1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
PolíticaFrança

Eleições na França: Macron e esquerda em disputa acirrada

12 de junho de 2022

Primeiro turno das eleições parlamentares colocou a aliança centrista liderada pelo presidente francês ligeiramente atrás da coalização de partidos de esquerda. Resultado será decidido no próximo domingo.

https://p.dw.com/p/4CbLD
Emmauel Macron
Projeções indicam que a coalizão de Macron poderia conquistar de 255 a 310 assentos do Parlamento após o segundo turno – são necessário pelo menos 289 assentos para obter a maioria absoluta.Foto: Johan Ben Azzouz/MAXPPP/dpa/picture alliance

A aliança centrista do presidente francês, Emmanuel Macron, e a coalizão de partidos de oposição de esquerda travaram uma disputa acirrada neste domingo (12/06), primeiro turno das eleições parlamentares do país.

A coalizão Juntos, que apoia Macron, recebeu 25,75% dos votos, somente 21.442 votos a mais que a coalizão Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), liderada pelo esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que recebeu 25,66%, segundo resultados oficiais.

Segundo a mídia francesa, 52,3% dos eleitores franceses não compareceram às urnas, um recorde.

As eleições parlamentares representam um grande teste para Macron, que foi reeleito em abril para mais um mandato de cinco anos, derrotando a candidata de extrema direita Marine Le Pen.

Macron corre risco de perder sua maioria no Parlamento, o que tornaria difícil implementar algumas de suas propostas de campanha, como aumentar gradualmente a idade mínima de aposentadoria de 62 para 65 anos.

Mélenchon, por sua vez, tenta convencer os eleitores a votarem pela chamada "coabitação" com a Nupes. Na política francesa, isso significa que a maioria parlamentar seria de um partido diferente do presidente, que se veria obrigado a nomear um primeiro-ministro de esquerda.

O ex-presidente de centro-direita Jacques Chirac já teve que fazer isso com os socialistas de 1997 a 2002, nomeando Lionel Jospin como seu primeiro-ministro.

O resultado final da eleição parlamentar francesa será conhecido somente no próximo domingo, quando será realizado o segundo turno do pleito.

Mélenchon: Macron foi "derrotado"

O líder da coalizão de esquerda reagiu às projeções do resultado do primeiro turno afirmando que Macron havia sido "derrotado".

"Dado este resultado e a extraordinária oportunidade que representa para nossas vidas pessoais e o futuro de nossa pátria, convido nosso povo a ir às urnas no próximo domingo para rejeitar, de uma vez por todas, os projetos desastrosos da maioria do sr. Macron", afirmou Mélenchon.

Já a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, saudou os resultados, dizendo que Juntos era "a única força política capaz de obter uma maioria na Assembleia Nacional".

Ela exortou os eleitores a não apoiarem a esquerda no próximo domingo, dizendo que a França não poderia "correr o risco de instabilidade". "Nossa primeira tarefa comum é convencer as pessoas a voltarem às urnas", disse Borne, instando aqueles que se abstiveram neste domingo a votarem no segundo turno.

Le Pen também pediu a seus apoiadores que impeçam Macron de alcançar a maioria absoluta, e disse a seus partidários para não votarem em candidatos da Juntos ou da Nupes em disputas no segundo turno entre os dois.

Jean-Luc Mélenchon
Mélenchon uniu partidos de esquerda em uma mesma coalizão contra Macron nas eleições parlamentaresFoto: CHRISTOPHE SIMON/AFP

Como funciona a eleição legislativa

Desde 2002, quando os franceses reduziram o mandato do presidente de sete para cinco anos, as eleições legislativas são realizadas nas semanas seguintes à eleição presidencial.

As eleições legislativas ocorrem em nível nacional, mas são as autoridades locais que a organizam. Os candidatos não são escolhidos a partir de uma lista, mas sim diretamente por seus distritos eleitorais, como nas eleições americanas.

Há 577 assentos disponíveis, incluindo 11 para cidadãos franceses no exterior. O partido de Macron, junto com seus aliados da coalizão, detém atualmente uma maioria absoluta de 345 assentos.

No primeiro turno da votação, um distrito eleitoral é considerado ganho se um candidato receber a maioria absoluta dos votos dados e ao mesmo tempo o apoio de pelo menos 25% dos eleitores aptos a votar. A história mostra que isso ocorre em apenas alguns dos 577 distritos eleitorais.

A maioria das disputas deve ser definida em um segundo turno entre os dois melhores em cada área de votação, onde o único requisito é ganhar mais votos do que seu oponente.

Projeções iniciais indicam que a coalizão de Macron poderia conquistar de 255 a 310 assentos do Parlamento após o segundo turno – são necessário pelo menos 289 assentos para obter a maioria absoluta.

Aliança de esquerda é a principal ameaça a Macron

Ao contrário das eleições presidenciais, na qual Macron só precisou se defender no segundo turno da extrema direita de Marine Le Pen, o maior desafio para o presidente agora vem da esquerda.

Isso porque Mélenchon, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais, conseguiu reunir em uma mesma coalizão diferentes partidos de esquerda.

O Partido Socialista, que chegou a ser uma das duas potências políticas tradicionais da França, mas foi dizimado nos últimos anos por Macron, agora está aliado à plataforma mais populista de Mélenchon. Os partidos verde e comunista da França também se uniram à Nupes.

Caso Macron não consiga obter a maioria, ele poderá também tentar formar uma aliança com partidos à direita. Uma nova coalizão poderia levar à saída de alguns membros de seu gabinete, apesar de uma recente remodelação após as eleições presidenciais.

Economia e reformas são temas-chave

A Nupes está tentando aproveitar a insatisfação do público com os programas de Macron para questões econômicas e domésticas.

O presidente francês chegou ao poder em 2017, propondo o que ele considera uma reforma tardia no estado de bem-estar social da França, sendo sua proposta principal aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos, alinhando-a à idade mínima de muitas economias comparáveis.

Macron argumenta que o sistema previdenciário atual é insustentável, especialmente diante do envelhecimento da população. Mas ele teve que recuar desse plano em seu primeiro mandato, devido a grandes protestos e greves. Uma promessa central de sua campanha à reeleição neste ano era implementar a mudança na idade mínima de aposentadoria. A Nupes, por sua vez, está propondo reduzir a idade da aposentadoria para 60 anos. 

As pressões inflacionárias dos últimos meses também deram um novo impulso à plataforma de Mélenchon, que tem 70 anos e saiu do Partido Socialista em 2008 para formar um partido de perfil populista de esquerda.

Embora a postura de Mélenchon tenha sido suavizada por seus novos parceiros mais centristas, ele há muito tempo se opõe à participação da França na Otan e na União Europeia. A Nupes ainda faz referência às ambições do partido de Mélenchon de reverter partes das normas da União Europeia e de deixar a Otan em algum momento.

bl (AFP, dpa, Reuters)