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Corpos se acumulam em pátio do necrotério de Mykolaiv

16 de março de 2022

Em localização estratégica, cidade no sul da Ucrânia é alvo de constantes bombardeios, mas moradores se recusam a capitular.

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Homens colocam corpo no pátio do necrotério de Mykolaiv
Com instalações lotadas, corpos são armazenados no pátio do necrotério de MykolaivFoto: BULENT KILIC/AFP/Getty Images

No necrotério de Mykolaiv, corpos embrulhados em sacos cinzas se acumulam no chão do pátio e vão sendo cobertos pela neve enquanto aguardam para serem liberados. O local não tem mais espaço para armazenar os mortos dentro de suas instalações. A cidade portuária no sul da Ucrânia está sob ataque russo há dias. Apesar dos bombardeios constantes, seus moradores se recusam a se entregar.

As imagens do necrotério lotado revelam os horrores dos constantes bombardeios em Mykolaiv. Enrolados em lençóis, tapetes, sacos ou sem nada, corpos se acumulam no chão por falta de espaço em corredores, escritórios e no pátio. Entre os mortos há civis e soldados. Médicos realizam autópsias em condições de higiene questionáveis.

Segundo o jornal The New York Times, os corpos estão sendo liberados para as famílias no estado em que chegam – manchados de sangue, com uniformes rasgados. Alguns aguardam há duas semanas pela liberação.

"Nunca vi uma coisa dessas. Achávamos que a pior coisa que poderia acontecer conosco eram acidentes de carro", afirma Vladimir, um funcionário do necrotério, à agência de notícias AFP. "Eles são tão jovens, mais novos que o meu sobrinho", comenta ao mostrar um cômodo com cerca de 30 corpos empilhados.

Prédio residencial atingido por míssil em Mykolaiv
Bombardeios são diários em MykolaivFoto: Ukrainian State Emergency Servic/UPI/IMAGO

No fundo da sala, há um soldado russo. "Nós os mantemos separados", conta Vladimir.

Cidade estratégica

Mykolaiv e seu entorno são palco de intensos combates, mas os moradores têm resistido e tropas ucranianas conseguiram retomar o aeroporto local que havia sido ocupado por russos. Como a última grande cidade antes de Odessa – sede da Marinha ucraniana e do maior porto do país –, possui uma posição estratégica vital, além da única ponte ao sul do rio Bug em quilômetros. Pilhas de sacos de areia com manequins como chamarizes foram colocadas em postos de controle.

Uma parede alta, formada de saco de areia, protege um centro de apoio militar. "Coletamos tudo aqui, de comida passando por roupas e equipamentos militares. Queremos ajudar nossos soldados porque os russos invadiram nossa casa e nós vamos protegê-la até o final", disse o voluntário Rodyn Lavrushin à agência de notícias AP, mostrando em seguida caixas lotadas de coquetéis molotov.

"O que está acontecendo agora em Mykolaiv não pode ser descrito em palavras. Somos bombardeados dia e noite. Somos cidadãos pacíficos. É um pesadelo o que a Rússia está fazendo na Ucrânia", afirmou Svetlana Gryshchenko, moradora da cidade. Ela conta que seu filho de 24 anos, que era soldado, foi morto no dia 26 de fevereiro na região de Donetsk.

Infografik Karte Ukraine mit größeren Städten PT

A vida na cidade tenta seguir seu cotidiano. A coleta de lixo segue normalmente, moradores limpam escombros de residências atingidas por bombas, o governador regional divulga diariamente mensagens de vídeo otimistas, cheias de ânimo e esperança, enquanto coordena a defesa de Mykolaiv, de acordo com uma reportagem do The New York Times.

Crianças entre as vítimas

A diretora do instituto forense de Mykolaiv, Olga Dierugina, conta que recebeu 120 corpos desde o início da guerra, em 24 de fevereiro. Desses, 80 eram de soldados e 30 de civis. Entre as vítimas, a mais nova era uma criança de apenas três anos e a mais velha tinha cerca de 70 anos.

Amostras de DNA estão sendo recolhidas para identificar alguns corpos, principalmente os das 19 vítimas de um bombardeio em Otchakiv. Os corpos de soldados são repatriados para sua região de origem. "Eles são muito jovens, nasceram nos anos 1900 e 2000", conta Dierugina.

Ao ser questionada como se sente, após um silêncio, ela disse ter medo. Dierugina conta que 15 de seus colegas fugiram para o oeste, mas cerca de 60 funcionários continuam trabalhando no instituto forense e no necrotério.

Ela acrescenta que a situação ainda está sob controle em Mykolaiv. "Mas estamos indo direto para um desastre humanitário se isso continuar".

cn/bl (Afp, AP, ots)