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Dialeto alsaciano busca reconhecimento

Andreas Noll7 de julho de 2016

Lutas entre França e Alemanha deixaram marcas profundas. Após a Segunda Guerra Mundial, muitas famílias que moravam na fronteira se recusaram a transmitir aos filhos um idioma com sonoridade tão alemã.

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Frankreich Strasbourg Stadtansicht Münster
Vista de Estrasburgo, na AlsáciaFoto: Getty Images/AFP/F. Florin

Na França, a proteção às minorias linguísticas está ancorada na Constituição deu um impulso aos idiomas regionais, como o alsaciano. Uma associação de Estrasburgo denominada Junge fers Elsassische (Jovens pelo Alsaciano, em grafia dialetal) até passou a oferecer encontros e aulas no dialeto.

A professora Bénédicte Keck começou a primeira aula se apresentando em alsaciano – com uma cegonha na mão, o símbolo da Alsácia. Para os alunos, foi o sinal para falar o dialeto. Todos respondetam em coro: Gute Morje!, em vez do bom-dia em alemão Guten Morgen!

Aproximadamente um terço da população da Alsácia ainda fala esse idioma aparentado com o alemânico e o francônio. Mas são sobretudo as pessoas mais velhas que cultivam o dialeto. Os mais jovens costumam fazer os cursos por mera curiosidade. Outras motivações são o interesse por línguas ou a convicção de que o aprendizado de idiomas significa um enriquecimento cultural para a pessoa.

Para os franceses, é difícil aprender a gramática e a pronúncia do dialeto alemão. Além disso, as línguas minoritárias sempre foram vistas com ressalvas na França, uma tendência que prossegue até hoje.

Lutas ideológicas

Durante muito tempo, o Estado francês tratou as regiões do país com certa reserva, temendo o separatismo. O idioma alsaciano sofreu especialmente com isso, explica o diretor do Escritório da Língua e da Cultura da Alsácia, Justin Vogel.

Elsässer Flammkuchen
Flammkuchen é um prato típico da regiãoFoto: picture-alliance/Bildagentur Huber

Após a Segunda Guerra, os escolares foram proibidos de falar alsaciano na escola. O próprio Vogel foi punido na época, por ter ousado falar algumas palavras do dialeto alemão no pátio da escola. "Eu tive que subir numa escada e cantar o hino nacional francês para cem alunos", recorda.

As lutas ideológicas deixaram marcas profundas. Após a Segunda Guerra, diversas famílias se recusaram a transmitir aos filhos um idioma com sonoridade tão alemã.

Ainda há cerca de 150 mil alsacianos que falam praticamente só dialeto. Mesmo assim, em cidades grandes como Estrasburgo, há poucas lojas onde vendedor e cliente falam espontaneamente o alsaciano.

Justin Vogel usa uma andorinha na lapela. O símbolo, avistado com frequência nos "oásis" do dialeto, significa simplesmente que ali se fala alsaciano.Vogel tenta, com muita paciência e dinheiro, incentivar o uso do alsaciano na vida pública.

"O fato de os alsacianos falarem seu dialeto os leva a reconhecer de onde vêm. Acredito que cabe a nós lembrar as pessoas de que a língua faz parte de suas raízes e de sua cultura, além de ser uma pequena parte de sua alma", comenta Vogel.