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Comércio e conflito

25 de fevereiro de 2011

A Líbia depende da exploração de petróleo e gás. O país de Kadafi também abriga grandes empresas internacionais e detém investimentos importantes em outros países.

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Produção de petróleo e gás: queda de 6%Foto: AP

A produção de petróleo e gás movem a economia da Líbia. Em tempos normais, o país produz 1,6 milhão de barris de petróleo – o que deixa a Líbia na 17º posição do ranking mundial –, mas a produção caiu 6% desde o início dos confrontos. A queda, no entanto, ainda não é suficiente para impactar a oferta mundial.

Ainda assim, o preço do petróleo está subindo. E o motivo disso é a crescente preocupação de que os conflitos possam se alastrar e chegar, principalmente, à Arábia Saudita – maior exportador mundial de petróleo.

Apesar de produzir o equivalente a 10% da demanda mundial, a Arábia Saudita poderia rapidamente compensar a produção em caso de uma queda significativa da oferta em outras regiões do mundo.

Comércio com a Alemanha

A maior parte do petróleo líbio, 85% exatamente, abastece o mercado europeu: a Itália recebe 22%, enquanto 8% são comprados pelos alemães. No ano passado, a Alemanha gastou 3 bilhões de euros em importação de petróleo e gás, e um bilhão de euros na importação de outros produtos líbios.

O país africano também não deixa de ser importante consumidor de produtos fabricados na Alemanha, que exporta mercadorias avaliadas em um bilhão de euros – sobretudo máquinas para os setores de construção civil, agrícola e químico, além de automóveis e outros veículos. O Estado de Kadafi também compra produtos alimentícios, farmacêuticos e químicos produzidos na Alemanha.

Brasil

Já entre Brasil e Líbia, as trocas comerciais só cresceram nos últimos dez anos. Em 2000, o mercado líbio comprou 45,7 milhões de dólares em produtos brasileiro, já em 2010 esse valor saltou para 456 milhões de dólares.

No ano passado, o Brasil registrou saldo positivo de 355 milhões de dólares na balança comercial com os líbios. Os principais produtos importados pelo país de Kadafi são trigo, a carne bovina e buteno. E o Brasil compra da Líbia principalmente óleos brutos de petróleo.

Empresas estrangeiras

Há muitas empresas estrangeiras ativas na Líbia devido às fortes relações econômicas com o exterior. No setor petrolífero, companhias como Wintershall – subsidiária da alemã Basf –, RWE-Dea, BP, Exxon Mobile, OMV, Shell e StatoilHydro atuam no país.

A italiana Eni compõe o maior consórcio estrangeiro na Líbia. Nesse momento de conflito político, muitos funcionários estrangeiros foram retirados do país, que no momento mantêm apenas um pequeno núcleo de produção.

Existem entre 30 a 40 empresas alemãs atuando na Líbia, principalmente no setor de energia, construção civil e infraestrutura, alimentos e medicina. Fazem parte da lista grandes empresas como Siemens, Ferrostahl e Bilfinger Berger.

Investimentos líbios no exterior

A exploração de petróleo trouxe uma imensa riqueza para a Líbia, que é ex-colônia da Itália, embora a população se beneficie muito pouco desse dinheiro. A Autoridade de Investimento da Líbia (LIA, na sigla em inglês) desfruta de um enorme capital.

Os investimentos da LIA são fortes na Itália, estimulados também pela amizade especial entre o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e Muammar Kadafi. O fundo estatal líbio, juntamente com o Banco Central líbio, detém 7,5% do banco milanês UniCredit sendo o maior acionista estrangeiro.

A LIA possui ainda 2% do consórcio italiano de aviação e armamento Finmeccanica, além de 7,5% do clube italiano Juventus. Segundo a imprensa, 2% da fabricante Fiat também estariam nas mãos do fundo líbio.

No ano passado, Kadafi comprou, por 224 milhões de libras esterlinas, 3% da Pearson, empresa britânica de comunicação da qual faz parte o jornal Financial Times.

Em dezembro, a LIA adquiriu 5% do fundo imobiliário turco Emlak Konut, por meio de oferta pública na bolsa de valores. Há investimentos também na Rússia: 3% do consórcio de alumínio UC Rusal estão nas mãos da Líbia.

Efeitos na economia

Segundo o instituto de pesquisas Ifo, a instabilidade política nos países árabes ainda não representa um problema para o comércio mundial. "Os países afetados têm uma participação relativamente pequena nas trocas comerciais internacionais", avaliou o especialista Klaus Abberger.

Segundo ele, a atual situação não interrompeu o processo de recuperação global. No entanto, isso poderia pode mudar diante de alguns cenários, acrescenta Abberger. Caso seja interrompido o comércio através do canal de Suez, que é estrategicamente tão importante, carregamentos de petróleo e exportações da China não chegariam mais à Europa pela rota marítima mais rápida.

Igualmente problemática seria uma mudança de estratégia dos investidores internacionais, diz Abberger, já que a violência poderia provocar uma maior cautela dos investidores nos países emergentes.

A alta do petróleo pode representar gastos adicionais milionários à economia alemã, advertiu o especialista da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), Felix Neugart. "Uma elevação de preços em 1% custa cerca de meio bilhão de euros para a economia alemã." Se o preço permanecer no nível atual, a Alemanha gastaria aproximadamente 15 bilhões de euros a mais em um ano.

Autoras: Insa Wrede / Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer