeiros irem embora. A gente tem o compromisso e os governos federal e estadual têm que colaborar. Não só prometer que vai fazer e depois não fazer nada.

E quanto à Vale, que era de fato a dona da barragem que rompeu e causou toda essa tragédia?

A Vale está fazendo o que ela tem que fazer. Ela falou com a gente que a única coisa que poderia fazer é pagar a Cfem (Compensação Financeira pela Exploração Mineral). Só que o Cfem gera reflexos em vários outros impostos – e isso a Vale não vai pagar nada. Na verdade, a Vale está mantendo uma parte do imposto. Ou seja, a gente está sendo prejudicado.

A Vale fechou um acordo com órgãos públicos para pagar um salário mínimo ao longo de um ano para todos os moradores de Brumadinho, além do que ela está chamando de "doações" para familiares dos que morreram e para os atingidos. Qual é a opinião do senhor sobre isso? Qual impacto isso terá na cidade, no psicológico das pessoas?

Claro que esse dinheiro não traz ninguém de volta. Nada cura a tristeza das pessoas. Mas o dinheiro vai ajudar de alguma forma. Além de ter um impacto na economia local, vai acabar ajudando direta ou indiretamente todas aquelas pessoas que perderam alguém. Em Brumadinho, todo mundo perdeu alguém: se não foi um familiar, foi um amigo, irmão, um primo ou um vizinho. A cidade toda foi afetada. Então eu acho que vai ajudar bastante.

A Vale garantiu que vai pagar seus funcionários até o fim de 2019. Depois disso, não se sabe o que vai acontecer. O que o senhor espera do futuro em Brumadinho?

Nós sempre fomos uma cidade mineradora. A gente tem que encontrar formas de diversificar a nossa economia, de diminuir essa dependência da mineração. Mas isso, infelizmente, não acontece da noite para o dia.

A Vale é um mal necessário. Se a Vale não voltar, a cidade para porque ela gira a economia local. Pra você ter uma ideia, todas as outras mineradoras daqui vendem minério pra ela. Então a gente está muito preocupado com que a gente vai passar, o que vai ser da cidade. Mas teremos que fazer algo, como investir no turismo… Inhotim é um lugar maravilhoso e que precisamos cuidar.

Mas caiu tudo aqui. Até Inhotim, que costumava receber 3 mil visitantes no fim de semana, recebeu 250 pessoas na semana passada.

Quantas mineradoras atuam em Brumadinho?

São sete mineradoras. Semana passada, a Justiça interditou outras três, que são importantes também. Foram interditadas a Morro do Ipê, MIB (Mineração Ibirité Ltda) e Itaminas.

Mariana, depois do rompimento de Fundão, viveu problemas semelhantes. Lá, os gastos com saúde aumentaram também depois da tragédia. O senhor já percebe algum impacto nessa área em Brumadinho?

Sim, todos os gastos da prefeitura já aumentaram. Já estamos comprando de 30% a 40% a mais de remédio, de vacinas. Aumentou muito.

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