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Crime e etnia

Jane Paulick (sm)14 de janeiro de 2009

Conservadores bávaros querem incluir não apenas a nacionalidade, mas também a origem étnica dos criminosos nas estatísticas policiais. A proposta é rejeitada por muitos como populista e manipuladora.

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Teme-se que essa prática possa levar a discriminaçãoFoto: PA/dpa

Na Alemanha, a estatística criminal policial menciona a nacionalidade dos criminosos, mas não sua origem étnica. Uma exceção é Berlim, onde os registros de jovens delinquentes incluem este dado. Em outubro de 2008, os órgãos policiais da capital alemã começaram a listar também a origem étnica de criminosos adultos para testar se a informação poderia ajudar a combater a criminalidade.

Nesta semana, contudo, o social-democrata Ehrhart Koerting, secretário do Interior de Berlim, anunciou que a iniciativa não surtiu resultados satisfatórios e não deverá ser adotada, o que provocou um debate no governo de coalizão da cidade.

Social-democratas e esquerdistas rejeitam essa prática, sobretudo porque é difícil definir etnicidade. "O que não está claro é por quantas gerações os precedentes étnicos teriam que ser registrados", observou Sevim Dagdelen, do Partido de Esquerda, perguntando-se: "Seria o caso de criar um departamento especial para investigar a árvore genealógica das pessoas?"

Mais transparência

No entanto, os conservadores alemães não estão dispostos a esquecer o assunto. Em janeiro, o político social-cristão Peter Ramsauer fez um apelo para incluir a origem étnica nos registros estatísticos criminais de todo o país. Ramsauer, líder da bancada do Partido Social Cristão (CSU) no Parlamento, considera essa informação essencial para uma prevenção criminal eficiente. "Se resolvermos adotar maior rigor contra os criminosos, precisamos saber de onde eles vêm", declarou no início de janeiro.

A proposta tem amplo apoio dentro da União Democrata Cristã (CDU). Os conservadores alegam que um abrangente registro estatístico policial que inclua informações étnicas seria um pré-requisito para uma política transparente.

O político democrata-cristão Sven Petke, de Brandenburgo, declarou ao Handelsblatt que as estatísticas criminais são cada vez menos transparentes, dada a ascensão do número de alemães naturalizados. Entre 2004 e 2007, a porcentagem de criminosos não alemães caiu de 22,9% to 21,4%.

Petke assinalou que o recente crescimento do número de alemães envolvidos no crime organizado simplesmente reflete o fato de que um número crescente de russos está adquirindo a cidadania alemã. "O fato de sua origem étnica não ser incluída nas estatísticas criminais leva a distorções factuais inaceitáveis", ele declarou.

Origens da criminalidade

Migration Zuwanderungspolitik
Procedimento poderia prejudicar integraçãoFoto: AP

A encarregada do governo federal para integração, Maria Boehmer, destaca que o combate à criminalidade requer estratégias mais abrangentes. "Se as múltiplas causas da criminalidade não forem levadas em consideração, essa proposta emite um sinal errado para muitos imigrantes interessados em se integrar", declarou, apontando a importância de precedentes familiares problemáticos ou falta de perspectivas futuras – circunstâncias encontradas tanto em ambientes sociais de alemães como de imigrantes.

A proposta da CSU recebeu críticas de representantes da Agência Federal Antidiscriminação. Um dos argumentos é que fatores como educação e renda são mais relevantes para a compreensão da criminalidade. "[Registrar informações étnicas] seria simplificar e não esclarecer a questão", declarou Barbara John em entrevista ao Welt Online.

"Não seria apropriado modificar a forma de registrar dados criminais sem uma pesquisa aprofundada sobre as origens da criminalidade", explica Boehmer.

Por outro lado, Rainer Wendt, presidente do Sindicato da Polícia Alemã, acredita que a recusa a reconhecer fatores étnicos no combate à criminalidade é contraproducente.

"Consideramos necessário investigar a relação entre os imigrantes e seu senso do que é certo ou errado, a fim de identificar possíveis deficits e eliminá-los com eficiência", declarou ele. "Ignorar essas relações pode levar a um ressentimento em relação às pessoas com precedentes migratórios."

Estigmatização

Contudo, essa informação também poderia levar a práticas discriminatórias e a estigmatização. Uma conseqüência poderia ser um policiamento seletivo, ou seja, uma presença policial mais intensa em certas áreas urbanas ou uma vigilância particular de determinados grupos étnicos.

Wendt admite que a menção de informações étnicas nas estatísticas poderia levar a manipulação. "A informação deveria ser coletada, mas não amplamente divulgada", opina ele. "As informações deveriam ser usadas somente para fins de pesquisa."

Também há quem considere que a proposta da CSU é simplesmente uma tentativa desesperada de conquistar votos em um ano de eleição.