Depois dos Jogos
25 de agosto de 2008DW-WORLD.DE: Os Jogos Olímpicos tiveram o propósito de levar os direitos humanos à China. Sob esta perspectiva, os Jogos foram uma farsa?
Herta Däubler-Gmelin: Eu jamais relacionei esta pretensão aos Jogos Olímpicos. Acho que o aumento das atenções mundiais deveria também ser usado para aprender mais sobre a China e lembrar Pequim que em todo o mundo os direitos humanos fazem parte de uma sociedade democrática e estável. Vendo desta forma, houve aspectos positivos e também déficits. Mas para mim é importante que, com o fim dos Jogos Olímpicos, a questão dos direitos humanos não volte a desaparecer da pauta.
Em 1968, houve uma lendária cena durante os Jogos, quando esportistas chamaram a atenção para o movimento dos direitos civis dos negros. A senhora gostaria que tivesse havido mais ações de solidariedade ou manifestações dos atletas?
Considerei uma grande vergonha para os Estados Unidos e para o Comitê Olímpico Internacional (COI) o fato de, em 1968, os três atletas que fizeram no pódio a saudação do Movimento Pantera Negra terem sido praticamente excluídos dos Jogos e suas medalhas retiradas.
Por isso também não devemos nos admirar que não tenhamos visto isso agora de esportistas que se prepararam durante quatro anos para participar e ganhar nos Jogos Olímpicos. Também acho que não se podem sobrecarregar os atletas com expectativas. Isto é assunto para a imprensa e os políticos. Ambos têm de cumprir esta responsabilidade, ao mesmo tempo em que advertem o COI e os patrocinadores para que sejam cautelosos, não só antes, como também após os Jogos Olímpicos.
Como a senhora pretende contribuir com isso no cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos do Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão)?
Estaremos em Pequim em outubro e iremos observar com atenção a situação dos direitos humanos. Eu sou contra o uso do "dedo em riste": os que fazem isso contra Pequim não o fazem para outras grandes potências. Deveríamos cobrar a questão dos direitos humanos clara e insistentemente, também como ativistas dos direitos humanos e como políticos.
Quando for à China em outubro: como pretende exercer maior influência sobre o governo chinês em relação aos temas: direitos humanos, proteção de minorias, democratização ou Estado de direito?
O problema é que o "dedo em riste" não é bem-visto por ninguém. Isso vale também para o senhor Schäuble [ministro alemão do Interior] e para os direitos humanos dos estrangeiros que vivem sem documentos na Alemanha. Mas podemos tocar diretamente no assunto e deixar claro que prestamos atenção nisso.
Mas é recomendável sempre também ver os progressos obtidos. E direitos humanos são também os direitos humanos sociais, isto é, o direito a educação, atenção médica e superação da pobreza.
Seria benéfico para os direitos de liberdade – campo em que a China ainda tem muito a fazer – se reconhecêssemos progressos chineses no tocante aos direitos humanos sociais nos últimos anos.
Os Jogos Olímpicos despertaram a atenção para os direitos humanos na China. O tema ainda vai interessar alguém daqui a seis meses?
Esta questão atinge os jornalistas. O que fizemos – e eu mesma o faço regularmente desde 1991 não apenas na China, mas também em outros países – naturalmente terá continuidade e já podemos verificar progressos. Isso os próprios atingidos dizem claramente. Acredito que agora seja importante a classe política dar ênfase aos que cobram os direitos de liberdade, mas também reconhecer que muita coisa foi e é feita. E aí podemos muito bem fazer um elogio à organização dos Jogos e aos esportistas chineses. Isso ajuda nas relações com a China e também os direitos humanos.
Herta Däubler-Gmelin é, desde 2005, presidente da Comissão de Direitos Humanos e de ajuda humanitária no Parlamento alemão. De 1998 a 2002 ela foi ministra alemã da Justiça.