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Coreia do Norte deixa mísseis balísticos de lado em desfile

9 de setembro de 2018

Em parada militar para comemorar 70º aniversário do país, regime foca objetivos econômicos. Exibir mísseis balísticos intercontinentais poderia ser visto como provocação pelos EUA, que exigem desnuclearização.

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Desfile militar em Pyongyang
Milhares de soldados participaram do desfile em PyongyangFoto: Getty Images/AFP/E. Jones

A Coreia do Norte realizou um grande desfile militar neste domingo (09/09), em comemoração ao 70º aniversário da fundação do país, com milhares de soldados seguidos de tanques marchando pela capital Pyongyang. Desta vez, o regime norte-coreano não exibiu mísseis balísticos intercontinentais ou de médio alcance, os quais motivaram uma série de sanções internacionais contra o país.

Em vez de mostrar a Coreia do Norte como potência nuclear, grande parte do evento foi dedicada a destacar os esforços da população para desenvolver a economia doméstica. No discurso de abertura do desfile, o presidente do Parlamento norte-coreano, Kim Yong-nam, enfatizou os objetivos econômicos do regime, definidos como prioridade no momento.

Os únicos mísseis exibidos desta vez – os quais costumam ser o clímax dos desfiles militares no país – foram dispositivos de pequeno alcance para serem usados no campo de batalha, um míssil de cruzeiro e um míssil de superfície-ar.

Dezenas de milhares de norte-coreanos segurando buquês de flores de plástico coloridas e bandeiras do país lotaram a praça Kim Il-sung no início da parada militar. Os moradores de Pyongyang foram treinados durante meses para o 70º aniversário do país. Eles entoaram o slogan "vida longa" ao líder do país, Kim Jong-un, e marcharam após os soldados pela capital.

Kim assistiu ao desfile pela manhã, mas não falou à multidão presente, que incluiu o presidente o presidente do Parlamento chinês, Li Zhanshu. Kim destacou sua amizade com a China ao levantar a mão de Li – enviado do presidente chinês, Xi Jinping – perante a plateia. A ausência de Xi pode ser um indicativo de que Pequim ainda tem reservas quanto às iniciativas de Kim para desnuclearizar o país.

Participantes do desfile acenaram com flores e bandeiras ao passarem por Kim
Participantes do desfile acenaram com flores e bandeiras ao passarem por KimFoto: Getty Images/AFP/E. Jones

Convites diplomáticos foram enviados a vários países, mas o único chefe de Estado que compareceu foi o presidente da Mauritânia, Mohamed Ould Abdel Aziz. Apesar de não estarem presentes, Xi e o presidente russo, Vladimir Putin, enviaram mensagens de parabéns a Kim pelo 70º do país, informou a agência estatal de notícias KCNA.

Xi destacou a "política inabalável" do seu país para melhorar as relações com a Coreia do Norte. Putin, por sua vez, sublinhou na mensagem enviada a Kim a importância de aprofundar os laços bilaterais e promover a paz na região.

Impasse com os EUA

A República Popular Democrática da Coreia, nome oficial da Coreia do Norte, foi fundada em 9 de setembro de 1948. Datas como essa são importantes no calendário político norte-coreano e há anos são usadas como oportunidade para demonstrar progressos na busca do país por um míssil capaz de transportar uma ogiva nuclear para os Estados Unidos.

Apesar de a Coreia do Norte realizar desfiles militares quase todos os anos – sendo que o mais recente ocorreu em fevereiro deste ano, antes do início dos Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul -, a parada deste domingo foi realizada num momento particularmente sensível para o país.

O desfile militar, que durou cerca de uma hora e meia, foi o primeiro desde que Kim e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinaram em junho uma declaração conjunta em Cingapura, prometendo trabalhar para a desnuclearização do regime de Pyongyang.

Grupo de estudantes foi um dos que integraram desfile em Pyongyang
Grupo de estudantes foi um dos que integraram desfileFoto: Getty Images/AFP/E. Jones

Os esforços de Kim para amenizar as tensões com Trump estão estagnados desde então. Washington exige que Pyongyang de fato se comprometa com a desnuclearização, enquanto o regime norte-coreano quer que antes sua segurança seja garantida e que seja assinado um tratado de paz finalmente encerrando a Guerra da Coreia, encerrada somente com um armistício, em 1953.

Apesar de ter prometido desnuclearizar a península, Pyongyang ainda não declarou publicamente sua disposição de abrir mão das armas desenvolvidas durante décadas, a um enorme custo político e financeiro. Imagens de satélite obtidas por agências de inteligência dos EUA em julho sugeriram que a Coreia do Norte continua construindo mísseis.

Segundo um relatório confidencial das Nações Unidas revelado no início de agosto por veículos de imprensa dos Estados Unidos, o regime da Coreia do Norte continua desenvolvendo programas nucleares e de mísseis, o que representa uma violação das sanções internacionais impostas ao país.

Aviões coloriram os céus com as cores da bandeira norte-coreana
Aviões coloriram os céus com as cores da bandeira norte-coreanaFoto: picture-alliance/AP Photo/K. Cheung

Com as tensões aumentando novamente após sinais de aproximação, um desfile militar exibindo mísseis balísticos intercontinentais – que ao serem testados irritaram Trump no ano passado e resultaram num perigosa troca de insultos entre ambos os líderes – poderia ser visto como uma provocação.

De 18 a 20 de setembro, Kim deve se reunir com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em Pyongyang. Moon também deseja uma reaproximação entre Pyongyang e Washington, para que possa realizar seus ambiciosos planos econômicos intercoreanos, e as conversações bilaterais devem se centrar no desarmamento nuclear.

LPF/efe/lusa/ap/afp

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