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Empresário bolsonarista defende postura negacionista na CPI

30 de setembro de 2021

Otávio Fakhoury nega ter financiado disseminação de notícias falsas sobre a pandemia. Além de questionar vacinas contra covid-19, ele disse ser contra o uso de máscaras e defende o chamado "kit covid".

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Empresário Otávio Fakhoury, suspeito de financiar notícias falsas sobre a pandemia, em depoimento à CPI no Senado
Empresário Otávio Fakhoury, suspeito de financiar notícias falsas sobre a pandemia, em depoimento à CPI no SenadoFoto: Leopoldo Silva/Agência Senado

A CPI da Pandemia no Senado ouviu nesta quinta-feira (30/09) o empresário Otávio Fakhoury, suspeito de ter financiado a disseminação de notícias falsas sobre a pandemia de covid-19.  Ele também é investigado pelo Supremo Tribunal Federal em dois inquéritos sobre divulgação de notícias falsas e organização de atos democráticos, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Fakhoury é um dos idealizadores do partido Aliança pelo Brasil, que o presidente Jair Bolsonaro tentou criar, mas que ainda não obteve o número mínimo de assinaturas necessárias. 

Ele é vice-presidente do instituto Força Brasil, que tentou vender vacinas superfaturadas ao governo brasileiro por meio da Davati Medical Supply. Fakhoury é o atual presidente do diretório paulista do PTB, e em suas redes sociais se identifica como "conservador, antiglobalista, anticomunista". 

O empresário é do ramo imobiliário foi militante do grupo Vem Pra Rua durante os protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Ele negou ser um divulgador de notícias falsas e disse que não tem relação pessoal com o presidente Jair Bolsonaro, e que tampouco coordena com ele a produção e disseminação de conteúdos. O empresário afirmou que não produz notícias nem é jornalista, mas "um cidadão com opinião". 

Instituto Força Brasil

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do pedido de convocação de Fakhoury, afirmou que o empresário havia sido identificado "como o maior financiador de disseminação de notícias falsas", que teriam sido distribuídas por canais como Instituto Força Brasil, Terça Livre e Brasil Paralelo.

Fakhoury é vice-presidente do Força Brasil, que, ao lado das outros portais de internet, compartilharam informações falsas para estimular o uso do "tratamento precoce" sem eficácia contra a covid-19 e questionando a necessidade de distanciamento social durante a pandemia.

O empresário afirmou não saber o motivo e o responsável por publicações do Instituto Força Brasil que questionavam as vacinas, criticavam o uso de máscaras e incentivavam o uso do "tratamento precoce". Ele também disse não saber por qual motivo o instituto tirou o site e suas páginas do ar depois que o presidente do instituto, Helcio Bruno, depôs à comissão.

O Força Brasil, que tentou vender vacinas superfaturadas ao governo brasileiro por meio da Davati Medical Supply e se apresentava como representante da farmacêutica AstraZeneca. A Davati ofereceu ao governo 400 milhões de doses do imunizante a preços superfaturados.

Bruno está implicado em outro ramo de investigação da CPI. Foi ele quem apresentou ao ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, a representantes da empresa Davati Medical Supply, envolvidos em uma negociação não concretizada para uma venda suspeita de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca ao governo federal, também no foco da CPI.

Negacionismo sobre covid-19

Fakhoury reafirmou na CPI sua defesa de práticas contrárias ao recomendado pela ciência para o enfrentamento da pandemia. Ele disse ser contra o uso de máscaras, questionou as vacinas contra a covid-19 e defendeu o uso de medicamentos do chamado "kit covid", que não são eficazes contra a doença e podem agravar o estado de saúde do paciente, como a cloroquina e a ivermectina.

"As vacinas têm que ser adquiridas e oferecidas pelo governo, porém ainda hoje se encontram em estágio experimental. A minha posição é que elas não devem ser obrigatórias. Aguardo o término dos testes para decidir se imunizo minha família ou não", disse Fakhoury.

Ele afirmou que o uso de máscaras só seria eficiente para os portadores de covid-19, e disse que sua família fez uso dos medicamentos do "tratamento precoce" contra a doença. Segundo Fakhoury, ele estaria exercendo sua liberdade de expressão ao se manifestar sobre esses temas.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, afirmou que Fakhoury estaria infringindo o artigo 268 do Código Penal, que pune infringir determinaçÃo do poder público para impedir propagação de doença contagiosa.

Financiamento de materiais de campanha pró-Bolsonaro

Fakhoury reconheceu durante a CPI que financiou materiais de divulgação da campanha de Bolsonaro em 2018, impressos por quatro grupos da região Nordeste. "Uma campanha feita pelas pessoas, por livre e espontânea vontade, que imprimiram seu material e saíam às ruas (...) Nunca fui solicitado por alguém da campanha", disse o empresário.

Renan mencionou que a Polícia Federal localizou notas fiscais emitidas por gráficas no Nordeste sobre a impressão de 560 mil itens de propaganda eleitoral para Bolsonaro sem declaração à Justiça Eleitoral.

O senador Marcos Rogério (DEM-RO), apoiador do governo Bolsonaro, protestou que o tema não teria relação com o escopo da CPI.

Ataque homofóbico

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) ocupou por alguns minutos a cadeira da presidência da CPI da Pandemia para reagir a uma ofensa homofóbica feita por Fakhoury. Uma postagem do empresário no Twitter insinuava que Contarato teria se "cativado” por algum outro parlamentar, sugerindo que isso teria ocorrido em razão de sua orientação sexual.

Fakhoury ironizou um erro gramatical feito pelo senador ao postar um comentário sobre o depoimento à CPI do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten.

Por erro de digitação, Contarato trocou o termo "estado flagrancial" por "estado fragancial". Fakhoury retuitou a postagem, e comentou: "O delegado [Contarato], homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume de alguma pessoa ali daquele plenário... Quem seria o 'perfumado' que lhe cativou?".

Depois das declarações iniciais do depoente, nas quais exaltou "valores familiares” como regras que regem sua atuação político-partidária, Contarato, que é homossexual,  ocupou a cadeira do presidente da CPI, Omar Aziz, para responder à ofensa.

Em uma fala emocionada, o senador disse ter orgulho de ser casado com um homem e ter dois filhos, e disse para Fakhoury: "O senhor não é um adolescente. O senhor é casado, tem filhos. A sua família não é melhor que a minha."

O senador também afirmou: "Eu sonho com o dia em que eu não vou ser julgado por minha orientação sexual. Sonho com o dia que meus filhos não serão julgados por ser negros."

"Orientação sexual, cor da pele e poder aquisitivo não definem caráter. Se o senhor faz isso comigo como senador, imagine no Brasil que mais mata a população LGBTQIA+. O mínimo que o senhor deveria fazer é pedir desculpas a toda a população LGBTQIA+”, disse Contarato.

"Nada te dá direito de fazer o que o senhor fez. Não tem dinheiro que pague isso”, completou.

O empresário pediu desculpas, disse que sua postagem havia sido infeliz e que não tinha a intenção de ofender. "Realmente, o meu comentário foi infeliz, em tom de brincadeira. Porém, é uma brincadeira de mau gosto. Declaro que meu comentário não teve a intenção de lhe ofender, e sei que, se ofendi, foi profundamente”, disse Fakhoury.

Relatório em 20 de outubro

Antes do depoimento de Fakhoury, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que o relatório final da comissão será apresentado por Renan no dia 19 de outubro e votado pelos senadores do colegiado no dia seguinte.

No relatório, Renan deverá propor ao Ministério Público o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro, de membros do governo e de apoiadores de Bolsonaro, entre outros, por supostos crimes relacionados à pandemia.

bl/rc (ots)