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Um ano de crise

14 de setembro de 2009

Um ano após a falência do banco norte-americano Lehman Brothers, que desencadeou a crise econômica e financeira mundial, especialistas afirmam que é cedo demais para otimismo, pelo menos na zona do euro.

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Um ano de crise: efeitos ainda poderão ser sentidos por um bom tempoFoto: AP

O governo norte-americano se diz otimista. Timothy Geithner, secretário do Tesouro, acredita que a conjuntura vá se recuperar. Segundo ele, a partir de agora pode-se falar de crescimento econômico e não mais de uma mera política de salvamento. Essa recuperação duradoura, se acontecer, também trará frutos para a Europa e outras regiões do planeta. Os números atuais indicam, de fato, que pode haver esperança.

Axel Weber, presidente do Banco Central alemão, também vê uma boa posição de partida para o terceiro trimestre deste ano. "Acabamos de publicar as projeções da equipe do Banco Central Europeu, nas quais se torna visível uma tendência positiva das taxas de crescimento. É absolutamente evidente que, na Alemanha, os indicadores iniciais relativos ao terceiro trimestre deste ano apontam para uma recuperação econômica mais sólida que a do segundo trimestre. Na zona do euro, a situação é semelhante, mesmo que haja claras diferenças entre os países", analisa Weber.

Pernas bambas

Axel Weber
Axel Weber, presidente do Banco Central alemãoFoto: AP

Apesar disso, Weber não vê motivos para um otimismo demasiado, nem tampouco aposta num fim imediato da crise. A conjuntura, segundo ele, ainda está de pernas bambas. Os sinais positivos são sobretudo indício de que as medidas tomadas pelo governo alemão e pelo Banco Central estão surtindo efeito.

"Sempre alertei para que não interpretássemos esse crescimento como algo com sustentação própria. No momento, vejo que esse crescimento é respaldado por três coisas: as abrangentes medidas de apoio à conjuntura; os pacotes concebidos para os bancos, que também contribuem para conter o risco sistêmico; e por último, uma política monetária expansiva. Só veremos uma recuperação sustentável quando o impulso das exportações, ainda muito fraco, influenciar os investimentos na Alemanha. Mas ainda não vislumbro isso no país", comentou Weber.

Melhor que em 1929/1930

Robert Shiller, professor de Ciências Econômicas da Universidade de Yale, nos EUA, também acredita que as atuais medidas tomadas pelos governos norte-americano e europeus surtiram efeito. A suposição de que essa crise econômica seria tão grave quanto a crise de 1929/1930 não se confirmou.

Verzweifelter Börsenmakler an der Wall Street - freies Format
Desespero na Wall Street, há um anoFoto: AP

"Em alguns pontos, agimos de forma mais eficaz do que foi o caso na Grande Depressão de 1929/1930. Acima de tudo, salvamos mais bancos. Naquela época, foram muitas as pessoas que perderam todas as economias guardadas em banco. Isso tirou a esperança da população e acentuou a depressão. Desta vez, o Estado respaldou os bancos. Acredito que os governos agiram de maneira mais correta. Por isso, pensando a longo prazo, estou otimista. Mesmo assim, continuo um pouco pessimista em relação aos próximos cinco anos", ponderou Shiller.

Fatores psicológicos

Também George Akerlof, Nobel da Economia, adverte dos riscos de um otimismo exagerado. Segundo ele, mesmo que os números atuais indiquem uma certa recuperação da conjuntura, a crise ainda não foi superada.

Na opinião de Akerlof e Shiller, fatores psicológicos, como a confiança no sistema, também exercem um papel importante neste contexto. Por isso, dizem eles, seria bom se os sinais positivos gerassem uma certa esperança. Akerlof alerta, contudo, para o risco de novas recaídas, pois os governos "começaram o combate à crise com um plano A e já estão no plano D", disse ele.

Nobelpreisträger George Akerlof
George Akerlof, Nobel da EconomiaFoto: AP

"As pessoas parecem acreditar que o 'plano D' esteja surtindo efeito e que agora vem a prosperidade. Acho que aí deveríamos ser cautelosos. Deveríamos dizer que o 'plano D' parece funcionar. É realmente um bom sinal ver as pessoas esperançosas. Mas poderia haver novos abalos, para os quais não estamos preparados, para os quais a opinião pública não está preparada. Deveríamos, sim, estar preparados e com um 'plano E' no bolso. E se não der certo, apelamos então para um 'plano F' e assim por diante", resume Akerlof.

Paciente de muletas

Mesmo se tudo se desenvolver de forma positiva, ainda vai demorar vários anos até que as consequências da crise sejam realmente superadas, opinam os especialistas.

Axel Weber tem expectativas concretas a respeito de uma recuperação do PIB alemão: "Na Alemanha, vai demorar até o ano de 2013 para alcançarmos novamente o PIB que tínhamos em 2008. Depois de uma crise como essa, demora para se reaver o status quo anterior", avalia o presidente do Banco Central alemão.

Ou seja, as perspectivas não são, de fato, de todo otimistas. Medidas estatais de apoio à conjuntura ainda continuarão sendo necessárias por um bom tempo, pelo menos na Alemanha e na zona do euro. Em outubro próximo, deverá ser avaliada a possibilidade de uma eventual redução dessas medidas dentro da Alemanha, explica Weber.

No entanto, os resultados dessa avaliação ainda continuam em aberto. "Está absolutamente claro que, se a conjuntura ainda precisa de muletas, não é recomendável tirar essas muletas do paciente. Isso pode fazer com que ele caia de novo", adverte Weber, sem arriscar qualquer previsão concreta em relação ao tempo de que esse "paciente" precisará para caminhar sem muletas.

Autora: Julia Bernstorf (sv)

Revisão: Simone Lopes