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Cuba dá calote no Brasil

21 de dezembro de 2018

Cubanos pagam apenas parte de parcela de US$ 8 milhões que venceu em junho. Valor foi emprestado pelos brasileiros para financiar construção de porto e compra de alimentos.

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Porto de Mariel, em Cuba
Dívida total de Cuba com o BNDES para a construção do Porto de Mariel é de 597 milhões de dólaresFoto: Reuters

Parte da dívida milionária que Cuba tem com o Brasil entrou em default esta semana, ou seja, o governo da ilha caribenha deu um calote em uma das parcelas que deveria quitar com os brasileiros este ano.

Segundo a Agência France-Presse, o governo cubano pagou apenas 2 milhões de uma parcela de 8 milhões de dólares de financiamentos contraídos com o BNDES e com o Programa de Exportação (Proex) do governo federal. Assim, 6 milhões de dólares deixaram de ser pagos.

A parcela deveria ter sido paga integralmente em junho. Passados mais de seis meses, diplomatas brasileiros passaram a considerar Cuba inadimplente e solicitaram que o Tesouro brasileiro – que é garantidor de parte do empréstimo –  cubra o prejuízo com o BNDES.

Outras parcelas correspondentes ao período de junho a novembro também estão atrasadas. E é possível que a União também tenha que cobrir o prejuízo se os cubanos não pagarem mais esses atrasados nos próximos meses. Ao final de dezembro, o valor das parcelas em atraso em 2018 deve passar dos 100 milhões de dólares.

A maior parte dos 6 milhões de dólares que entraram no calote já declarado tem como origem o financiamento das obras do Porto de Mariel, um negócio que foi promovido durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Outra parte se refere a financiamentos com o Proex para comprar alimentos do Brasil.

A dívida total de Cuba com o BNDES para a construção do Porto de Mariel é de 597 milhões de dólares, que foram divididos num prazo de 25 anos. Com o Proex, a dívida total é de 100 milhões de euros. Em 2019, está previsto que os cubanos paguem mais 70 milhões de dólares apenas para o BNDES.

Em relação às dívidas com o Proex, os financiamentos não possuem um seguro. Os recursos foram disponibilizados diretamente pelo Tesouro.

Neste caso, Cuba deverá ser impedida de receber novos créditos para a compra de alimentos até que a dívida seja paga. Isso não impede, no entanto, que os cubanos façam transações à vista diretamente com produtores brasileiros. Segundo o Itamaraty, os cubanos já tem feito isso nas últimas semanas.

Em setembro, uma missão brasileira foi a Havana para tentar negociar uma solução para que os pagamentos fossem retomados. Oficialmente, os cubanos alegaram que a ilha estava enfrentando dificuldades financeiras por causa do embargo americano e da passagem do furacão Irma.

Os cubanos também propuseram reescalonar as dívidas de 2018 e 2019 e retomar os pagamentos até meados de 2019, mas a proposta nunca foi formalizada. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, uma carta com a proposta nunca foi enviada.

Ainda de acordo com o jornal, na semana passada, diplomatas brasileiros tentaram mais uma vez pressionar Cuba, informando que, sem o pagamento da parcela de junho, a ilha entraria em default. Os cubanos não responderam.

Com a oficialização do calote, Cuba pode passar a enfrentar condições mais difíceis para obter financiamento externo. Isso porque o Brasil deve informar organizações internacionais sobre o não pagamento da dívida, incluindo o Clube de Paris, um fórum internacional de grandes credores para a restruturação de dívidas de países.

Em crise desde a dissolução da União Soviética, em 1991, a ilha comunista vinha contando nos últimos anos com ajuda do regime chavista da Venezuela. Mas a crise da Venezuela vem se refletindo também na economia cubana.      

Desde 2016, as relações entre Brasil e Cuba vêm se deteriorando. O processo de impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff foi alvo de críticas ferozes por parte da ilha. O ex-ditador Raúl Castro também chegou a afirmar no final de 2016 que não reconhece o governo Michel Temer.

Após a eleição de Jair Bolsonaro, a relação registrou mais um ponto baixo quando os cubanos anunciaram unilateralmente a retirada de seus profissionais do programa Mais Médicos. Mais de 8 mil médicos cubanos acabaram deixando o Brasil após a decisão cubana. No último fim de semana, a equipe de transição de Bolsonaro também desconvidou representantes do governo cubano para a cerimônia de posse do presidente eleito no dia 1° de janeiro.

JPS/afp/ots

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