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Diversão no escuro

Simone de Mello31 de janeiro de 2003

Uma nova forma de entretenimento leva as pessoas a se colocarem na posição dos cegos. Além do restaurante, onde se pode jantar no escuro, o unsicht-Bar de Berlim cria o primeiro programa de variedades às cegas.

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Unsicht-Bar, uma casa noturna incomum em BerlimFoto: AP

Todos os dias, as pessoas consomem uma quantidade inimaginável de informações com os olhos. Sobretudo diante da propagação das novas mídias, imagens invadem o cotidiano das pessoas por todos os canais, tornando-as cada vez mais centradas na visão, em detrimento dos outros sentidos.

A crítica da mídia sempre reagiu ao rolo compressor das imagens, justificando – sobretudo após a democratização dos meios televisivos – que o consumo de imagens prontas bloqueia a imaginação. Mesmo que este não seja o caso, é praticamente impossível encontrar formas de entretenimento que não sejam centradas nas imagens.

Jantar sem luz de velas

A iniciativa unsicht-Bar, existente na Alemanha (Berlim e Colônia) e na Suíça, rompe esta regra, despertando a consciência de que a percepção de si mesmo e do ambiente pode ser muito mais intensa às cegas. Em cooperação com a Associação de Ajuda aos Cegos, o unsicht-Bar (um jogo com as palavras "invisível" e "bar") oferece em seus restaurantes um jantar sem luz de velas, na absoluta escuridão.

Quem vai ao unsicht-Bar na esperança de que o ragout de frango tenha um gosto mais intenso no breu, não vai se decepcionar. Só que primeiro terá que superar dificuldades primárias, tateando a comida com a ajuda de mãos e talheres, e reparando possíveis desastres com auxílio do guardanapo.

O unsicht-Bar de Berlim acabou de expandir a idéia com um teatro-bar, onde o público é conduzido até uma sala absolutamente escura por guias cegos. Com um programa que inclui poemas de Rilke até canções de Kurt Weill, passando por esquetes humorísticos e pelo jazz, os entertainers tentam refletir sobre a comunicação por imagens verbais, às cegas. Com os mais diferentes aromas, estimulam os sentidos adormecidos dos ex-espectadores.

A realidade dos cegos

O projeto foi iniciado em colaboração com a Associação de Ajuda aos Cegos, que – com centrais de informação, oficinas de artesanato, impressão de livros em braile e distribuição de audiolivros – tenta abrir mais espaço para os cegos no mercado de trabalho. Na Alemanha, 25 mil pessoas ficam cegas a cada ano. Mil e quinhentos moram na capital. O unsicht-Bar de Berlim emprega 20 cegos.

Além de oferecer emprego, o unsicht-Bar proporciona a quem enxerga (e sabe ouvir) uma troca mais direta com os cegos. Uma das guias do unsicht-Bar, acostumada a ser tratada com dó pelas pessoas, percebe que o público sai das apresentações com a impressão de que "ser cego não é tão mal assim como se pensa". Por fim, uma situação social em que a distinção entre deficientes ou não deficientes não tem a mínima importância, acaba mudando também a forma de tratamento.

O unsicht-Bar faz parte de uma série de alternativas de entretenimento que procuram atrair público com originalidade, sejam bares com máscaras de oxigênio ou piscinas públicas com instalações sonoras e visuais. Para quem quer "ver e ser visto", o unsicht-Bar – por incrível que pareça – também é um bom endereço.

Ao se acenderem as luzes, depois do espetáculo, acaba-se a ilusão do espaço apenas imaginado, mas – em compensação – pode ser boa a surpresa de ver os vizinhos de mesa, com os quais foram trocadas algumas palavras e cotoveladas sem querer durante a noite.