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ConflitosÍndia

Como a guerra na Ucrânia aproxima ainda mais Rússia e Índia

4 de março de 2023

Governo indiano se recusou a aderir às sanções ocidentais contra Moscou e agora o país importa mais petróleo bruto da Rússia do que nunca. No entanto, relação política e econômica entre os dois países vem da Guerra Fria.

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Modi, ao lado de uma bandeira indiana, aperta a mão de Putin, ao lado de uma bandeira russa
Primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e presidente russo, Vladimir Putin, em encontro em setembro de 2022Foto: Alexandr Demyanchuk/SPUTNIK/AFP

A Rússia é um inimigo? Não na Índia, onde o país é visto como um valioso parceiro político e econômico. 

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, o relacionamento até ganhou mais ritmo. A Índia se recusou a aderir às sanções do Ocidente contra Moscou e agora o país está importando mais petróleo bruto da Rússia do que nunca. Este foi um dos fatores determinantes para a recente visita oficial do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, à Índia.

De acordo com o Ministério do Comércio e Indústria da Índia, a Rússia se tornou a quarta maior fonte de importações do país no ano passado. De abril a dezembro de 2022, as importações totalizaram 32,8 bilhões de dólares, ante 6,58 bilhões de dólares no mesmo período de 2021 - um aumento de 498%.

A Índia comprou "muito petróleo, converteu em produtos petrolíferos refinados e vendeu", disse o secretário de Comércio da Índia, Sunil Barthwal, ao portal Nikkei Asia.

"Gostaria de esclarecer que não pedimos às nossas empresas que comprem petróleo russo", disse o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, ao Parlamento indiano em dezembro. "Pedimos que comprem a melhor opção. Agora, depende do que o mercado apresentar", destacou.

Como parte das sanções globais à Rússia, um novoteto de preço foi imposto ao petróleo russo, que entrou em vigor em 5 de fevereiro de 2023. Para a Índia, terceiro maior consumidor de petróleo do mundo, essa redução faz uma grande diferença.

Isso traz múltiplos benefícios para o governo. Como a Índia importa mais de 80% de seu petróleo bruto, o limite significa que ela pode reduzir os custos de energia. Além disso, ao recorrer ao petróleo russo, a Índia pode diminuir sua dependência do Oriente Médio, que costumava ser a fonte de cerca de 60% das importações de petróleo do país.

Negociações de armas durante a Guerra Fria

A relação econômica e política entre a Rússia e a Índia, ambas potências nucleares, não se baseia apenas no interesse mútuo em relação ao petróleo. Também remonta a uma cooperação de longa data durante a Guerra Fria.

A  então União Soviética (URSS) forneceu armas à Índia por décadas e treinou as forças indianas sobre como usá-las. A Índia obteve três quintos de suas armas da URSS entre 1955 e 1991, mostra a análise do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês).

De acordo com a Air University, instituição no estado americano do Alabama que fornece educação militar para a Força Aérea dos EUA, a cooperação militar entre Índia e Rússia continua significativa.

"A extensão do armamento russo no exército indiano criou dependências e confiança", diz um artigo no Journal of Indo-Pacific Affairs, publicado pela universidade. A dimensão e importância das contribuições russas para o arsenal militar indiano há muito têm sido subestimadas, escrevem os autores. A relação com os EUA, por outro lado, que fornecia armas ao Paquistão, um inimigo da Índia, era distante.

Além disso, por muitos anos, a economia soviética foi considerada pela Índia como um modelo de desenvolvimento econômico, anticolonialismo e de redução bem-sucedida da pobreza. Somente após o fim da URSS o país se abriu lentamente para a economia global.

Yury Malshev e Rakesh Sharma com roupas de cosmonautas rodeados de repórteres
Em 1984, o indiano Rakesh Sharma (E) e o soviético Yury Malyshev eram membros da tripulação internacional da Soyuz T-11Foto: Alexander Moklesov/SNA/IMAGO

Aproximação com os EUA

Em 2005, sob a presidência de George W. Bush, os EUA se referiram à Índia como um "aliado natural" com "valores compartilhados", que se tornaria "uma grande potência mundial no século 21" com o apoio americano. 

É esta aspiração de ser um player global líder que explica porque a Índia, apesar de sua nova parceria com os EUA, tem continuado a cooperar com a Rússia como parte de várias instituições, como a Organização de Cooperação de Xangai (OCX), o Brics (composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e o agrupamento Rússia-Índia-China (RIC).

Parceria sólida

"A parceria russo-indiana continuará", escreveram Rajan Menon e Eugene Rumer, do think tank americano Carnegie Endowment for International Peace, em setembro do ano passado. 

"Para a Índia, a Rússia continua sendo um importante fornecedor de armas. A Índia não aderiu às sanções do Ocidente contra a Rússia. Ao fazer isso, demonstrou sua política externa independente", destacaram. 

"Aprimorar a cooperação comercial e econômica entre a Índia e a Rússia é uma prioridade fundamental para a liderança política de ambos os países", afirmou a embaixada da Índia em Moscou em um briefing de 2022 sobre as relações econômicas entre os dois países.

No entanto, também é verdade que, antes do aumento das importações de petróleo da Rússia, a cooperação econômica entre os dois países estava estagnada em um nível bastante baixo, com a Rússia raramente chegando ao top 25 dos parceiros comerciais da Índia entre 2012 e 2021. A Alemanha, em comparação, ficou em sexto lugar em 2012, mas caiu para a 11ª posição em 2021.