1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Esquerda alemã busca renovação em ano eleitoral

1 de março de 2021

Partido A Esquerda troca de liderança para tentar conquistar parcela maior dos eleitores. Legenda vive crise de popularidade, apesar de algumas de suas propostas terem sido adotadas pelo governo de Merkel na pandemia.

https://p.dw.com/p/3q2We
Susanne Hennig-Wellsow e Janine Wissler forma eleitas as novas líderes do partido A Esquerda
Susanne Hennig-Wellsow (esq.) e Janine Wissler forma eleitas as novas líderes do partido A EsquerdaFoto: Frank May/dpa/picture alliance

A esquerda na Alemanha vem tendo dificuldades em se fazer ouvir em meio a pandemia, apesar de que algumas de suas ideias acabaram se tornando predominantes.

A crise gerada pelo coronavírus  forçou o governo da chanceler federal, Angela Merkel, a fazer  grandes intervenções, deixando de lado seu comprometimento com o equilíbrio orçamentário ao criar novas dívidas para oferecer resgates financeiros gigantescos aos setores mais atingidos pela paralisação da economia.

Ainda assim, as pesquisas de opinião colocam o partido A Esquerda na quinta posição em termos de apoio popular, com entre 7% e 8% entre os eleitores.

Uma pesquisa Deutschlandtrend divulgada recentemente colocou a legenda com apenas 6%, ou seja, flutuando precariamente acima do limite mínimo de 5% dos votos, necessário para manter sua representação no Bundestag (Parlamento alemão) nas eleições federais em setembro.

Por tudo isso, chegou a hora de uma renovação. Em uma conferência virtual, o partido escolheu duas novas líderes para substituir a dupla que controlava a legenda desde 2012, Katja Kipping e Bernd Riexinger. Neste fim de semana, Susanne Hennig-Wellsow e Janine Wissler foram as mais votadas para tomarem as rédeas do maior partido da esquerda alemã.

Futura coalizão "vermelho-vermelho-verde"?

Durante o evento, Hennig-Wellsow, de 43 anos, se posicionou a favor de uma união com a centro-esquerda em nível nacional após as eleições.

"Se o novo governo poderá ou não ser uma coalizão vermelho-vermelho-verde, isso vai depender de nós”, afirmou, mencionando as cores dos partidos que integrariam uma possível coalizão entre o A Esquerda, o Partido Social-Democrata (SPD) e o Partido Verde.

Por outro lado, Wissler, de 39 anos, descreve a si mesma como uma marxista e é tida como membro da ala mais à esquerda do partido. Ela tem a ambição de introduzir temas voltados para o meio ambiente no programa do partido, mas mantém certo ceticismo quanto a uma possível coalizão com as forças de centro-esquerda. "O governo não é um fim em si mesmo”, afirmou recentemente em uma entrevista.

Prestes a deixar a liderança do Partido, Katja Kipping, atribuiu a baixa popularidade do A Esquerda à pandemia. "Os que não estão no governo estão sendo ouvidos ainda menos que o normal”, afirmou à DW. 

Mas, este não parece ser um problema de todos na oposição, uma vez que a crise gerada pelo coronavírus não parece ter afetado o Partido Verde, que vive uma onda de sucesso sem precedentes e tem popularidade de 21%. Se isso se confirmar das urnas, os verdes poderão se tornar o segundo maior partido no Bundestag nas próximas eleições.  

Com tudo isso, muitos eleitores esquerdistas ousam sonhar com a vitória dos "vermelhos-vermelhos-verdes”. O problema, entretanto, é que o SPD está em baixa, com cerca de 15% da preferência dos votantes. Segundo as estimativas atuais, os três partidos juntos não conseguiriam votos suficientes para formar uma maioria no Bundestag.

Raízes na antiga Alemanha Oriental

Por muito tempo, o A Esquerda era visto com desconfiança em razão de ter suas raízes na legenda que governava a antiga Alemanha Oriental, o Partido Socialista Unitário da Alemanha (SED).

Seu sucessor, o Partido do Socialismo Democrático (PDS), que incluía muitas figuras do SED, se fundiu a esquerdistas mais linha-dura da ex-Alemanha Ocidental, o que resultou na criação do A Esquerda.

Bernd Riexinger, porém, afirma que o partido não é mais visto dessa forma. Ele avalia que a legenda conseguiu deixar no passado a imagem negativa e expandiu seu programa para incluir estratégias políticas plausíveis.

Mas, algumas posições defendidas pelo partido ainda estão longe de se tornarem populares. Por exemplo, o A Esquerda rejeita categoricamente a presença das Forças Armadas do país no exterior, inclusive no Afeganistão, onde militares alemães integram uma coalizão com parceiros internacionais.

Mas, alguns no partido, incluindo a nova líder Henning-Wellsow, estão abertos à participação do país em missões de paz sob a tutela da ONU.

As novas líderes do A Esquerda refletem, a grosso modo, as diferentes tendências entre as alas do partido, mas ainda é difícil prever se conseguirão aumentar a popularidade da legenda ao ponto de conquistar uma parcela maior do eleitorado.

Marcel Fürstenau
Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.