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Como encontrar um emprego na Alemanha

Fábio Corrêa
6 de junho de 2023

País está em busca de mão de obra qualificada em diversas áreas para cobrir déficit no mercado de trabalho. Saiba o que é preciso para encontrar uma vaga – e onde buscar apoio.

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Trabalhador faz ajuste em tubulação
Falta mão de obra na Alemanha em diversas profissões, inclusive para pessoas com diploma do ensino técnicoFoto: Imago Images/photothek/T. Trutschel

A Alemanha tem feito esforços, nos últimos anos, para atrair imigrantes estrangeiros como forma de suprir sua demanda por mão de obra. O problema, cada vez mais urgente devido ao envelhecimento populacional e às baixas taxas de natalidade, levou o ministro alemão do Trabalho, Hubertus Heil, a afirmar ao jornal Financial Times que o país europeu terá um déficit de 7 milhões de trabalhadores até 2035 "se nada for feito".

Por esse motivo, uma comitiva do governo alemão aterrissou no Brasil neste domingo (04/06). O grupo, encabeçado por Heil e pela ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, tem como principal tema atrair profissionais brasileiros. Os ministros ficam no país até esta quarta-feira.

Um dos setores que mais atrai mão de obra estrangeira para a Alemanha é o da saúde – a falta de profissionais de enfermagem e cuidadores é tão grave que está levando ao fechamento de algumas clínicas. Mas não para por aí. Há também oportunidades para engenheiros, programadores e especialistas em TI, arquitetos, acadêmicos e professores do ensino fundamental, por exemplo.

Há muitas portas abertas para brasileiros, o que ficou confirmado pela ida da comitiva do governo alemão ao Brasil. Mas, por causa de todo o processo – que pode incluir vistos, reconhecimento de diploma e traduções juramentadas, entre outras burocracias –, o caminho pode parecer tortuoso. Para ajudar os brasileiros interessados em buscar uma chance em terras alemãs, a DW fez um passo a passo do que é preciso saber e de onde buscar apoio.

Quais os vistos possíveis para quem quer trabalhar na Alemanha?

Brasileiros que não tenham dupla nacionalidade europeia precisam de um visto para trabalhar na Alemanha. Para isso, há dois caminhos: o profissional pode conseguir um visto para procurar emprego no país por um máximo de 180 dias, ou viajar para o país europeu após ter recebido uma oferta de emprego ainda no Brasil por um empregador alemão.

Regulamentado por lei em 2020, o visto para procura de emprego exige que o profissional tenha formação acadêmica ou profissional reconhecida na Alemanha. Essa modalidade, no entanto, requer que o interessado comprove possuir R$ 32,7 mil (6.162 euros) para todos os seis meses de busca de emprego. Além, é claro, do comprovante de formação acadêmica.

Já o visto para atividades profissionais requer, primeiramente, que o profissional já tenha uma oferta de trabalho concreta na Alemanha. Para ele, é preciso também ter o diploma reconhecido – um dos passos mais importantes e complexos do processo.

Como comprovar e validar o diploma brasileiro para trabalhar na Alemanha?

Primeiro, é preciso saber se a profissão é reconhecida na Alemanha. Depois, é feita a comparação de carga horária e currículo entre a formação brasileira e no país europeu. Se o interessado tiver um diploma com menos horas teóricas ou práticas que o exigido na Alemanha, isso terá de ser complementado com aulas ou um estágio.

Mas não é só isso. O diploma também precisa ser traduzido para o alemão por um tradutor juramentado no Brasil e apostilado, ou seja, ter um selo que valida a autenticidade do documento.

"Em países que não fazem parte da União Europeia (UE), qualquer profissional qualificado precisa, entre os requisitos básicos de visto, ter o diploma reconhecido na Alemanha. Esse é o primeiro passo", explica Patrícia Caires, diretora de formação profissional da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo. Segundo ela, todo o processo dura em torno de três meses após a entrega dos documentos.

Enfermeira em quarto de hospital olha monitor
Enfermagem é um dos setores nos quais há mais procura por mão de obra estrangeiraFoto: Bernd Weißbrod/dpa/picture alliance

O processo pode ser feito tanto com diplomas de graduação ou de ensino técnico ou profissionalizante. "Existe uma necessidade e demanda nessas áreas técnicas, de ensino profissionalizante – profissionais de elétrica, mecatrônica, motoristas de ônibus e de outros veículos são alguns exemplos de demandas por mão de obra na Alemanha, além da área de saúde", diz Caires. Segundo ela, são cerca de 350 profissões do modelo profissionalizante regulamentadas no país europeu. "Metade disso é muito procurada", diz.

Para ajudar no processo de validação, a Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo oferece, desde 2020, o programa ProRecognition, que é promovido pelo Ministério de Educação e Pesquisa alemão e pela Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DHIK). O projeto orienta gratuitamente e de forma individual o profissional que queira reconhecer o diploma na Alemanha. Após o reconhecimento, o projeto ajuda a encontrar um emprego por meio de agências de trabalho e emprego localizadas na Alemanha. Os requisitos para receber essa orientação são ter uma formação universitária ou técnica completa e conhecimentos básicos de alemão.

É preciso falar alemão para trabalhar na Alemanha?

Há várias respostas para essa pergunta. Em condições ideais, conseguir entender alguma coisa e ser capaz de participar de conversas, mesmo que básicas, no idioma de Goethe, abre muitas portas para o profissional – principalmente nos primeiros contatos com um provável empregador. Para algumas profissões, é também requisitado pelo menos algum nível de proficiência comprovada, por certificados oficiais.

"Recebemos muito essa pergunta – mas precisa mesmo falar alemão? Dá pra se virar com o inglês?", conta Carla Pereira, gerente do projeto Pré-Integração no Brasil do Goethe-Institut. O projeto, que é gratuito e cofinanciado pela União Europeia, auxilia em todos os processos as pessoas que já tenham tomado a decisão de viver na Alemanha, preparando para a vida cotidiana e profissional. O Pré-Integração está aberto a pessoas de todo o país.

Segundo Pereira, o idioma é um enorme facilitador. Em áreas com alta demanda por profissionais, como de tecnologia de informação (TI) e programação, é possível conseguir trabalho sem falar alemão. Isso, no entanto, complica a integração cultural no novo país.

"Se não tiver o alemão ou se predispor a aprender o idioma estando lá, o processo de integração vai ser muito mais difícil – e mesmo a escalada na empresa que você está. Quem faz a escolha de se mudar para a Alemanha sabe que a vida vai ficar muito mais fácil quando puder se comunicar na língua local", diz.

Para a maioria das profissões, a exigência é o nível intermediário do idioma, B1 ou B2, comprovado por meio de certificado oficial de idioma. Já para quem quer trabalhar com ensino, medicina ou direito, o requisito pode chegar ao nível avançado ou fluente (C1-C2). "Embora o inglês seja universal, saber só ele é ruim para a integração. É importante, para quem quer ir para a Alemanha, se inscrever no curso de alemão, tentar aperfeiçoá-lo – por mais que o empregador esteja precisando, é um risco para ele trazer uma pessoa que não tenha esse conhecimento", explica Patrícia Caires, da Câmara Brasil-Alemanha.

Onde procurar um emprego na Alemanha?

Para quem está no Brasil, o próprio governo da Alemanha oferece o site Make it in Germany, com informações e busca de empregos. AAgência Federal de Emprego (Bundesagentur für Arbeit) também tem um site próprio com vagas disponíveis. A União Europeia também oferece um serviço semelhante.

Para os profissionais que se decidirem por buscar emprego após a mudança para a Alemanha, há também feiras de emprego e agências de trabalho. No entanto, é preciso ficar ligado para não cair em "contos do vigário". "Tem muita agência recrutadora que não é séria. Por isso, procuramos informar as pessoas para que elas sigam com segurança na busca delas", explica Carla Pereira, do Projeto Pré-Integração.

Para o capixaba Gustavo Sopeleto, de 37 anos, a busca aconteceu por meio de contatos de trabalho. Profissional da área de TI, ele se mudou com a esposa para Berlim em março de 2022, após conseguir uma vaga ainda no Brasil.

Segundo ele, que morava em São Paulo, o processo seletivo durou um mês. Depois, para completar a parte burocrática, com tradução e apostilamento do diploma até chegar ao visto, foram outros três meses. Após chegar na capital alemã, Gustavo teve problemas de adaptação no primeiro emprego. No entanto, sete meses depois, ele conseguiu uma colocação em outra empresa.

"Segurança, qualidade de vida, o ambiente da cidade – é outro nível. Gosto muito de São Paulo, mas lá não se tem a liberdade de sair à noite como aqui. O transporte público de Berlim também é muito bom. Brinco que o ônibus aqui abaixa para você subir. Além disso, a cidade tem parques, lagos, canais com florestas", conta Gustavo.

Links úteis

Como se candidatar a um trabalho na Alemanha?