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Em cúpula de Biden, Bolsonaro diz ser defensor da democracia

10 de dezembro de 2021

Presidente afirma que governo é comprometido com direitos humanos e cultura de diálogo. Discurso contradiz posicionamentos anteriores, que incluem elogios a torturadores e depreciação de valores democráticos.

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Jair Bolsonaro
Presidente enviou discurso gravado à Cúpula da DemocraciaFoto: U.S. State Department

O presidente Jair Bolsonaro afirmou em um discurso gravado e exibido nesta sexta-feira (10/12) na Cúpula da Democracia, organizada pelo presidente americano Joe Biden, que o governo brasileiro está determinado em defender os direitos humanos e a democracia.

"Esta é uma oportunidade para renovar, no mais alto nível, nosso compromisso comum com a defesa da democracia, o combate à corrupção e a proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais", afirmou o presidente brasileiro.

A cúpula organizada por Biden reuniu líderes de governos, de organizações da sociedade civil e de empresas, e tem o objetivo declarado de alcançar a "renovação democrática" por meio da defesa contra o autoritarismo, do combate à corrupção e do respeito aos direitos humanos.

Países como Rússia, China e Hungria não foram convidados. Na semana passada, Juan González, encarregado de assuntos da América Latina do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, foi questionado sobre a pertinência de a Cúpula ter convidado Bolsonaro, que já afirmou diversas vezes, sem apresentar provas, que o sistema eletrônico de votação no Brasil sofre fraudes, repetindo uma tática usada pelo ex-presidente americano Donald Trump para deslegitimar resultados eleitorais.

Discurso e prática

Em sua fala, Bolsonaro disse que o governo tem "trabalhado para forjar uma cultura de diálogo, liberdade e inclusão social", e afirmou que "a proteção dos direitos humanos é um valor inerente ao governo brasileiro e orientador de todas as nossas políticas públicas". O presidente afirmou ainda que outros países podem contar com o Brasil "para contribuir para o fortalecimento da democracia do mundo".

Bolsonaro disse também que a luta contra a corrupção "constitui prioridade permanente, tanto é que estamos completando três anos sem uma denúncia sequer contra nosso governo".

Uma análise de discursos anteriores e da prática de Bolsonaro, porém, aponta para uma direção diversa. O presidente brasileiro é um representante da extrema direita e apoiador declarado da ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985, tendo prestado diversas homenagens a torturadores como Carlos Brilhante Ustra. Sua gestão também determinou que o dia do golpe militar passasse a ser celebrado pelo Ministério da Defesa.

Em maio, após defender a adoção do voto impresso, Bolsonaro insinuou que não admitiria uma derrota eleitoral: "Só Deus me tira daqui", disse. Em setembro, ele fez ameaças golpistas ao Supremo Tribunal Federal.

A defesa dos direitos humanos feita nesta sexta por Bolsonaro também não é coerente com o histórico do presidente. Em 2017, seu filho, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, publicou uma foto em seu Twitter que mostrava o pai segurando uma camiseta com a seguinte mensagem: "Direitos humanos: esterco da vagabundagem".

Diversas organizações nacionais e internacionais de direitos humanos também consideram Bolsonaro uma ameaça a esses valores, em temas como letalidade policial, proteção dos povos indígenas e liberdade de imprensa.

Em relação ao tema da corrupção, o governo se viu envolvido em diversos escândalos relacionados a negociações para a compra de vacinas contra a covid-19, e em 2020 o presidente foi escolhido como o "Corrupto do Ano" pelo consórcio internacional Projeto de Divulgação de Crimes Organizados e Corrupção.

bl (ots)