Crise na esquerda alemã tem novo capítulo
18 de agosto de 2024A dois meses da convenção partidária e a poucas semanas das eleições regionais em três estados do leste da Alemanha, os co-líderes do partido A Esquerda Janine Wissler e Martin Schirdewan anunciaram neste domingo (18/08) sua saída do cargo.
A decisão da dupla, que comandava o partido desde 2022, é mais um capítulo na derrocada d'A Esquerda, que começou em 2021, quando a sigla driblou a cláusula de barreira por muito pouco e elegeu apenas 39 parlamentares ao Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão), 30 a menos que em 2017.
Mas se naquele ano A Esquerda ainda tinha a preferência de 4,9% do eleitorado alemão, nas eleições de 2024 ao Parlamento Europeu esse índice caiu para 2,7%.
Disputas internas têm enfraquecido ainda mais o partido, que no ano passado perdeu uma de suas maiores estrelas: a populista Sahra Wagenknecht, que criou sua própria sigla e amealhou 6,2% dos votos para o Parlamento Europeu.
A legenda também terá mais uma prova de fogo nas eleições regionais da Turíngia e Saxônia, ambas em 1º de setembro, e em Brandemburgo, em 22 de setembro. Os três estados alemães da antiga República Democrática Alemã (RDA) costumavam ser redutos eleitorais da Esquerda. Na Turíngia, em 2019, eles ainda conseguiram eleger o governador, Bodo Ramelow, com 31%, mas neste ano devem ter apenas metade disso. Já na Saxônia e em Brandemburgo, as pesquisas apontam para um cenário com 5%.
Apelo por fim de "política de poder meio destrutiva"
"Percebo que em partes do partido há um desejo por um recomeço", disse Wissler em comunicado em que justifica a renúncia da dupla. Segundo ela, o momento do anúncio dá ao partido tempo suficiente para preparar a escolha de um novo comando.
"Deem aos que vão assumir o controle em breve a chance e a confiança para que possam liderar o partido. Para isso, é preciso acabar com a política de poder meio destrutiva em nossos próprios escalões", apelou Schirdewan.
O próprio Schirdewan já havia reconhecido antes o mau desempenho da sigla na eleição ao Parlamento Europeu, em junho deste ano. "Sem dúvidas, foi uma droga. Não dá para esconder isso", disse recentemente em mea culpa ao jornal Tagesspiegel. Na ocasião, ele já havia sinalizado que estava refletindo sobre se continuaria ou não a dirigir o partido.
ra (dpa, AFP, Reuters)